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  Depois de todo esse trajeto sendo arrastado e com as minhas pernas já doloridas, eu finalmente fui lançado ao chão do beco das "surras", que ficava atrás da escola.

  Sinceramente, não tinha um lugar pior para eu ser surrado não? Além dos hematomas roxos que ficam em meu corpo, eu ainda tenho que ficar sujo de terra e com cheiro de urina? Parece até que a prefeitura esqueceu desse canto da cidade, e não o limpa a anos.

  Voltando ao assunto, nos esperando na entrada do beco com expressões impacientes, estavam mais duas garotas morenas, sendo que uma delas eu pude reconhecer como a cachorrinha favorita de Kim, a Sara.

  — Finalmente vocês chegaram!

  Mesmo que estivesse falando com Kim, Sara mantinha seu tom de voz orgulhoso.

  — Pensei que não tinham conseguido pegar ele!

  — Cala a boca, Sara! Hoje ele tava se escondendo um pouco melhor.

  — Cadê o amiguinho dele?

Olhando por trás das duas paredes que me carregaram "educadamente" até o beco, Sara procurou pelo garoto que sempre me fazia companhia nesses momentos tão "intensos".

  — Hoje eu tava querendo sentar nele!

  — Parece que simplesmente sumiu.

  — Uma peninha mesmo. O Sun vai servir então!

  Com um daqueles olhares maliciosos e assustadoramente sedutores, Sara me encarou por um segundo, e começou a se aproximar um pouco mais de mim enquanto eu ainda estava sentado no chão, com as costas em uma daquelas paredes nojentas.

  Naquele momento, eu tive um péssimo pressentimento com relação a minha atual situação. Porque ao mesmo tempo em que tudo parecia seguir um caminho "bom", também parecia que tudo estava prestes a ruir.

  Mas uma outra sensação chamava mais ainda a minha atenção, porque eu estava achando tudo aquilo tão nostálgico.

  Não era como se eu estivesse amando aquela situação, mas, sabe quando a gente tem aqueles dejá-vu? Eu estava com esse mesmo sentimento.

  Era a primeira vez que eu vivia aquele momento, mas ao mesmo tempo, algo me parecia bastante familiar. Talvez fosse o vento soprando frio em meu corpo; ou o cheiro de urina e poeira, que também se misturava com um cheiro novo, lembrando muito ferrugem; ou talvez, eu apenas estivesse ansioso para saber como eu apanharia dessa vez.

  Mas, uma coisa era certa, eu sentia como se algo que já vivi antes, fosse acontecer novamente.

  — Vocês vão me explicar o que vai acontecer comigo ou não? - (a ansiedade também me deixa sem paciência).

  — É simples!

  Sem aviso prévio, Sara se sentou sobre o meu colo, pressionando o corpo dela contra o meu de maneira bastante invasiva e pessoal. Como se não fosse o suficiente, ela pegou uma de minhas mãos, e colocou em sua cintura, como se esperasse que eu a levasse para algum outro ponto.

  — Você endurece, e a gente te corta! E se não endurecer, a gente te espanca. Você basicamente só tem que escolher o que vai querer. De qualquer forma, acho que vale a pena para um virjão como você, né?

  — Você eu posso chamar de vaca!

  Isso resultou num baita de um soco em meu nariz, e ali, enquanto sentia o sangue escorrendo por meu nariz até meu lábio superior, pude descobrir que a cachorrinha era bem mais forte que a dona dela.

  — Vai falar nada não, Kim?

  Sara parecia esperar uma ordem ou autorização.

  — Por quê? Eu só bato nele se a ofensa for pra mim.

  Enquanto respondia, Kim deu de ombros, deixando claro a indiferença dela para aquela situação toda.

  — Obrigada, Kimberly!

  Eu realmente não estava aliviado com a resposta da loira de farmácia.

  — Acho que essa não é hora pra me agradecer, Sun.

  — Me diz logo seu idiota, o que você vai escolher? Quer se aproveitar do meu corpo e levar alguns cortes?

  Seguindo o ritmo de suas palavras e também o de seu corpo sobre o meu, Sara puxou um pequeno canivete prateado de dentro do bolso de trás do short que estava usando, e, sacando a sua lâmina, a pressionou levemente contra o meu rosto.

  — Me mostra o que você faz com os seus boyzinhos por aí, e depois eu digo o que eu acho, Sara!

  Eu realmente sou maluco, correto? Eu podia sentir o corpo dela sobre o meu, mas, a lâmina fria em minha pele me empolgou mais que a garota montada em mim.

  — Tá me chamando de puta, seu merda? Se você quer mesmo um pedaço de mim, vai ter que pagar o preço.

  O que Sara falou, me fez refletir um pouco: é sério que ela achou ruim eu ter chamado ela de puta, mas quis me cobrar pra ter ela? Que irônico, né.

  Eu estaria totalmente enrascado se não fosse por um barulho de assobio vindo do outro lado do beco.

  Por mais simples que fosse, um assobio curto e alto, era um dos muitos sons que nem eu mesmo esperava ouvir naquele momento.

  — EI, VOCÊS, O QUE ESTÃO FAZENDO AÍ?

  Uma mulher fardada com um uniforme policial escuro, se aproximou devagar de nós, e, enquanto seus cabelos longos e negros dançavam com seu caminhar, eu comecei a entender o porquê da nostalgia que eu estava sentindo antes.

  — Aqui não é lugar para transarem! Principalmente se for pra experimentar novos fetiches.

  Do lado da mulher, seguindo o ritmo lento de seus passos, um homem alto a seguia de perto, com passos calmos e silenciosos. Ele também estava vestido com uma farda e um colete a provas de balas, e, por mais que não fosse uma pessoa inchada de músculos, era possível ver as definições de seus braços por debaixo daquele uniforme policial.

  Sun não tinha coragem de encarar aquele homem por muito tempo, principalmente se tivesse de olhar para o seu "rosto", que estava coberto por uma máscara de raposa (por que eu falei de mim mesmo na terceira pessoa? Agora não tem como corrigir, já que inventei de escrever de caneta).

  Sun não tinha coragem de encarar aquele homem por muito tempo, principalmente se tivesse de olhar para o seu "rosto", que estava coberto por uma máscara de raposa (por que eu falei de mim mesmo na terceira pessoa? Agora não tem como corrigir, já...

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Entre Raposas e Assassinos: O Diário de SunWhere stories live. Discover now