Revistando o passado

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O bar da Branca é um barzinho que fica na Vilinha, um lugar aconchegante que eu vinha quando mais novo, mas nem lembro qual foi a última vez que vim aqui, deixei o carro na esquina, queria fazer surpresa mesmo  ela já tendo visto o carro na porta do bar, estacionei no meio fio notei alguns olhares estranhos vindo do bar, inclusive o dela e como ela havia envelhecido, não muito, mas estava muito diferente, cabelos curtos a maquiagem continuava pesada, devia estar com uns 60 e tantos anos, ela não me reconheceu, atravessei a rua e me sentei em uma das mesas, estava com bastante gente, mas não cheio. Logo uma mocinha nova e desconhecida veio até a mesa.

— Boa tarde, o que vai querer?

— Menta, ah e coloca uma pintadinha de canela. — falei com um sorrisinho.

Era minha marca de registro, eu e o filho da Branca éramos bem amigos, e lembro que na casa dos vinte anos eu sempre vinha aqui, Cadu as vezes vinha junto, ele gostava bastante, Branca tinha um filho o Vitor devia ter minha idade ele era um rapaz legal estava sempre conosco, notei ele atrás do balcão, estava gordo, e parecia ter fugido de um presídio. Eu notei a garota informar o pedido para Branca e me apontar em seguida, ela olhou surpresa, não demorou muito e a própria Branca trouxe meu pedido.

— Eu sabia que era você, quando vi esse bração todo tatuado pensei: É Zezinho de Anastácia — disse ela com aquele sotaque sutil do interior paulista

Eu ri me levantando para um cumprimento.

— Aí pediu menta com canela, tive a certeza — disse ela e me agarrou no abraço.

— Oi Branca, como você está?

— Quanto tempo querido nossa faz anos que não te vejo, eu te vi menino e olha agora está um homão, bonito, forte! — ela falou pegando em meus braços. — Que saudades!

Ela me abraçou de novo.

— Vem cá, eu ainda falei para Vitor que era você e ele disse que não era — riu.

Mas antes de darmos um passo Vitor já vinha em nossa direção, então esperamos um segundo e ele chegou me cumprimentando com um aperto de mão e meio-abraço.

— Zé, nossa irmão quanto tempo, nossa — riu — Se perdeu por aqui? Voltou para cá? Você está bem? Virou gambé?

Por que temos esse hábito de fazer tantas perguntas em uma só?

— É, sim, que dizer não, eu não sou policial — respondi sem nem saber o que estava respondendo.

— Tem cara... Eu soube de seu pai — disse Branca. — Meus pêsames, não consegui ir no velório.

— É, ele já estava doentinho também. — falei

— Foda né mano — falou Vitor — E o Caduzinho? Ele sumiu também...

— Como ele está? — indagou Branca

— Está bem, quer dizer meio abalado, mas bem...

— Tadinho.

De repente eu não sabia mais o por que de estar ali, tudo bem eles eram boas pessoas mas eu estava sentindo uma estranha sensação de como quando não pertencemos mais aos locais de origem, eu não me sentia tão bem, os olhares pareciam me julgar, mas ainda sim insisti em ficar mais um pouco.
E foi nesse sentimento confuso entre insistir e ir que vi Júlia entrar no estabelecimento, quando nossos olhos se cruzaram o sorriso foi imediato, ela estava um avião, bonita, na verdade, gostosa para caralho. Nem parecia a mesma, óculos escuros amarronzados, cabelos presos num rabo de cavalo, regata branca colada no corpo acentuado e moreno, calça coladinha de academia, entrou com um rapazinho mais novo, acho que seu filho, devia ter uns  doze anos– ele estava distraído no celular com fones de ouvido e uma roupagem preta, os cabelos bagunçados e a cara de quem não dormia há três noites, nem se deu conta que a mãe dele voou em minha direção.

