Capítulo Dezessete - Frank

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Elena abre a porta de sua casa. Estou um pouco atrás dela. E ela entra primeiro e logo me dá espaço para mim. Antes mesmo que ela possa fechar a porta da casa com a chave, escuto passos de crianças correndo pelo corredor e logo uma miniatura de Elena está agarrada à minha perna e com um sorriso que é capaz de iluminar Londres inteira.

O pequeno garoto nem me deu tempo para olhar ao redor. Seu sorriso infantil é uma graça e suas mãos pequenas se agarram em mim com força, como se me impedissem de sair pela mesma porta em que eu havia entrado. Luke tem cinco anos e me encara como se tivesse acabado de ver um pote de doces.

- Tio Frank! - ele grita e eu me abaixo, o suficiente para ficar na sua altura e bagunçar seus cabelos. Elena está do meu lado e dá risada pela recepção que o seu garoto tinha acabado de me dar. Ele ainda está usando pijamas, algo como um macacão de carrinhos.

Aquilo me fez rir, e me lembrar da época em que eu era uma criança despreocupada que nem ele. E que só pensava em acordar razoavelmente cedo num sábado para não perder a maratona de desenhos animados.

- Esqueceu-se da mamãe, por acaso? - Elena pergunta, se fingindo chateada. Luke arregala os olhos e olha para a mãe, mas ainda assim grudado em minha perna. Eu levanto a cabeça mordendo o meu lábio para não deixar escapar uma risada.

- Desculpa! - Luke pede e vejo que ele se esforça para não se atrapalhar com as palavras. Ele se desgruda de mim, muito a contragosto, e vai abraçar a mãe que sorri com o gesto.

Não tenho nem tempo de levantar, quando sinto outros braços minúsculos agarrarem meu pescoço e logo sorrio para o cheiro de criança que essa casa tem a oferecer. Era o outro de Elena, Mike.

Mike é três anos mais velho do que Luke, mas, mesmo assim, parece ser o mais novo por ter nascido um pouco antes do que deveria. Mike nasceu no mesmo hospital em que trabalho. E como todo mundo lá sabia quem Elena era, quando ela veio para o hospital com Mike prestes à nascer, foi uma loucura total.

- Tio Frank - Mike diz, ainda agarrado a meu pescoço. Estou acostumado a ser chamado assim por essas crianças porque, apesar de eu não aparecer nunca na casa de Elena, ela sempre menciona sobre mim aqui e sobre minha morada ser basicamente o hospital. E os meninos gostavam tanto de mim e - claro, da mãe deles - que diziam que gostariam de serem iguais à gente quando crescerem. É claro que ela e eu damos sorriso extremamente orgulhosos quando escutamos isso.

Mike e Luke me enxergam como um herói que prefere salvar vidas a ficar em casa. Para eles, eu sou como um super homem. E claro, para eles, Elena é uma super-heróina, salvando criancinhas no hospital de todo o mal.

- Amor? - escuto a voz de um homem sair do corredor. Levanto-me, mas seguro Mike em meus braços. - Oh, Dr. Miller!

Ele já está vestido com uma calça e com camiseta e dou graças a Deus por isso, pois seria extremamente constrangedor encontrar o marido da minha melhor amiga de pijamas. Esse é o lado ruim de aceitar tomar café na casa de Elena, eu não sei o que posso esperar.

- Hey, Dr. Harrison!- cumprimento. - Como vai?

- Estou bem, e você?

- Estou ótimo.

- Trouxe Frank pra tomar um café com a gente. Desculpe por não avisar. - Elena fala, quebrando o início de um clima não muito agradável. Mike brinca com o meu cabelo enquanto sinto outra mão em minha camiseta. - Luke, vai rasgar a camiseta de Frank! - ela repreende o pequeno que está no colo dela, mas com o braço esticado para a gola da minha blusa. Eu sorrio para ele que retribui imediatamente com uma risada.

O marido de Elena sorri e me sinto mais relaxado. Pelo menos ele não está nervoso por eu ser um intruso nessa manhã.

