Insônia

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Voltamos todos para o apartamento.
Ernest e Lucy não quiseram voltar para suas respectivas casas, por isso estamos todos enfiados no pequeno apartamento, que contém apenas um quarto. Para Ashley e eu está ótimo, até porque não temos problemas em dividi-lo. Só que agora ficou pequeno demais, Ashley se apossou de sua cama, Lucy praticamente roubou a minha, Ernest já se arrumou no colchão no canto do quarto e eu?

Infelizmente só me restou o sofá! Também ninguém mandou ficar enrolando no banho e não ir deitar logo.

Todos já se prepararam para dormir, enquanto eu não consigo pregar o olho. Arrumei o sofá, enchendo-o de cobertores para não acordar toda dolorida, peguei alguns travesseiros e mais uma manta para me cobrir, só que o sono simplesmente não vem. São quase quatro da manhã e cansei de tentar me induzir ao sono, sei que não vai adiantar mesmo, a hora que ele quiser vir ele virá.

Decidi colocar água para um café, se é pra ficar sem sono vamos fazer da maneira certa.
Eu amo café! É simplesmente divino.
Peguei esse gosto depois que me mudei para Sidney e comecei o curso. Virou um vício, principalmente nas épocas de provas na faculdade, estranhamente ele me deixa mais calma e assim eu conseguia me concentrar mais. Mas também gosto da maneira que ele me aquece por dentro. Resumindo, não existe coisa melhor do que café, pelo menos para mim!

Estou na minha terceira xícara, quando Ernest aparece na sala com a maior cara de sono, mesmo assim ele continua extremamente gato. Ao me ver abre um sorriso que poderia iluminar o bairro inteiro.

Como ele consegue?

Além de acordar lindo, ainda acorda de bom humor. Já eu, sempre acordo toda descabelada, com olheiras gigantescas e com cara de poucos amigos.

Ergo minha xícara em sua direção num convite silencioso para ele me acompanhar no café, ele concorda e vai em direção à cozinha servindo-se de um pouco também.

- Não está conseguindo dormir também? - Ele pergunta sentando do meu lado no sofá.

- Na verdade nem tentei. - Respondo soprando meu café, na tentativa de esfriar um pouco.

Ernest apenas me observa atentamente. Não sei dizer o que é, mas ele consegue ser tão diferente as vezes. Que homem dormiria junto de três mulheres e não tentaria nenhuma gracinha? Apesar de reparar que Lucy anda dando umas indiretas bem diretas nele, até agora ele vem se fazendo de desentendido.


- Quanto café você já bebeu?


- Hum... Digamos que muito. - Dou um pequeno sorriso para ele, que não me retribui apenas me olha sério.

- Você não deveria ingerir tanta cafeína essas horas, ainda mais com o estômago vazio, vai acabar passando mal.

Plena madrugada recebendo bronca de um amigo, é tudo o que eu mais queria na vida!

Eu até poderia retrucar, mas a questão é que ele tem razão. A quantidade que tomei de café vai me causar uma baita dor de estômago depois.

- É tem razão, só vou terminar essa eu juro. E você mocinho, o que te fez perder o sono? - Questiono de maneira descontraída.

- Pra falar a verdade também não consegui dormir, estou com alguns pensamentos que estão me deixando inquieto.


- E posso saber que pensamentos?

Ele retribui minha pergunta com um sorriso sacana.

- Quem sabe um dia. - Responde por fim.


- Vou esperar esse dia chegar então!

Término meu café e deposito a xícara na mesinha de centro, Ernest faz o mesmo. Mais uma vez ele volta a me encarar e ficamos assim por um tempo.

- Você tem que dormir uma hora sabia? Se passar a madrugada inteira acordada, só vai piorar a ressaca depois. - Adverte ele.

Até parece que ele também não terá uma ressaca daquelas.

- Eu sei, mas eu não consigo dormir. Não tem jeito o sono não vem.


- Vem aqui. - Ao dizer isso ele gesticula para seu colo.

- O que? - Quase acordo às meninas com o grito que eu dei.

Ele está doido? O que pensa ao me fazer essa proposta.


- Calma! - Ele da uma gargalhada. - Me deixa te fazer dormir, não se preocupe não tenho segundas intenções só quero te fazer um cafuné, posso?


Ele ainda continua com os braços esticados, para que eu me deite em seu colo.
Parece que não há nada demais em sua proposta, mas mesmo assim será que devo deixar? Isso nos tornariamos muito íntimos, não que eu ache isso uma coisa ruim. Só não quero confundir as coisas.

Por outro lado quem não gosta de um carinho antes de dormir.
Realmente é um convite tentador demais.


- Tudo bem. - Respondo baixinho.

Me deito no sofá e apoio minha cabeça em seu colo, puxo as cobertas até alcançar meus ombros.
Não demorou muito para ele começar a massagear meus cabelos, fazendo movimentos circulares.


Nossa! Tinha me esquecido de como era bom isso. Suas mãos foram descendo e agora estão em meu pescoço, passando suavemente. Faz muito tempo que alguém não fazia esse tipo de coisa por mim, que a situação chega ser meio estranha.

Não pude segurar o suspiro relaxado ao sentir que aos poucos a tensão foi sumindo, junto com todos os problemas do dia. Cafuné é mesmo muito relaxante e Ernest sabe fazer maravilhosamente bem.


- Isso relaxe Clara. Pode dormir eu vou cuidar de você. - Sua voz é tão suave e calma ao me dizer isso.


Não sei quanto tempo já se passou, mas ele continua ali comigo e eu ainda estou deitada em seu colo, sinto que o sono aos poucos vai me dominando. As mãos de Ernest agora estão em meus braços, fazendo carinho por toda aquela região de baixo da coberta.
Eu até argumentaria sobre ele estar indo longe demais, se eu já não estivesse caindo no mundo dos sonhos. Então adormeci sem me importar com mais nada.

Acordo assustada e levando num salto, ainda estava no sofá e o mais estranho é que Ernest continuava no mesmo lugar.

Que louco dormiu sentado, mas porque? Ele podia muito bem ter ido pro quarto.


- Ernest! - Balanço seu braço tentando fazer com que ele acorde.

Mas está dormindo tão profundamente que nem sequer se move do lugar. Tento mais uma vez e nada.
O melhor é deixa-lo. Para que também vou acordar o coitado, já passou a noite inteira aí.

No momento em que vou me levantar, seus olhos se abrem meio sonolentos e me encaram de uma forma carinhosa.

- Porque dormiu no sofá? Podia ter ido para o quarto, é horrível dormir sentado seu doido.

- Não precisa se preocupar, eu nunca dormi tão bem e também depois que eu pego no sono, apago de vez.


- Tudo bem, se você está dizendo né.

Ficamos em silêncio, por algum motivo me sinto sem jeito perto dele, parece que o clima entre nós mudou um pouco, isso é muito estranho.


- Ham... Clara, eu ...

No momento que ele vai me dizer alguma coisa, entra nossa amiga Ashley na sala.


- Aí estão vocês! Podem me dizer quem inventou de fazer café aquela hora da madrugada? Eu quase não consegui dormir com aquele cheiro impregnado no apartamento.


Não consigo controlar a gargalhada. Eu a conheço melhor que ninguém e sei que Ash conseguiria dormir mesmo se o apartamento estivesse desabando sobre sua cabeça...





Atualizado 05/11/21



Apaixonada por um CEOOnde histórias criam vida. Descubra agora