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Voltando ao assunto padrão desse diário...



Quando entrei dentro da cozinha do orfanato, fui recebido tão calorosamente com o abraço de todos os temperos misturados em uma fragrância única e nostálgica, e como um agradável complemento, pude sentir as mãos macias de Ana procurando por qualquer machucado em meu corpo.


- O que o ranzinza do Joaquim fez com você?


- Nada. - basicamente sussurrei a minha resposta.


- Para de mentir, nós ouvimos um barulho alto vindo lá de cima. Ele jogou alguma coisa em você?


Ana, com seus cabelos longos e negros mas agora amarrados em um belo coque abaixo de uma toca de cozinha, tinha o olhar mais carinhoso entre todos do orfanato. Eu realmente gosto de toda a preocupação que ela demonstra quando eu apareço com algum machucado novo.


- Faz mais sentido dizer que ele jogou alguém...


Eu nem tive tempo de terminar a minha frase e a mulher se virou na direção de Joaquim e arremessou um pano molhado que estava em seu ombro.


- Seu velho imbecil! Por que cê fez isso? E se ele caísse da escada?


O pano acertou o rosto de Joaquim provocando risos na outra mulher que estava quieta lavando alguma coisa na pia. O velho Joaquim, retirando o pano de seu rosto, olhou seriamente para mim e logo depois voltou sua atenção para Ana.


- Eu joguei ele da escada.


- Eu te mato seu...


Eu segurei ela antes que pudesse avançar de verdade em Joaquim, mas me lembro bem da força que fiz apenas para contê-la no lugar.


- Com todo o respeito Ana, mas esse garoto arrogante anda precisando de correção de um homem de verdade.


- Já fazem alguns anos que sua função de homem não tá mais ativa. - (Você realmente disse isso que eu entendi, Ana?).


- Sun.


Ignorando a ofensa gratuita que recebeu, Joaquim se aproximou mais de nós dando a volta por uma pequena bancada, e me entregou um papel que retirou do bolso de sua calça jeans preta.


- Aquele seu amigo deixou isso daí mais cedo.


Para pegar o papel da mão dele eu soltei Ana, confiando com um certo receio de que ela não o atacaria. Ao desdobrar o papel, reconheci a letra garrancho que somente Luck seria capaz de fazer e o parabenizei, como sempre faço, por não precisar de fazer qualquer esforço pra ter a letra mais feia do colégio.


Com a mesma dificuldade de sempre e após um minuto inteiro de concentração finalmente entendi o que Luck havia escrito:


[Fala, Sun, td bem???


Eu poderia te mandar um zap, mas, meu telefone ta no conserto, ent meio que eu nn poderia mandar msg ne kkkkk


Como foi no colégio? Espero que não tenha se metido em nenhuma encrenca só pq eu não fui hj. Sei que vc quer saber pq faltei, mas n vou contar por aqui nn. Se quiser saber, aparece lá em casa qualquer dia desses.


Aliás, n vou aparecer mais nas aulas, ent se quiser me ver, vai ter que me encontrar pessoalmente. Fechou?]


- Droga! O que eu faço agora?


- O que aconteceu, Sun? - Ana já havia voltado para trás da bancada, mas seu olhar rapidamente se voltou para mim.

Entre Raposas e Assassinos: O Diário de SunWhere stories live. Discover now