- Ok, então vamos aproveitar que eu fui ao mercado ontem e comprei o suficiente para um exército. Vocês devem estar com fome. - Nós andamos para a cozinha. Ainda estou com Mike em meu colo, e Luke já tinha soltado minha camiseta.

Ajudo Elena e seu marido a colocar a mesa, mas fica um pouco difícil segurando Mike, que simplesmente se recusa a sair do lugar onde está.

Sou o último a me sentar, e me sento entre Luke e Mike na mesa redonda - por escolha deles. Não pude deixar de sorrir com o pensamento de que eles poderiam começar uma briga caso eu me sentasse perto de um e longe do outro.

Reparo na mesa cheia de comida, provavelmente não vamos conseguir comer nem a metade, mas apenas dou de ombros. Durante o café da manhã Luke e Mike chamam minha atenção constantemente e eu sou obrigado a dar - não que isso fosse algum tipo de sacrifício, porque percebi com aqueles dois, que eu gosto de crianças mais do que imaginava gostar.

O lado bom disso tudo é que eu só penso em Hannah uma vez nesta manhã, quando o marido de Elena me faz questão de perguntar sobre alguma namorada.

- E aí, Frank? Alguma pretendente ou ainda namora o hospital? - O pequeno do meu lado esquerdo franze o cenho, sem entender que o pai disse aquilo na linguagem figurada e que, de fato, eu não namoro o hospital. Elena solta uma risada.

- Tem uma, mas Frank é covarde- ela responde por mim.

- Frank não é covarde! - Mike e Luke falam quase ao mesmo tempo e eu abro um sorriso imenso. - Ele salva vidas como você, mamãe.

Ri com a doçura daqueles dois. Era impossível ficar chateado com alguma coisa, ou mesmo pela simples lembrança do sorriso de Hannah que eu tive quando o Sr. Harrison me perguntou sobre pretendentes.

- Isso mesmo! - eu falo - Deveria ouvir mais seus filhos.

Os dois garotos abrem um sorriso maior do que o mundo. Elena e o pai dos meninos apenas riem, deforma a desconversar o assunto.

- E como foi o plantão? - Sr. Harrison pergunta para mim e para Elena.

- Tranquilo,- ela responde primeiro - apenas uma criança que passou mal durante a noite. A mãe estava desesperada por pouca coisa. Descobrimos que era apenas uma febre alta. Não ficou nem duas horas lá. Passei o resto do tempo dormindo e pensando num modo de tirar essa coisa - aponta pra mim - do hospital.

Finjo que estou me sentindo ofendido.

- Não me chame de "coisa". Sou seu melhor amigo.

Ok, tudo bem que "coisa" nem era um xingamento, mas a situação estava engraçada.

- É, mamãe, - Mike concorda - não chame Frank de "coisa". - ele repreende, e eu solto uma gargalhada, assim como o pai do pequeno. Elena bebe um gole de seu suco, ignorando totalmente a tentativa do filho de me defender.

- Eu não tive plantão. Apenas fiquei observando as cirurgias.

- Ele está de férias - Elena faz o favor de lembrar - mas, mesmo assim, não sai do hospital.

- É - Luke concorda como se fosse óbvio -porque ele é algo como o super homem!

Solto uma gargalhada nasal e volto a me concentrar na comida, pois estou quase morrendo de fome por ter ficado a noite inteira no hospital assistindo as cirurgias.

Vez ou outra, Luke e Mike riam de algo. E é impossível não sentir o clima familiar que aquele lugar passava a quem entrasse pela porta do apartamento de Elena.

Engulo em seco depois de tomar um gole do meu café quando descubro o motivo de ela ter me chamado. Não era para ser uma simples distração.

Ela queria que eu sentisse vontade de voltar pra casa e encontrar uma família reunida me esperando para um belo café da manhã, almoço, ou jantar, fosse lá o que fosse.

Respiro fundo percebendo o que acabei de constatar: eu queria uma família. Queria alguém pra me recepcionar com um abraço quando chegasse em casa. Eu sentia falta de ter isso.

Se o objetivo de Elena fosse me fazer ter vontade de ter uma família como essa, ela alcançou o que queria, só preciso me lembrar de parabenizá-la por isso mais tarde.


Para Sempre ElaWhere stories live. Discover now