Capítulo Dois - Hannah

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Eu gostava de acreditar que em toda escola há uma pessoa com quem todo mundo implica por N motivos, até mesmo por respirar. Gostava de pensar assim, porque, então, não me sentia tão sozinha e assustada com todas as pessoas me criticando à minha volta.

E por uma horrível trapaça do destino fui escolhida para ser essa pessoa no colegial, na escola em que eu estudei.

Pessoas passavam por mim e me chamavam de todos os apelidos existentes e, por incrível que pareça, até conseguiam inventar apelidos que já não mais existiam, totalmente nada a ver, e pelo que posso me lembrar claramente, "palmito" era um deles.

Não tinha coisa mais irritante do que ser chamada por uma coisa que você, definitivamente, nem se parece. E é claro que eu acabei adquirindo trauma de palmitos desde o Ensino Médio. Eu daria gargalhadas da situação se não fosse trágica.

As pessoas mais velhas professores e coordenadores para os quais eu ia sempre reclamar que alguém implicava comigo, diziam que eu tinha que ter provocado os outros para que eles me irritassem dessa maneira, mas eu jurava a todos eles que eu não fazia nada. Talvez não significasse nada, talvez aquilo só fosse um aviso para que eu desistisse da vida antes de ela ficar pior. E foi pior ainda quando o 'Palmito" passou a ser trocado por "Palito" porque, definitivamente, eu sempre fui, e sempre vou ser muito magra.

Para alguns alunos e alunas, especialmente os jogadores de futebol e as líderes de torcida, era a melhor hora do dia, principalmente na sexta-feira, que costumava significar "festas".

Mas, para mim, era totalmente o contrário. Numa sexta-feira qualquer do mês de outubro eu estava sendo perseguida pelos idiotas da minha sala.

Eu já deveria estar acostumada a correr, mas quando pedi para a minha mãe me colocar em uma academia, ela deu risada. Falando para eu parar de provocar os outros que eles iriam parar de me provocar também.

Porque diabos ninguém entendia nesse mundo que eu não fazia nada? As pessoas gostavam de implicar umas com as outras para se sentirem um pouco melhores do que realmente se sentem e não por eu ter começado qualquer tipo de provocação.

A única que acreditava em mim e me dava o ombro para chorar era tia Holly, que de algum modo, só depois que eu saí do colegial, conseguiu abrir os olhos da minha mãe para tudo o que eu sofria no colégio. Mas nesta época não importava mais, afinal, eu já estava numa faculdade e jovens não são tão estúpidos quanto adolescentes.

De qualquer forma, naquela sexta-feira, como sempre eu corria com toda a minha força, e eram esses os momentos em que eu agradecia por ser magra e conseguir correr o suficiente para eles não me alcançarem e por não ficar ofegante tão rápido quanto os gordinhos.

Mas minhas pernas estavam doloridas, o que me obrigou a parar um pouco para respirar.Isso foi o suficiente para que os quatro corressem até mim. Frank, Caleb e mais outras duas meninas que eu não conhecia e cujos nomes eu nem queria saber.

O fato era que eles me alcançaram. Para o meu azar, havia chovido no dia anterior e, como se não bastasse isso, a rua estava vazia.Não tinha escapatória e ninguém para me ajudar. Senti uma mão me empurrando para a frente e outra puxando com força a minha mochila que eu levava pendurada em apenas um braço.

Caí de cara na poça de água. E eles tinham levado meu material junto porque, quando consegui me levantar, minha mochila já não estava mais lá, assim como meus perseguidores. Suspirei e senti uma lágrima rolar pela face.

Seria sempre assim?

♥ ♥ ♥

Minha cabeça doía, e acordar nunca me pareceu tão difícil. Eu costumo ter pesadelos como esses, com as lembranças do passado, e talvez o fato de eu estar toda dolorida contribuiu para que a lembrança fosse ruim. Respirei fundo, tentando me lembrar dos recentes acontecimentos e não de coisas que aconteceram quando eu ainda estudava.

Para Sempre ElaOnde histórias criam vida. Descubra agora