Capítulo Dezoito

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Artur saiu e me deixou sozinha naquela casa com um garoto loiro, que estava encarregado de me vigiar. Apesar disso, eu estava mais preocupada com outros assuntos. Como eu iria contar para Layla que nós não poderíamos mais se ver? Eu não saberia nem por onde começar, e além disso, eu estava trancada em uma casa, sendo vigiada. Eu olhava para os lados e não encontrava mais a saída daquilo, até o desespero começar a vir. Eu precisava falar com a Layla, eu não podia sumir e abandoná-la.

Nesse momento, eu comecei a chorar. Meu pai tinha morrido na minha frente e eu estava prestes a abandonar a garota mais especial que já conheci, além dos meus amigos e minha família. Era surreal demais para se engolir.

O garoto loiro deve ter visto que eu estava chorando, porque ele se aproximou de mim e perguntou:

- Ei, não chore. Eu sei como é ter que sumir e abandonar tudo. Eu posso ajudar você a se despedir de sua família, se você quiser.

- Mas isso não iria te prejudicar? - perguntei, entre soluços - O seu papel é não deixar que eu saia daqui e seja vista, afinal.

- Vamos voltar antes de alguém perceber que você saiu.

Apesar de aquela não ser a questão - eu queria mais falar com a Layla - eu aceitei. A minha casa era do lado da dela, então eu podia me despedir de minha família e dela numa tacada só. 

- Tudo bem, eu quero sua ajuda sim. - respondi.

- Ok, me espere na porta da casa à meia noite. - ele explicou.

Fiquei feliz e parei de chorar.

- Muito obrigada, ... Qual é o seu nome?

- Meu nome é Jayden, e de nada. 

- Prazer, Jayden. Eu sou a Can... Megan. Megan Acaster. 

- Até meia noite, então, Megan. 

Eu mal podia esperar para dar a hora. Fiquei olhando para o relógio, ansiosa. Cada minuto parecia um século de espera, até que finalmente, a hora chegou. Era meia noite, então fui encontrar Jayden. 

- Bom, vamos logo. Precisamos ser rápidos. - ele disse.

Fomos andando cautelosamente por uma rua escura, em direção a uma floresta. Entramos nela e eu o segui por uns bons 10 minutos. Estávamos no meio da floresta. Ele parou quando avistou o que parecia ser um furgão velho, cheio de folhas secas e sujeira por cima, que ele limpou rapidamente com as mãos.

- Esse é o furgão dos meus pais. Ele é discreto, então o usaremos para ir até sua casa... O que está esperando? Entre. 

Entrei, ele ligou o carro e comecei a explicar onde minha casa ficava. Não demoramos muito para chegar, ele conhecia bem a cidade. Ao chegarmos na minha rua, comecei a me emocionar. Nada seria como antes, daqui pra frente. Entrar naquela rua nunca mais teria o mesmo tom de normalidade, aquela não seria mais minha casa. Tudo aquilo me deixava um pouco tonta.

- Chegamos, minha casa é a próxima. - eu disse.

- Ok. - ele parou em frente a ela - Você tem 20 minutos. Não posso ficar parado aqui, então vou até aquela próxima esquina te esperar. Não demore, lembre que você não poderia ter saído em primeiro lugar.

Concordei e saí do furgão. Olhei para a minha casa e fui logo para a garagem, pegar a moto que meu pai havia me dado de presente. Eu queria muito ficar com ela, era uma das minhas maiores lembranças dele, agora. De repente, ouvi que alguém se aproximava de mim e congelei. Olhei para trás e...

- Candice? É você?

- Frank! - eu corri e o abracei - Frank, ninguém pode saber que eu estive aqui. Eu preciso que você diga ao Aaron e à minha mãe que eu os amo!

- Sim, senhorita Candice. - ele disse,  ainda me abraçando - Eu tenho algo pra você. Espere aqui.

Frank se virou, entrou rapidamente na casa e voltou com uma bolsa.

- Isto era de seu pai, e agora é seu, senhorita. - ele abriu a bolsa.

