Prólogo - Página 1

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  "Eu acho que nunca pude ver tanto sangue pessoalmente... Diferente do que parece nos filmes e séries, é muito mais nojento ter sangue em minhas mãos. É estranho, porque esse líquido é um pouco mais quente do que eu pensei que seria."

  Já fazem alguns anos desde a morte de meus pais, e eu até cheguei a pensar que já havia superado tudo isso, mas, um mês atrás, comecei a ter novamente esses sonhos perturbadores, aonde estou preso dentro do armário da cozinha, e, através de uma pequena fresta na portinha do móvel, acabo por vê a minha mãe aos gritos sendo esfaqueada, e o meu pai resistindo às mãos de um homem maior que ele, e sendo espancado ao mesmo tempo, por aqueles homens vestidos de sangue e violência. Nas primeiras vezes em que tive de reviver essas lembranças em meus sonhos, acordei com um gosto amargo e seco na minha boca, e acabei por vomitar todo o jantar da noite passada. Era tão difícil lidar com esses pesadelos, que eu tive de passar alguns meses tomando um medicamento controlado, que me fazia apagar por seis horas consecutivas, tendo assim, um sono escuro e vazio, sem som, imagem ou qualquer outra lembrança de qualquer possível sonho.

  E, bem, quem cuidou de mim durante esse tempo todo? No ano do fatídico dia da morte de meus pais, eu havia completado meu décimo aniversário, então, seria bastante complicado para uma criança se cuidar sozinha. Meus avós eram falecidos a pelo menos uma década, e os parentes mais próximos não quiseram cuidar de um órfão como eu que, muito provavelmente, desenvolveria algum tipo de distúrbio mental. Hoje em dia, não consigo culpar a nenhum deles, já que todos possuíam seus filhos, e, obviamente, a minha presença poderia ter os influenciado de maneira negativa.

  Durante esses oito anos após o início de todo esse trauma, eu fiquei passando e passando por lares adotivos, sendo que o melhor deles, só conseguiu me suportar por pouco mais de seis meses. Quando fiz meus dezesseis anos, me deixaram de lado, e me colocaram em um orfanato de qualidade inferior, apenas para que eu tivesse um teto para dormir até completar a maioridade oficial. Agora me resta esperar apenas mais um mês até que eu possa sair desse casarão empoeirado e viver minha vida livremente.

  Felizmente, dinheiro não vai ser o problema, pelo menos no início, já que possuo um trabalho de meio horário que paga até bem, e, obviamente, não posso me esquecer da pequena herança que meus pais deixaram para mim, mas, que, infelizmente, eu só poderia ter acesso quando completasse dezoito anos. Não os culpo por isso, quem deixaria uma quantia boa de dinheiro para uma criança? Obviamente tudo seria gasto com besteira, mas, não é como se nesses anos todos, eu tenha sido ensinado a administrar algo, então, muito provavelmente, daqui a alguns anos vou estar morando embaixo de algum viaduto no centro da cidade.

  Mais um mês... Apenas um mês... Um longo e maldito mês...

  Falta tão pouco! Será que é por isso que os sonhos voltaram? Será que encarar a minha futura realidade é o suficiente para me fazer sonhar com a minha outra realidade?

  Como assim, outra realidade? Ah, é, me esqueci, você que lê as palavras dessa página, ainda não sabe de tudo. Não te culpo por ser uma pessoa tão curiosa. Mas, ainda assim, não posso te contar todos os detalhes.

  Calma, calma, meu amigo, ou amiga, seja lá quem você for. Essa é só a primeira página desse diário. Você pode até me achar maluco por começar a escrever um diário dessa forma, já que normalmente eu deveria apenas descrever como são os meus dias, correto? Bem, você tem total razão, e talvez, eu tenha perdido alguns parafusos da minha cabeça, mas isso não vem ao caso agora.

  Talvez eu esteja usando isso como desculpa para conversar sozinho, mas, escrever essas palavras, como se alguém estivesse lendo um livro sobre um protagonista super foda, faz com que eu me sinta um pouco melhor. Só um pouco mesmo.

  Voltando ao assunto, como eu já disse, a minha outra realidade ainda não vai ser explicada aqui, mas, para aumentar ainda mais a sua curiosidade, vou te contar um detalhe a mais sobre os meus pesadelos recorrentes. Quando eu tenho esses sonhos, existe um detalhe que sempre me traz angústia e raiva quando eu volto à realidade: a minha mãe e o meu pai, foram mortos por homens que riam e conversavam entre si, com vozes excitadas e assustadoras, mas, acima de tudo, os seus rostos estavam cobertos por uma máscara, mas, não qualquer máscara; era uma face de raposa, de uma cor negra tão bela com detalhes brancos e alaranjados, e olhos vermelhos tão escuros quanto o sangue que pintava o chão e as paredes do cômodo.

Entre Raposas e Assassinos: O Diário de Sunजहाँ कहानियाँ रहती हैं। अभी खोजें