Meias Verdades [Completo]

Capítulo 39

Era um fim de tarde bonito de outono as folhas das árvores estavam ficando secas e caindo. Muito bonito de ver o contraste das cores com os últimos raios do sol do dia. O local em que Michael fora enterrado ficava no topo de uma colina. Emily fez questão de ele ser enterrado ali. Sabia da admiração que Michael tinha por aquela cidade, perdeu a conta de quantas vezes o viu por horas sem fim a observando por sua janela no antigo apartamento em que viveram felizes por anos. Ela não daria menos que isso a ele.

– Sra. Hoffman. – Alex apareceu do nada ao seu lado no cemitério em frente ao túmulo de Michael.

Havia passado um ano de sua morte e todo dia 18 dos meses, Emily ia até lá e deixava para ele um ramo de flores. Sentia ainda sua falta. Era dolorosa demais a sua ausência. Michael foi o homem a quem mais amou e sentiu ser amada de volta. 

Após a sua morte ela decidiu continuar com o tratamento não queria mais ser como era. Não queria mais ferir ninguém como ela o feriu. Precisava dele de volta, queria poder olhar novamente naqueles olhos tão azuis que às vezes a incomodava, queria poder ouvir novamente a sua voz naquele timbre constante e pausado, queria observar os seus gestos e forma como coçava a barba quando algo lhe irritava, porém o que ela mais queria e precisava era de seus braços a envolvendo e trazendo de encontro ao seu peito. Era quando sentia o seu coração bater, o coração que ela nunca mais sentiria.

– Alex, que surpresa! – sorri finalmente um rosto amigo depois de tanto tempo. – Na verdade não é, né? Apenas eu e você viemos aqui, mais ninguém. – ela se ajoelha e deixa o ramo de flores e se volta novamente para Alex – Melhor assim pelo menos somos as duas pessoas que se importava e o amava.

– Está tudo bem com a Sra. Hoffman? – ele a olha sério.

– Não precisa mais me chamar assim. Agora existe outra Sra. Hoffman.

– Para mim os únicos Hoffman que existem é você, Emily e ele... – pela primeira vez e última ela escutaria Alex pronunciar o seu nome – Aquela moça e o rapaz jamais serão um Hoffman.

– Que Jonathan não lhe ouça! Não gostaria que nada de mau lhe acontecesse. Obrigada por tudo. – ela segurou em suas mãos – Obrigada por me conter quando eu pedi e principalmente obrigada por sua fidelidade ao Michael de nós dois você é o melhor.

– Não sou. Se fosse ele ainda estaria vivo. – ele solta as mãos dela e coloca as suas dentro do bolso.

– É sim, Alex! Nunca pense o contrário. – eles vão caminhando até a saída do cemitério lado a lado. – Um dia saberemos quem fez isso com ele.

– Tenho certeza que sim, Sra. Hoffman e não se preocupe que estarei aqui para vingar a sua morte. Não precisa se preocupar e nem sujar as suas mãos, isso é uma questão de honra para mim.

Emily não sabia que ele já havia feito isso. Alex investigou muito a morte de Michael. Tinha um contato no hospital em que o corpo de Michael fora levado e de lá conseguiu uma amostra do seu sangue. 

Levou essa amostra para que fosse analisada por pessoas de sua confiança e nela detectaram uma sustância que se não fosse procurada passaria batida e foi o que aconteceu. 

Alex conhecia essa substância e sabia do era capaz. Foi essa mesma que ele colocou no vinho de Mary e a obrigou beber imersa na água fria. Alex adorou ver o terror nos olhos da mulher e por um breve momento sentiu a presença de Michael ao seu lado enquanto a vida se esvaia de Mary diante de seus olhos. Sempre suspeitou dela e não teve dúvidas que ela era culpada assim que a tortura iniciou, Mary lhe contaria tudo, desde a morte de Bob até chegar na do Michael.

– Sempre fui intrigada por você. O que aconteceu entre vocês dois para que fosse tão fiel?

– Existem histórias que não merecem serem contadas, essa é uma delas. – ele continuava com o seu olhar ao longe, porém ela sentiu uma hesitação em sua voz.

– Entendo. – Emily parou diante dele e estende a mão, Alex lhe retribui o gesto – Adeus, Alex.

– Adeus, Sra. Hoffman. – ela se virou em direção oposta a dele que ficou a observando se distanciar e então retornar a falar: – Ele sempre vai toda quarta-feira naquele bar da esquina.

– Ele quem? – ela sabia de quem ele falava, porém não conseguiu entender o porquê Alex estava mencionado isso.

– Thomas Paige. – ele faz uma pausa e ambos apenas se olham – Toda quarta-feira provavelmente ele já deve estar lá.

– Adeus, Alex! 

Emily não esperou uma resposta e voltou a seguir o seu caminho até o carro que estava estacionado alguns passos adiante.

Depois da morte de Michael seu estilo de vida mudou drasticamente. Ainda morava com os pais e agora trabalhava em uma empresa que prestava assessoria jurídica para outras. Trabalhava com horário rígido e teve que se adaptar a essa nova vida sem muitos privilégios. Frequentava as reuniões regularmente tomava a sua medicação o que ajudou e muito a conter seu vício, a tristeza também ajudou nesse processo, afinal já não tinha vontade de fazer quase nada.

Thomas Paige depois da separação com Jessica adquiriu um hábito para sair um pouco da monotonia ia toda quarta-feira até o bar em que viu Emily pela primeira vez. O primeiro encontro deles aconteceu em uma quarta-feira. Nesse dia estava fazendo três anos desde que se viram pela primeira. 

Tom terminou sua bebida e foi em direção ao banheiro. Um pouco antes de entrar no banheiro escutaria a sino da porta do bar bater. Tom odiava aquele barulho irritante. Bufou e continuou. Jogou água em seu rosto, nesse momento sentiu um vulto passando pelas suas costas e assim que termina de enxugar o seu rosto ele a vê ali pelo reflexo daquele espelho mal cuidado. 

Estava um pouco diferente do que costumava ser. Suas roupas não eram tão chiques e elegantes como antes. Seus cabelos estavam mais longos. Mas uma coisa continuava a mesma: o poder de hipnotizá-lo. 

Era aquele olhar, o qual o levou para onde jamais pensou em ir e agora após todo aquele tempo estava vendo novamente. Seu estomago revirou. Os sentimentos que antes estavam adormecidos se afloraram. E quando ela tocou sutilmente em sua mão percebeu que jamais estaria livre e pior não queria estar.

Fim.