Quando eu olhei para dentro dela, quase engasguei.

- Qua-Quanto dinheiro tem aí, Frank? - perguntei, espantada.

- Cem mil dólares, aproximadamente. Seu pai guardava isto caso acontecesse algo com você ou Aaron. 

Fiquei supresa. Peguei a bolsa, botei minha mão dentro dela, pegando um bolo de dinheiro, e dei ao Frank. Ele ficou surpreso, mas eu insisti que ele pegasse o dinheiro.

- Frank, cuide do meu irmão e minha mãe, por favor! Eu... Preciso ir. - o abracei.

- Adeus, senhorita Candice. - ele deu um beijo em minha testa.

- Adeus, Frank. 

Me virei, relutante, e levei a bolsa e minha moto para o furgão. Ao chegar, Jayden me ajudou a colocar tudo lá dentro.

- Jayden... Eu preciso de mais uns minutos!

- Megan, temos que ir! É questão de vida ou morte?

- Sim... Tem essa garota, e... Eu gosto muito dela. Preciso me despedir. A casa dela fica ao lado da minha.

- Tudo bem, mas você tem 5 minutos! Precisamos muito ir!

Concordei mais uma vez com ele e saí correndo para a casa de Layla. Chegando lá, comecei a jogar pedrinhas na janela dela. Ela logo percebeu, me viu e desceu. A observei enquanto ela andava até mim. Seu sorriso ia de canto a canto do rosto e seus olhos brilhavam. Já eu, estava triste e até um pouco cabisbaixa, mas a ver me deixara um pouco mais feliz. 

- Candice! - ela me abraçou e me beijou, até perceber minha tristeza - O-o que houve?

- Meu pai morreu, Layla... Ele foi assassinado. - contei.

- Ah meu Deus! - ela me abraçou de novo.

- Layla, espera... Eu vim aqui me despedir de você, essa é a verdade.

- Despedir? Por quê? - ela perguntou, confusa.

- Eu... Eu não posso dizer o porquê disso. É pro seu próprio bem, eu preciso de você segura, porque... Layla, eu... Gosto muito de você.

- Gosta muito? Olha, tudo bem, Candice. Não tem problema se você não quer me contar. 

- Não fica brava, por favor! É uma situação de vida ou morte, eu não posso evitar. Ninguém pode saber que eu estive aqui, ninguém. Eu... Eu preciso ir.

- Candice, eu... Eu te amo. Por favor, fique bem, e tenha uma boa vida. - ela começou a chorar e me abraçou de novo.

Eu a beijei e sequei suas lágrimas, com as mãos em seu rosto.

- Tenha uma boa vida, Layla. Adeus.

Saí rápido para tentar extinguir aquela dor enorme. Parecia que me faltava ar, que faltava um pedaço de mim depois de ir daquela forma. Eu não queria olhar para trás, mas sabia que ela estava lá parada, olhando eu ir e chorando, enquanto mantinha os braços cruzados. Aquilo foi, de longe, a coisa mais dolorosa que tive que fazer naquele dia. Nada importava mais, pois eu havia deixado uma garota maravilhosa pela qual eu tinha sentimentos muito fortes.

Fui correndo até o furgão. Enquanto eu me aproximava, um pensamento muito inusitado veio à minha cabeça. Aquela situação era inusitada, igualmente. Como seria a vida de alguém que trabalha pro FBI? Seria sempre daquela forma, se escondendo, sem amigos ou família, esgueirando-se pelas vielas escuras da cidade? Eu havia me interessado por aquilo e queria conhecer mais.

Chegando lá, Jayden já havia ligado o carro.

- Entre! Precisamos ir agora!

Entrei rápido, e quando ele começou a andar, perguntei:

- Acho que eu queria saber mais sobre a vida de um agente do FBI, ou como se tornar um.

- Você está interessada nisso?

- Bom, agora que preciso viver escondida, sem que ninguém me reconheça... Acho que sim, talvez.

E voltamos para a casa.




Only Wolf 3 - RecomeçoWhere stories live. Discover now