Epílogo - Nove

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Cadu sobe as escadas vagarosamente para não derramar a bebida quente que estava em uma caneca, no prato em sua outra mão carrega pães de queijo quentinhos que havia assado no forno, outrora estavam no freezer, mas pronto para assar, certamente seu pai que comprara e colocara lá.

Entrou em seu quarto de costas empurrando a porta com o quadril, colocou a caneca quente na pequena cômoda ao lado da cabeceira junto com o prato repleto de mini pães de queijo. Foi até a cortina a arregaçou a mesma fazendo a claridade invadir e despertar José.

— Que porra! — reclamou José escondendo o rosto assustado ao acordar.

— Te preparei um café... Bom não é bem um café, mas é o leite com achocolatado e canela e ovo cru que ama.

José o olhou e deu um leve riso.

— O que foi?

— A ultima vez que fez gemada ficou horrível.

Cadu tossiu um riso, os dois riram.

— Vai lavar o rosto e escovar os dentes. Volte aqui para provar...

— Certo mamãe — brincou José .

Jose se levantou e caminhou rumo ao banheiro, também estava com muita vontade de urinar.

Cadu olhou sua estante de livros, passou os dedos por eles de leve sujando as pontas dos dedos de pó, gostava tanto de ler quando mais novo. Qual era seu favorito? Fazia tanto tempo que não lia como antes, entre os livros um álbum, mas não ele não estava preparado para ver fotos de sua falecida mãe. Puxou com os dedos mas ao se dar conta de que podia ver lembranças de sua mãe colocou o álbum de volta na prateleira da estante.
José voltou do banheiro e se jogou na cama.

— Estou podre.

— Vai esfriar... — disse Cadu apontando o café da manhã.

José se sentou e Cadu se aproximou o observando curioso. José pegou a caneca com a bebida quente  e cremosa, bebericou cuidadosamente e com medo. Em seguida ao aprovar o gosto deu um gole enorme e generoso na bebida quente.

— É... Nada mal. Ficou bem... Gostoso.

Cadu riu.

— Viu. Eu aprendi... Por sua causa.

José olhou com os seus pares de olhos castanhos claros que brilharam ao reflexo do sol perante a visão de cadu, e Cadu um tanto envergonhado abaixou a cabeça e se sentou na cama ao lado de José .

— Quer? — perguntou oferecendo o pão de queijo

Cadu pegou um para não fazer desfeita, mas ele já havia tomado café.

— Trocou meu curativo? — disse José surpreso ao olhar seu braço.

— Sim, enquanto dormia. Você fez ele todo errado...

— Vocês e o Rodrigo... vocês se beijaram?

Cadu respirou fundo bufando, não queria ter aquela conversa.

— Não foi nada de mais Zé.

José ergueu sobrancelha, estava ardendo com um pontinha de ciúme que parecia a pontinha de uma faca te incomodando.

— Então você beijou ele mesmo? — riu irritado mas tentando não transparecer.

— Zé, ele quem me beijou, foi... Algo rápido, por isso vim embora cedo.

José passou a mão no rosto, no bigode de sua barba de pelos castanhos com fazia quando ficava irritado.

— Minha vontade é arrebentar aquele filho da puta. Ele quem te deu a droga?

— Não, eu não quero mais confusão.

— Quem foi?

— Esquece isso José.

— Vai ficar do lado dele? Então você gostou? Gostou do beijo?

— Estou do seu lado, não estou? Só não quero falar disso, José não vai mais acontecer.

— Não confio em você.

— Nem eu confio em mim — disse Cadu rindo, mas não teve graça.

— Quanto tempo faz?

— Foi só ontem, o Hugo me arrumou e eu...

— O Hugo?

Cadu seu deu conta que falou de mais.
José riu meio incrédulo.

— Logo o Hugo? — José estava se esforçando muito para disfarçar sua angústia. — Primo de merda esse!

— José...

— Agora sinto que de fato não posso ir embora.

— Por quê?

— Por quê? Cê ainda pergunta, como que vai ser Cadu, você literalmente conseguiu, queria que eu ficasse e agora vou ter de ficar afinal vai que você tem uma overdose nova não é? Ou vai de novo ser internado, meu deus quando o pai descobrir que você cheirou cocaína de novo. Que merda você tem na cabeça Carlos?!

— José foi só uma vez.

— Quem garante?! Porra Cadu!

— Eu, por favor não conta para o pai e confia em mim, eu sei que não mereço mas eu me sinto culpado, eu só... estou tentando também...

— Eu te quero longe do Rodrigo e do Hugo, entendeu? — disse José com firmeza.

— José é que...

— Entendeu Cadu? — disse José com firmeza.

— Uhum.

— Ótimo. E da mera das drogas tambem

Cadu se levantou acariciando a têmporas com a mão como se estivesse com dor de cabeça.
José também se levantou.

— Ta legal, eu vou... Eu vou cuidar das coisas... — disse José incomodado.

— José...

José deu as costas para Cadu se retirando do quarto.
Naquele dia em especial José evitou Cadu de novo, ou pelo menos tentou, passou o dia todo com Brasa o seu cavalo negro, correu por todas as bandas, foi até o grande lago que ficava a quilômetros de distância e se sentou lá por horas, tudo ali era vazio, pacato, só havia animais, muitos. Do lago andou até uma pequena vila comercial que era como uma cidadezinha de interior, passou no bar de uma velha amiga da família, dona Branca, comeu e bebeu por lá, até fez amizade com desconhecidos, ajudou um senhor e sua carroça, e quando o sol já se guardava retornou para casa.
O cavalo trotava devagar, e José estava em cima, ao passar próximo do jardim viu Cadu na área do grande jardim verde que ficava ao fundo da casa perto da piscina. Cadu estava em cima de uma pequena escada, que alcançava os paletes de madeira da área, havia varias luzes penduradas, Cadu quem pendurou. José deixou Brasa no estábulo.

Cadu ainda estava em cima da escada, mexendo com algo que José  não conseguia ver e vencido pela curiosidade se aproximou.
Cadu estava tentando ligar as luzes, apertou o botão e ascendia as vezes, quando mexia no fio as luzes só piscavam e apagavam.

— Deve ser mal contato. — disse José  dando um pequeno susto em Cadu que não havia notado sua presença até então.

— Merda. — disse Cadu quase caindo na escada assustado.

— Onde achou essas luzes?

— Naquele quartinho de tralhas perto do estábulo. — Cadu desceu das escadas batendo as mãos uma na outra — Lembra quando éramos pequenos e essas luzes funcionavam.

— É, lembro, espera... — José correu em direção ao estábulo — A caixa de ferramentas do pai ainda está aqui?!

— Sim! — gritou em resposta.

José entrou no pequeno quartinho, mas a luz do mesmo não funcionava, já estava escurecendo. Procurou nas prateleiras improvisadas e velhas e achou a maleta de prata de alumínio, puxou a mesma e junto da maleta veio um porte que caiu no chão sem quebrar e rolou. José saiu do quartinho minutos depois com a maleta em uma das mãos e na outra o pote, enquanto Cadu o esperava.

Amor Azul CentáureaWhere stories live. Discover now