Capítulo Cinco - Frank

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"Music Zone, o evento realizado pela KISS 3,4 acontecerá no próximo sábado, no Piccadily. Além das bandas já confirmadas, haverá outras bandas surpresas.Sendo assim, para descobrir quais são, só comparecendo ao evento. Caso compre os ingressos esta semana através do site da rádio, você irá pagar 20 libras.Mas, se deixar para comprar na hora, o preço do ingresso dobra."

A voz de Hannah ecoa pelo rádio do meu carro enquanto estou dirigindo a caminho do hospital, e como eu tinha um tempo livre, acabei optando por fazer um caminho mais longo e passear um pouco por Londres antes de chegar.

Eu gosto de andar de carro enquanto escuto uma música, e faz tempo que não faço isso, então não me senti mal em me atrasar para chegar ao hospital. Só me lembrei do quão bom era quando tive que dirigir um pouco a mais para levar Hannah em casa.

A janela do carro do meu lado está aberta. Sinto o vento batendo em meu rosto de uma forma gostosa.

Respiro fundo. Gostaria de ver Hannah mais uma vez. Eu tenho o endereço na cabeça, mas não posso simplesmente aparecer, afinal, ela iria me chamar de louco se eu aparecesse em sua porta, de repente, e apenas dissesse:

"Oi, eu estou com saudades!", ou com alguma coisa parecida com isso..."Aí, eu vim te ver, tudo bem?"

Se o nosso passado tivesse sido diferente, talvez eu pudesse aparecer do nada em sua casa, mas não nas circunstâncias atuais. Sendo assim, eu teria que me contentar com a ideia que eu acabo de ter. Music Zone.

Eu posso muito bem tirar férias do hospital quando eu bem entender, então eu poderia me liberar esse mês e aproveitar para descansar, colocar minhas coisas da casa em dia, e ainda dar uma passada no Music Zone. Quem sabe eu não a encontro lá? Sei que ela pode estar trabalhando, mas talvez eu tenha uma chance de vê-la novamente e isso é tudo o que eu quero no momento, apesar de ser um pouco estranho.

Olho pelo espelho do carro e vejo um sorriso enorme estampado em meu rosto. Um suspiro escapa de meus lábios e tenho a certeza sobre o que eu irei fazer. Já estou na rua do hospital e dirijo passando pelo portão já conhecido. O segurança acena pra mim e eu, como sempre, cumprimento-o.

— Bom dia,Tomas. Tudo bem? – Ele sorri de volta e sei que o cara ganhou seu dia com este gesto. Muitas pessoas não têm a noção do efeito que têm na vida de outras. Muitas vezes, tudo o que o cara precisa é de um "bom dia", porque o que eu já o vi recebendo reclamações de motoristas mal encarados e grossos com ele não é brincadeira.

— Tudo. E você, Dr. Miller? – ele pergunta de volta, e meu sorriso aumenta.

— Estou ótimo! – respondo. Ele me entrega o ticket do estacionamento e vou para a minha vaga, já conhecida e reservada para mim. Encaro-me no espelho retrovisor e, mesmo tendo dormido oito horas e com um sorriso, ainda pareço cansado.

Desligo o carro e desço. Passo pela grande porta de vidro do hospital e percebo que as enfermeiras ainda não saíram da greve. Isso pode acarretar mais problemas e me sinto mal em pedir férias quando o hospital está tão necessitado, mas passei tanto tempo colocando a vida de outras pessoas na frente da minha, que sinto que é hora de fazer algumas mudanças.

O hospital sempre será um lugar que é bom e mal ao mesmo tempo. Um lugar de vida e morte. É um meio a meio. Não é aquela de 8 ou 80. É intermediário. Pessoas com roupas brancas estão correndo de um lado para o outro, há pessoas chorando e outras sorrindo e suspirando de alívio.

Sou a única pessoa em frente às ala do meu chefe. Assim que cheguei ao hospital, vim direto para cá. O corredor está vazio e a porta dele está fechada e estou posicionado em um lugar onde Dr. Carter não consegue me ver, apesar das paredes da sala serem de vidro.

— Vai ficar parado aí para sempre? – Viro o rosto assustado. A voz conhecida está do meu lado e é a Dra. Harrison.

— Elena! Oi!

Por Elena trabalhar na pediatria estranhei vê-la ali, no corredor do Dr. Carter, na ala dos cirurgiões.

