Capítulo Sete - Frank

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Hoje não precisei do relógio para me acordar pela primeira vez em muito tempo. Nem do relógio analógico, que se localiza no móvel da cabeceira da cama do meu lado direito, e nem de meu celular tocando desesperadamente com o Dr. Carter do outro lado da linha me chamando para alguma emergência.

Estou agradecido por isso e este fato já faz com que minhas férias, tiradas de repente, valessem a pena. Apesar de eu amar minha profissão, ficar afastado do hospital por um tempo não chega a ser tão ruim, especialmente quando se tem coisas para fazer fora dele.

Como eu não tenho pressa hoje, eu demoro a abrir os olhos. Fico aproveitando o tempo envolvido debaixo de toda aquela camada de cobertores. Qual o sentido de usar tantos cobertores se eu tenho um ar condicionado? Eu também não sei. Mas, isso não importa.

Não preciso ir socorrer alguém às pressas hoje. E, apesar da minha felicidade de não precisar sair correndo para o hospital–talvez seja um sentimento egoísta para com os feridos de hoje–não me dou ao trabalho de me sentir mal. Eu nunca tiro férias. Acho que mereço estas que estou tendo.

Agarro o outro travesseiro que está do outro lado da cama de casal,que eu tenho a comodidade de usufruir sozinho. Enterro meu rosto na almofada macia e inspiro o cheiro de amaciante. Ficar nesta cama está tão bom, mas hoje é sábado e eu tenho que ir para o Music Zone, afinal, eu quero muito ver Hannah.

Nos últimos dias, que foram os meus primeiros de férias, eu fiz questão de escutar a rádio KISS 3,4 o dia inteiro e admito que a seleção de música é muito boa.

Eu nunca fui de escutar muita música. Talvez, na minha adolescência, eu tenha sido um cara mais musical, mas quando comecei a estudar para medicina todos os meus hobbies – desde ver uma boa série a ouvir alguma música que fosse – diminuíram gradativamente. E talvez eu aproveite mesmo o festival que irá acontecer hoje, mesmo que não encontre Hannah, apesar de eu estar querendo muito que isso aconteça.

O evento começa às 14 horas e vai até à noite, e eu espero poder me encontrar com ela antes de o evento terminar. Quem sabe ainda teríamos algum tempo para uma conversa?

Sei que ela pode estar ocupada, afinal, ela trabalha na KISS e ela pode, facilmente, estar lá a trabalho, mas não me importo muito com essa possibilidade.

Eu não tenho a mínima ideia do que vou falar quando vê-la e não sei se ela irá acreditar na desculpa de que eu estou ali por alguma maravilhosa coincidência, mas não quero saber dos inúmeros possíveis "e se's"

O quão estranho isso pode parecer? É curioso. Quando nós éramos adolescentes eu fazia o que eu bem entendia com Hannah ao lado de meus amigos e anos depois eu estou fazendo o possível e o impossível para poder vê-la de novo. E outro ponto é que eu esperava uma reação totalmente diferente de quando ela acordasse no hospital e me visse. Imaginei que ela iria me xingar de todos os nomes possíveis. Mas, como sempre, Hannah me surpreendeu.

E acho que é por isso que ela não recusaria uma conversa comigo hoje. Espero estar certo. Não sei como irei reagir e nem como lidar caso eu consiga encontrá-la e ela me rejeite.

Não posso mais enrolar na cama porque senão eu acabarei perdendo a hora para o festival. Forço-me a ficar sentado e jogo todos os cobertores para o outro lado da cama, estico os braços e espreguiço.

Eu posso comer o que quiser no café da manhã, com pressa ou sem, portanto, acabo escolhendo por tomar um banho demorado de banheira e, ao invés de comer alguma coisa, com pressa, aqui em casa, irei a uma cafeteria que tem na esquina da rua do meu prédio. Eles vendem um maravilhoso chocolate quente e pra esse frio de Londres, é tudo o que preciso.

Para Sempre ElaWhere stories live. Discover now