Anoitecer

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Me retirei do quarto cuidadosamente depois de alguns longos minutos chorosos e silencioso feito um gato gigante, fui até a cozinha beber um pouco de água e assim fiz bebi a água tentando me acalmar, mas notei algo estranho no lixo que estava destampado parcialmente, lá estava o chaveiro que dei a Cadu, peguei o chaveiro do lixo e sentindo uma enorme sensação de merda uma mistura  de desconforto e chateação, que nem saberia explicar de tão ruim que era aquela sensação, mas ao se virar Cadu estava parado o observando do batente da porta da cozinha, senti meu espírito sair do corpo, um frio na espinha, era como se ele estivesse me observando aquele tempo todo só esperando, o que não era de fato uma mentira, Cadu estava esperando o momento certo para colocar suas garras para fora e mostrar o que estava realmente sentindo, era nítido.

Cadu passou a mão em seu próprio rosto esfregando os olhos, como se puxasse a pele do seu rosto e bufou sua impaciência soltando o ar denso de seu pulmão.

— Nós não precisamos de você José, não precisamos de sua simpatia, das merdas de suas lembrancinhas nem nada do tipo — Cadu disparou. — Ainda mais nessa altura do campeonato.

— Cadu eu sei que você está desapontado...

Cadu não estava desapontado, não era essa a palavra que o definia, eu o conhecia a ponto de saber que não era isso, mas eu não consegui achar outra palavra, ele me interrompeu com sua língua afiada.

— Eu não estou José, eu só não vejo razão para você ter voltado, volta para a sua namorada, sua aventura militar marítima, vai embora. Vai embora amanhã, arruma suas coisas e vai embora José. O pai não merece te ver nem nos últimos dias da vida dele. — ele disse me dando as costas

Numa ação impulsiva avancei e o içei pelo braço, mas ele ainda mais rápido se virou e deu um baita empurrão, que  fez com que eu batesse o corpo contra o balcão da cozinha brutalmente por não esperar aquela atitude, senti a costela doer no impacto repentino e levei a mão até a mesma olhando para Cadu com o olhar assustado.

— Não toca em mim...

— Eu estou tentando Cadu!

— Tentando? Ninguém quer que você tente nada, ninguém quer mais nada de você por isso ao invés de tentar faça algo e suma de novo, vá embora como você fez, seu covarde. Você é um covarde...

— Covarde? — falei mordendo os dentes. Aquilo feriu meu ego, eu podia ser tudo menos covarde se tem algo que aprendi no alistamento militar  foi a ser homem bravio e não um covarde! — Covarde eu? Você quem me privou de tudo.

— Você já tinha ido e se quisesse saber tudo teria voltado.

— Isso não te dava o direito de me esconder coisas Cadu, mesmo estando longe você não me contou sobre o pai ter tido a porra de um AVC, nem da embolia, nem nada, você não tinha o direito de me privar e fazer ele também esconder de mim.

— Ele mesmo disse que não é queria que você soubesse e estava certo em não querer atrapalhar sua vidinha de contos de fadas! Afinal se você quisesse saber da gente você no mínimo viria nos visitar ao invés daquelas ligações idiotas de meia hora que você fazia uma vez a cada três semanas, isso quando não uma vez no mês!

Senti meu sangue subir, foi como se agora eu encarasse meu pior inimigo.

— Você escolheu isso José! Não eu! Você! eu te odeio tanto, eu nunca odiei alguém como odeio você, por isso José mesmo que o pai esteja nas últimas, ele sempre esteve nas últimas, com você ou sem você ele vai morrer então que seja sem você, por que ele não te merece, você não merece o amor dele, na verdade que porra de amor você merece?! O de ninguém, você merece ficar sozinho como você estava, não é? Ah não... cê tinha lá a sua namoradinha, que nem sei se ela mesmo te suporta ainda, ou já acabou tudo? Então você merece isso ficar lá em alto mar com um bando de alienados doentes.

Amor Azul CentáureaOnde histórias criam vida. Descubra agora