— Oi! – ela diz.— Pretende tirar umas férias?

— Está tão na cara assim?

— Sim. Todo mundo vem aqui perturbar Dr. Carter por isso. Francamente, eles não deveriam nem ser médicos se pedem férias o tempo todo.

— Sem querer ser rude, mas o que você está fazendo aqui? Não deveria estar na pediatria?

— Não sei por qual motivo o Dr. Carter resolveu cuidar da greve das enfermeiras. Meus estagiários estão se revoltando também, e ele é o que mais mete medo aqui no hospital.,Se Oscar for lá dar uma bronca é lógico que os estagiários voltam a trabalhar em dois segundos. Ele não é conhecido como "das trevas" à toa.

Eu rio. Dr. Carter tem um apelido especial aqui no hospital. Não é como se todo mundo falasse isso pra ele. Nem ele sabe que o tem. E espero que não saiba por que é capaz de começar a mandar todo mundo pra casa até achar o engraçadinho que começou a piada toda.

— Hm... Pode ir falar com ele primeiro então – sugeri.

— Deus... Quem sabe ele não dá uma bronca nos pacientes também. As crianças estão se recusando a tomar os remédios e os pais ficam fazendo birra também. Miller, porque diabos eu fui fazer pediatria?

Eu solto uma risada leve.

— Também me pergunto isso todos os dias. Porque fui ser cirurgião? Porque, apesar de toda a dificuldade, eu amo o que eu faço, Dra. Harrison.

— Os dois vão ficar de papo aí ou vão atender alguns pacientes? – a voz do Dr. Carter preenche o corredor logo após a porta de sua sala ser aberta. Ele aparece tão acabado quanto eu estava no dia da cirurgia de Hannah. Literalmente, se alguém precisa de horas de sono nesse hospital, é o próprio Carter. Essa greve deve estar dando mais dor de cabeça do que parece.

Dr. Carter suspira e encosta sua cabeça na porta.

— Tudo bem – ele fala com a voz leve.— Esse hospital está um caos e os pacientes não colaboram. Inferno. E você, Dr. Miller, o que quer?

Sinto-me mal por pedir férias assim; o hospital precisa de gente trabalhando mais do que nunca, mas eu ainda preciso tirar um tempo pra mim e não tenho nada a ver com enfermeiras ou pacientes da ala de pediatria. Sou apenas um cirurgião que precisa dormir e ir a um evento musical.

— Férias. Um mês. – respondo sua pergunta. Ele junta as sobrancelhas. Dr. Carter está evidentemente confuso com o meu pedido pela simples razão de eu nunca sair de férias, pelo contrário, eu tinha ficado no hospital até durante o Natal e Ano Novo do ano anterior, e eu mesmo insistia para ele me deixar ficar.

— Pode dar o fora daqui, Miller! Só quero ver você nesse hospital daqui a trinta dias – ele diz me encarando depois de ter processado a informação.— Você está tão cansado que é capaz de matar algum paciente por causa do sono excessivo. E Dra. Harrison, me dê meia hora. Eu só preciso de um copo de café para ir dar uma bronca nesses imbecis que nem sei como passaram na faculdade de medicina...

Então, Dr. Carter retorna para dentro de sua sala fechando a porta. Elena me olha com a sobrancelha erguida.

— Como conseguiu tão rápido as férias? – pergunta curiosa.

— Minhas horas extras – respondi — Eu não me lembro da última vez que tirei umas férias desse hospital desde que comecei a trabalhar aqui como residente.

— Ah... E, ah, eu devo reforçar a você que o assunto sobre você ter ficado observando a garota dormir está a mil pelo hospital. Tirar férias agora não me parece uma boa ideia caso você não goste de fofocas como esta.

— Eu não me importo com fofocas, Elena, só quero minhas horas de sono merecidas.

De fato, esse hospital tem mais fofoca do que gente doente. E essa é uma das coisas que me irrita por aqui.

— Até mais, Elena, vou tirar minhas devidas férias.

— Até mais, Dr. Miller.

Vejo Elena sumir pelo corredor e faço o mesmo, mas eu pego um caminho diferente do dela e vou direto para o estacionamento, pensando que tenho que comprar um ingresso para um festival de sica assim que chegar em casa.

Para Sempre ElaWhere stories live. Discover now