— Zé! Meu Deus, que saudades, não soube que havia voltado!

— Oi, oi... é, e aí — falei sem jeito — Tudo bem?

— Tô ótima, esse é meu menino, é o Mariano.

Mariano ergueu o olhar me olhando e estranhamente aquele menino parecia comigo o olhar forte, os olhos castanhos cor de mel, o formato do nariz e o queixo quadrado, mas não... aquilo não era um feito meu – eu acho.

— Oi — disse ele cumprimentando.

— Mãe meu pai está vindo eu vou lá para a casa da vó — disse o garoto sem nem me cumprimentar.

— Não quer que eu te leve?

— Já pedi um Uber mãe, até você me levar... — reclamou ele.

— Ah então vai, vai! — disse ela com desleixo

O menino deu as costas saindo.

— Nossa essa fase é a pior de todas — disse ela — Não sai, não come, não tem amigo é dia todo nessa merda de celular e em casa, quando sai arruma motivos para voltar, nossa época que era época boa né Vitor!

Deu um tapa com as costas da mão no peito de Vitor.

— Que saudades de você Zé, nossa tu parece vinho, né não Branca? — disse ela caçoando e Branca riu.

— Vinho?

— É quando mais envelhece mais bão fica, olha isso... — disse ela apertando meu bíceps e riu — Tá um homão, sempre foi né. Mas agora...

Dei um riso acanhado.

— Soube que você casou, trouxe ela? — perguntou Júlia.

— Não, e..eu...

— Ah, esquece entendi... — riu acanhada, estalou a língua — Soube do seu pai, como você está?

Julia tocou no meu braço apertando novamente, estava sendo assediado, eu sabia o que estava acontecendo, todo aquele contato era quase como um convite, uma oportunidade do aproveitamento, meu ego estava tão inflado que eu estava particularmente gostando. Cadu morreria de ciúme se estivesse aqui.

Eu teria 8 anos de assunto e o passado que gostariam de relembrar, aquele reencontro não duraria uma hora ou duas mas um tempo, nós nos sentamos diante da mesa, pedimos cerveja e porção de fritas, Vitor e Branca quando não estavam atendendo estavam sentando junto de nós conversando.
O assunto rendeu, ficamos lá por um longo tempo, até que ela foi embora, ainda sim eu e Vitor ficamos trocando uma boa ideia. A noite caiu, e há tempos eu não conversava tanto, há essa hora o bar estava vazio, só estávamos nós quando decidi que me estava na hora de ir, eram umas sete da noite ao olhar no relógio. Enviei mensagem ao Cadu uma hora antes e ele disse que ele estava bem e estava tudo bem perguntando que horas eu voltaria e respondi “já-já.”

Me despedi de Branca e de Vitor na porta do bar, Vitor desceu a porta do mesmo eles fechariam o bar mais cedo, ficaram do lado de dentro para o fechamento do caixa. É estranho como nada muda no interior tudo fecha cedo de mais durante a semana.

As ruas aqui são mal iluminadas e a do poste de esquina a rua do bar estava apagada, meu carro estava lá, mas do outro lado, um comboio de maritacas gritavam do fio, o paralelepípedo da rua estava úmido, atravessei e subi rua pequena com a chave do carro já na mão quando ouvi alguém chamar mais perto do que esperava:

— Ae otario!

Me virei mediante a provocação, e tudo que eu senti foi um impacto na cabeça, olhei desnorteado quando viria um segundo impacto de coloquei o braço, o porrete atingiu meu antebraço, eu soltei a chave no chão e puxei com a outra mão a madeira do meliante quando um segundo me segurou, tentei escapar mas fui desnorteado por um murro no rosto, cambaleei, senti meu corpo pesado, recebi outro murro no estômago, e foram sequências e mais sequências de murros até que fraquejei caindo no chão.

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⏰ Last updated: May 08 ⏰

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Amor Azul CentáureaWhere stories live. Discover now