Capítulo Vinte e Quatro - Hannah

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Eu nunca fui a garota mais rica da cidade e isso impossibilitava minha mãe ou meu pai comprarem roupas de marcas pra mim e, apesar de ser um motivo fútil, era um dos quais os idiotas utilizavam para me irritar.

Mas, a minha sorte era ter uma tia maravilhosa que separou boa quantia para eu comprar o que eu quisesse e, mesmo eu não tendo um bom senso de moda, tia Holly tinha! E foi ela quem me ajudou a escolher a roupa para o meu primeiro dia de aula e, apesar disso tudo, eu acordei naquele dia com um mau pressentimento sobre o resto do ano.

Acho que era simplesmente impossível não pensar assim quando eu passei o ano anterior todo sendo atormentada por garotos idiotas e garotas no topo da elite.

♥ ♥ ♥

Acordo do sonho. Porque essas lembranças insistem em me atormentar em forma de sonho? Isso me faz ficar com mais raiva do que qualquer outra coisa. Eu raramente tinha essas lembranças, como ele, mas desde que me reencontrei com Frank tenho sonhado com coisas desse tipo.

Meio que não dá pra evitar.

Tento esquecer-me da raiva por um momento e olho para o lado. O corpo de Frank está descoberto e isso faz com que apareça seu peitoral já que ele está sem camisa, apenas vestindo uma calça de moletom.

Nós não tínhamos feito nada. Eu apenas resolvi vir para cá porque descobri– apenas pela voz dele – que ele estava morrendo de febre, por termos caído no lago no dia anterior. E mesmo que quiséssemos namorar um pouco, era impossível devido ao estado da saúde de Frank.

Eu cheguei a pensar seriamente em levá-lo para o hospital, e não era para que ele operasse alguém, e sim para ver se não era nada demais o que ele tinha.

Apoio minhas costas na cabeceira da cama. Frank se mexe de uma forma que faz sua cabeça parar em meu colo, e,desconfio que ele está acordado e muito consciente de seus movimentos.

Aproveito e fico fazendo carinho em seus cabelos e me permito mergulhar nas minhas memórias

♥ ♥ ♥

Dois dias haviam se passado desde aquele beijo que Frank e eu havíamos trocado. Estávamos no primeiro ano e eu não tinha como simplesmente mudar de cidade. Apesar de que mudar para longe de Frank era tudo o que eu queria, ainda precisava terminar o Ensino Médio para, talvez depois, pensar em fazê-lo.

Imaginei que tudo voltaria ao normal, mas foi diferente. As coisas melhoraram. Na primeira semana as piadinhas e xingamentos sobre mim diminuíram consideravelmente e, no fundo, eu sabia que aquilo ali tinha um dedo de Frank. Mas, apesar de ninguém ter me xingado de nada, eu ainda sentia os olhares de ódio sobre mim.

— As pessoas pararam de te importunar? – tia Holly perguntou certa tarde.

— Sim... E sobre seu vestido que você estava desenhando? – fiz questão de mudar de assunto.

♥ ♥ ♥

O quarto estaria totalmente escuro se não fosse pela luz fraquinha do abajur ligado na cômoda, do meu lado da cama. As cortinas estavam fechadas para, caso fosse de manhã, o sol não entrar.

Eu olho para baixo e Frank ainda está no meu colo, mas, dessa vez, eu sei que ele está acordado porque o ritmo de sua respiração está modificado, e dou um sorriso bobo quando sinto que ele parece estar em paz consigo mesmo.

— Sua febre baixouaviso, mesmo ele estando de olhos fechados.

— Eu ainda estou um caco ele responde com a voz rouca por causa do tempo que passou dormindo. — Que horas são?

Mesmo ele já estando acordado, eu não paro de fazer carinho em seus cabelos. Vejo Frank abrir um sorriso e mesmo sem ele poder ver, porque está com os olhos fechados, eu sorrio de volta.

Olho para o relógio do quarto para verificar as horas e responder a Frank.

— Seis horas da noite.

— Eu dormi muito.

— Mas, você estava mesmo mal. Não tem problema.

— E onde está Banzé? – ele pergunta.

— Deixei-o na casa de tia Holly que, a propósito, o adorou.

Finalmente Frank abre os olhos e me encara. Sua aparência, apesar de cansada, parece bem melhor do que quando eu o encontrei hoje de manhã e isso me faz ficar um pouco mais tranquila.

Solto um suspiro mesmo que sem querer e olho para Frank. Será que ele começou a mudar no momento em que nos beijamos pela primeira vez? Porque quero acreditar que foi ele que pediu para todo mundo parar de implicar comigo.

— No que você está pensando? ele pergunta curioso. Ele faz um movimento apenas para ficar sentado na cama e me envolver em seus braços em um abraço, como se eu tivesse alguma intenção de sair dali.

— Não que eu esteja forçando as lembranças, mas uma coisa me veio à cabeça hoje e queria que você fosse sincero comigo. Como se fosse possível, Frank aperta um pouco mais o abraço e esconde a cabeça em meu pescoço que está em sua altura, já que eu estou sentada em seu colo.

— Diga.

— Depois que nos beijamos, foi você que fez todo mundo parar de me xingar? pergunto curiosa. Frank balança a cabeça afirmando, mas não tira o rosto do meu pescoço e alguns segundos depois sinto lágrimas escorrerem pelo meu colo. Engulo em seco quando percebo que Frank está chorando. Sinto, ao ver aquela cena, que outra bala perdida doeria menos.

Deus, será que tem alguma coisa que eu possa fazer para que ele não se sinta tão mal?

— Frank – chamo baixinho — Frank, olha pra mim.

Hesitante, ele retira a cabeça do meu pescoço e me encara. Seus olhos estão cheios de culpa e dor e tudo o que eu mais quero é tirar isso dele.

— Você pode ter me perdoado – Frank sussurra baixinho como se tivesse medo de que alguém que não fosse eu pudesse escutá-lo – mas acabei de descobrir que eu não me perdoei.

— Ei, – beijo sua testa carinhosamente — não foi sua culpa!

Ele me encara com a sobrancelha erguida.

— Claro que foi, Hannah! – ele retruca — Eu fiz você sofrer e...

— Frank, acredito que por acaso eu fui a escolhida para ser o alvo de piadinhas idiotas naquele colégio. E, por acaso você estava no meio, e por acaso nós acabamos nos envolvendo. Não foi sua culpa, talvez tenha sido, mas você se arrependeu e é isso o que importa para mim, e isso deveria bastar para você.

— Nós somos um "acaso", então? – ele pergunta baixinho novamente. Sua boca está bem perto do meu ouvido e fico feliz porque percebo que minhas palavras conseguiram reconfortá-lo.

— O acaso mais lindo que já me aconteceu! – respondo e vejo Frank abrir um sorriso que faz meu coração ficar em paz novamente.


Capítulo Vinte e Cinco �ij}0T�


Para Sempre ElaWhere stories live. Discover now