Entre Raposas e Assassinos: O Diário de Sun

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  Talvez eu realmente esteja ficando maluco.

  Escrever esse diário deve ser apenas mais uma tentativa de lidar com toda essa maluquice.

  Como se não bastasse aquela maldita alucinação, alguém também deixou esse bilhete ridículo. Qual será o problema da vez? É só mais um trote de alguma das crianças encapetadas? Ou será que realmente pode ser algum aviso sério?

  Sinceramente, acho que não sou o único que não está batendo bem das ideias nesse lugar.

  A propósito, quando fui pegar esse bilhete levemente sinistro no espelho, reparei que o meu reflexo continua igual ao que sempre foi. E com isso lembrei também que você, o curioso ou curiosa que está lendo essas páginas, nunca teve a fabulosa oportunidade de me ver pessoalmente (ou talvez sim; muito provável que as pestes desse orfanato leiam essas palavras escondidas de mim).

  Você deseja saber a minha aparência? Se não, é melhor pular essa página do diário, porque ela talvez não seja tão atraente pra você!

  Bem...

  Com meus dezessete anos, posso dizer que tenho uma altura padrão entre os outros garotos de minha idade. Às vezes até me sinto orgulhoso com meus 1,70 de altura, apesar de que sempre que o Tuly chega perto de mim, passo a me sentir um anão levemente crescido. Aquele maluco tem 1,82.

  Pra falar a verdade, perto de qualquer um dos valentões eu me sinto indefeso se for comparar a minha altura. O menor deles tem 1,76.

  Meus olhos são castanhos bem escuros. Gosto de ver o meu olhar iluminado por uma luz forte, porque ele fica levemente mais claro.

  Mas ter olhos escuros têm seu charme. Por exemplo, já cansei de assustar os meninos mais novos no corredor, usando apenas uma lanterna mais fraca jogando luz de baixo para cima em meu rosto.

  Meus cabelos são castanhos também. Só que eles são ligeiramente mais claros que meus olhos. Já pensei em pintá-los várias vezes, e também já cheguei a usar tinta preta neles, mas sempre tiro qualquer produto no primeiro banho que eu tomo. Não tenho tanta paciência para ver o meu rosto de um jeito diferente.

  Eu sou uma pessoa negra. Já recebi alguns apelidos com relação a isso, mas, não é nada que realmente me incomode hoje em dia. Uma vez fui estudar sobre as pessoas semelhantes a mim, e vi que eu só tenho é que ter orgulho da minha pele.

  Meu estilo de roupa sempre varia um pouco.

  Gosto de usar roupas um pouco mais largas, mas não o suficiente para ficarem folgadas em meu corpo. Quando me sinto mais a vontade, uso coletes por cima das minhas blusas, sempre variando os estilo das minhas peças. Mas na maior parte do tempo, uso moletons escuros.

  Aliás, também uso óculos. Mas, eu tenho o péssimo hábito de não mantê-lo em rosto. Por isso, muito provavelmente, vocês vão me “ver” sem eles com muito mais frequência do que deveria.



  Olha o que vocês estão me forçando a fazer! Tudo bem que fui eu quem escolheu escrever esse diário, mas, eu realmente preciso me descrever para vocês? Isso faz eu me sentir uma pessoa narcisista.

  Creio que isso crie algum tipo de curiosidade com relação às outras pessoas ao meu redor, certo?

  Você é mesmo tão curioso, ao ponto de querer saber até a aparência da loira de farmácia?

  Se eu for sair descrevendo todo mundo, vou acabar gastando todas as páginas desse caderno apenas com isso. Então por favor, segura a sua curiosidade, porque nos momentos corretos, cada pessoa vai ser descrevida melhor.

  “Ah, mas não é assim que se escreve um diário!”

  O diário é meu, literalmente.

  Vou cometer muitos erros enquanto o escrevo, então por favor, não julgue eles com tanto preconceito.

  Sério que tô discutindo com alguém que eu nem sei se realmente tá lendo isso? Tô escrevendo essas coisas sem nem saber se alguém vai querer ler sobre a minha lamentável existência.

  Então é verdade, eu realmente estou ficando louco!