Epílogo

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Apenas a luz amarelada das arandelas dava contornos aos corpos em movimento sincronizado. Uma gota de suor escorria pela linha da coluna até chegar próxima às covinhas sobre as nádegas do corpo esculpido daquela mulher, que sabia tirar os homens de seu eixo e deixá-los totalmente à mercê dos seus apelos. E era exatamente isso que acontecia naquele quarto de hotel, no coração de sua Londres.

As mãos largas e firmes do homem subiam pelas coxas torneadas em direção aos quadris que não paravam de se movimentar. Passearam pela pele macia da barriga quase inexistente e, no ato, a mulher jogou o corpo para trás, fazendo que os seios saltassem aos olhos do homem, que a contemplava e desfrutava daquele prazer oferecido.

Sua boca encheu de saliva, como se fosse provar seu alimento favorito, o que não podemos dizer que não fosse verdadeiro. Aquela mulher era uma iguaria que deveria ser degustada e sorvida com desejo.

Uma das mãos do homem subiu em direção aos seios, pressionando o bico rijo, enquanto a outra desceu ao encontro da parte do corpo dela que engolia o dele e o encharcava de gozo. Ele conseguia se ver entrar e sair quase completamente dela, e em um desses movimentos de retorno pressionou o ponto mais sensível daquele corpo feito para o delírio.

Ela gemeu alto, mordendo os lábios para logo em seguida chupar os dedos da mão que cobria seus seios. E mexeu mais rápido, indicando que ele não devia parar com o estímulo sobre seu clitóris. O homem não tinha essa intenção, estava tão ou mais excitado depois de vê-la se entregar a seus apelos carnais.

A essência dela escorria e encharcava os lençóis brancos de algodão egípcio daquela cama generosa que acolheu os amantes naquela noite especial - noite com a qual a mulher pouco estava se importando, contanto que tivesse um orgasmo memorável, algo que não tinha há muito tempo.

Emily Hoffman cavalgava com afinco o escolhido naquela noite para lhe dar o prazer tão procurado. O rapaz estava se saindo de forma satisfatória, porém ela sabia que aquela combinação perfeita de três anos antes jamais reencontraria. Seu marido agora era apenas uma lembrança e seu amante perfeito há muito deixara de lhe oferecer aquilo de que necessitava; assim, com o passar do tempo, o animal antes controlado à solta e com muita fome.

Esse animal não estava atrás apenas de sexo, mas de vingança por tudo que havia acontecido. Michael ainda mexia com o seu coração e, de certa forma, ela sentia que devia a ele uma vingança. E ali, enganchada naquele homem que lhe lembrava vagamente de como ele um dia havia sido, soube o que deveria fazer.

O som dos fogos de artifício se misturou aos gemidos dos amantes insaciáveis. Um novo ano começava e Emily tinha decidido ali, naquele momento, antes de gozar, que iria recolocar o império Hoffman no lugar de onde nunca deveria ter saído: no topo.

E, ao pensar nisso, seu corpo correspondeu com mais agressividade e dessa forma ela e o homem quase se tornaram apenas um ser. Unidos entre secreções, salivas e ódio. O homem gozou e Emily o manteve ali pressionado dentro de si, exigindo mais e mais.

Ele saiu de dentro dela, jogando-a de costas do lado oposto em que estavam. Abriu- lhe as pernas e a sugou com violência. Emily, por sua vez, forçou a cabeça dele cada vez mais até que lhe faltasse o ar. Suas pernas posicionadas sobre os ombros do homem também o impediam de abandonar o posto antes que ela assim o quisesse. Os lábios dele envolveram por completo o clitóris inchado, sugando e sorvendo o líquido que ela expelia.

O prazer iminente lhe subia pela espinha até o couro cabeludo, fazendo que se arrepiasse inteira; a força de suas pernas se esvaiu quase por completo, o que possibilitou que o homem, encharcado pelo desejo de Emily, se libertasse e novamente a invadisse, com o pênis já restaurado e pronto para dar a ela o que buscava.

Escorregou fácil para dentro dela, arremetando várias vezes, em estocadas rápidas e profundas. Em todas elas, Emily gemeu alto, com um misto de prazer e dor estampado na face avermelhada pelo calor de seu corpo.

Emily ardia em febre. Alucinava. Sua visão já não mais lhe mostrava a realidade. O fantasma dele estava lá lhe invadindo. Indo cada vez mais fundo e a confundindo cada vez mais. Cravou suas longas unhas nas costas largas daquele espectro e então se libertou.

Quando tudo acabou, quando o peso antes sobre seu corpo foi posto de lado e não era mais ouvido qualquer sinal de que uma festa universal estava acontecendo, a sensação de vazio voltou a tomá-la com força.

Já não desejava estar ali. Queria ter o poder de voltar no tempo. Para três anos atrás. Pensando melhor, Emily gostaria de voltar mais tempo ainda. Para a época em que apenas ele lhe bastava. Para a época em que eram exclusivos um do outro - ou melhor, Michael sempre fora seu, ela é que havia se rendido a esse vício desenfreado.

Seu terapeuta teria um trabalho complicado pela frente. Isso se ela voltasse a frequentar as consultas, algo que não estava nada disposta a fazer.

Assim que o homem deixou o quarto, pensou em ligar para uma pessoa que talvez lhe conectasse com essas sensações do passado. Desistiu assim que o primeiro toque ecoou. Não estava com disposição para lidar com as lamúrias de Thomas Paige.

O reencontro no banheiro do bar onde tudo havia começado foi satisfatório por um tempo, mas Michael não estava mais entre ele, ou seja, o ponto de equilíbrio daquela relação não tornaria a existir, e ficar com Tom fazia que ela sentisse ainda mais aquela ausência. Em contrapartida, foi justamente esse reencontro que possibilitou a ela tomar novamente as rédeas de sua vida.

Emily Hoffman voltaria a ter sua imponência, tornando-se o braço direito de outro homem de negócios. Precisava fazer contatos, para assim se tornar o que desejava ser: Sra. Hoffman, com toda a força que esse nome podia significar.

Ao guardar o celular na bolsa, sentiu com o toque de seus dedos a textura do envelope que havia sido entregue no começo da semana em seu escritório. Dentro dele havia um objeto, sem uma carta ou bilhete explicativo: apenas uma chave de cor amarelada com números gravados nela.

Não era uma chave simples e ela sabia disso. Aquela chave revelaria coisas que talvez ela devesse deixar esquecidas, porém sua curiosidade certamente falaria mais alto. Emily teria de usar aquela chave para abrir um cofre e descobrir, tinha certeza, algo que Michael deixara escondido.

Nunca aceitara a forma como tudo havia acontecido e como aquele moleque insignificante tomara o posto do único homem que amou e ainda amava. Quando soube da nota de falecimento de Mary, teve certeza de que aquela mulher havia matado Michael e que Jonathan era seu cúmplice - apenas não tinha meios de destruir aquele infeliz, mas não iria descansar até conseguir.

Tinha um sorriso sarcástico ao segurar a chave brilhante entre os dedos. Ideias transbordavam em sua mente. Precisava encontrar Alex e sabia exatamente como. Michael, meses antes de morrer, confidenciara a ela seu método de enviar mensagens a seus comparsas. Eles se comunicavam por meio de anúncios nos jornais. Infelizmente, teria de esperar o próximo dia útil para executar essa parte do plano.

Agora, com a estratégia armada em sua mente, necessitava de um trago de uísque e de mais uma foda. Desceu para o lobby do hotel, que estava cheio de pessoas, ainda comemorando a chegada do próximo ano e as juras de que tudo será melhor. Emily sorriu para seu reflexo no espelho atrás do balcão do bar. Esse ano tudo iria mudar, disso ela tinha certeza. O império Hoffman se ergueria novamente, com alguém mais competente, com alguém disposto a tudo para deixar o nome da família gravado na história. O renascimento Hoffman e sua ascensão inabalável.

Com o copo pela metade de líquido de cor âmbar, elevou um brinde diante de seu reflexo, com aquele sorriso malicioso.

— Feliz Ano Novo, Michael. Bem-vindo ao império Emily Hoffman!



Meias Verdades [Completo]Where stories live. Discover now