Capítulo Vinte E Oito

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Sete dias se passaram desdo acidente, e eu já não sabia o que era comer direito, tomar banho ou dormir com conforto (a cadeira do hospital não era nada boa de se dormir). Aaron vivia trocando de turno comigo para que eu pudesse descansar pelo menos cinco minutos sem que Layla ficasse sozinha.

Mesmo ela em coma, não se lembrando de nada, não gostaria que ela sentisse que estava só naquele quarto frio e cheio de aparelhos. Eu mesma, se estivesse em coma, não iria gostar que ninguém ficasse ali comigo, compartilhando de um silêncio mortal, interrompido com os bipes de meus batimentos cardíacos.

Um dia ou outro eu passava no trabalho para dar satisfações, e Artur, como sempre, era muito compreensivo sobre tudo o que estava acontecendo.

Eu estava com fome, então decidi comer algo e tomar um café para repor minhas energias, já que ficar sem fazer nada era no mínimo tedioso e isso, por alguma razão, me cansava:

- Com licença! - Disse uma enfermeira, interrompendo meus pensamentos.

- Sim? - Perguntei, me ajeitando na cadeira do refeitório do hospital.

- Ela acordou!

Ao som dessas palavras um sorriso surgiu em meu rosto, uma felicidade estupenda invadiu as fibras do meu coração.
Me levantei da cadeira e a enfermeira me conduziu até o quarto, mas antes que entrassemos, ela segurou em meu braço

- Antes de entrar, você precisa saber que tem que ir devagar com ela. - Disse a enfermeira. - Não pode chegar toda eufórica, ela pode estar confusa.

- Tudo bem! - Disse, me soltando da mão da enfermeira. Ela deu um sorrisinho de canto e abriu a porta. A ansiedade tomou conta do momento e minhas mãos ficaram tremulas.

Layla estava com um curativo na cabeça, havia várias marcas de cortes em seu rosto e pescoço. Mas ela estava linda em todo esplendor de seu ser. Ela estava radiante mesmo estando naquela situação horrorosa, eu à amava de qualquer forma mesmo.

Ela estava de olhos fechados enquanto eu entrava, com o barulho de meus passos ela abriu os olhos lentamente. O médico que verificava algo em seus batimentos cardíacos perguntava como ela estava se sentindo, e quando a resposta foi positiva, me senti segura o bastante pra dizer alguma coisa, também :

- Oi Layla! - Disse, um pouco acanhada. O médico olhou me e fez um sinal para que a enfermeira saísse, e então ele fez o mesmo.

- Daqui cinco minutos eu volto para fazer alguns exames.- Disse ele, fechando a porta. Layla virou o rosto para mim e me analisou de cima em baixo sem responder a minha pergunta.

- Como você está? - Perguntei,na esperança de que dessa vez ela dissesse algo.

- Estou me sentido bem. Só um pouco tonta na verdade. -Respondeu ela ainda me olhando estranho. - O que aconteceu comigo?

- Você sofreu um acidente e bateu a cabeça com muita força. - Respondi, me aproximando ainda mais dela.

- Alguém mais se machucou?

- Como assim.. Alguém?

- Minha noiva, ela estava comigo no carro, doutora?

- Doutoura? - Perguntei, um pouco confusa. - Layla, você sabe quem sou eu?

- Você é minha médica, não é?

Por um breve momento eu me via perdida naquela situação estranha e pertubadora. Minha vontade era de gritar, chorar, espernear até ela lembrar quem eu sou, até ela lembrar que me ama.
Mas ao mesmo tempo, pensei que te-la em minha vida fosse um desafio a cumprir.

Eu sentia o meu coração implorar por ajuda, por não conseguir suportar saber que Layla tinha se esquecido de tudo o que passamos ao lado uma da outra. Era sufocante essa sensação mas eu não podia dizer o que éramos, não quis forçar a barra
:

- N-Não! - Disse, gagueijando. - Sou sua amiga.

- Amiga?

- Sim!

- Estranho eu não me lembrar de você! - Disse ela, franzindo a testa. - Não acha?

- A gente não se via à muito tempo. - Respondi, tentando não derramar as lágrimas que estavam se formando. - Eu soube do acidente e vim te visitar.

- A Margot veio me visitar?

- Todos os dias! - Respondi, mentindo. O tempo todo em que estive nesse hospital, não vi ou ouvi nada à respeito dessa tal de Margot. Mas não era algo que eu iria usar contra ela nesse momento.

- Qual o seu nome? - Perguntou ela.

- Megan.. Acaster.

- Megan, você pode ligar para a minha noiva? Preciso vê-la.

- Infelizmente não tenho o número dela , mas vou pedir para que liguem para ela. - Disse, me virando para sair do quarto antes que ela percebe-se a minha frustração. - Eu tenho que ir.

- Obrigada, Megan. Até logo.

- Até logo. -Respondi,dando uma última olhada no rosto de minha amada. Ao fechar a porta do quarto, dei um longo suspiro. Enquanto eu andava pelo corredor até a saída, as lágrimas que tanto segurei resolveram sair.

Eu chorava sem me importar das pessoas me verem naquela situação. E quando cheguei próxima a recepção, me encostei na parede, descendo-a com as costas até ficar de joelhos. Coloquei as mãos em meu rosto para abafar os gritos de desespero, e fiquei ali por dez minutos naquela posição um tanto derrotada.

Assim que recobrei meus sentidos, me levantei e fui para o estacionamento.
Passei pela cancela e então subi em minha moto e dei a partida.
Comecei a acelerar pelas ruas de Orlando, sem rumo algum. As lágrimas escorriam, enquanto o vento as levavam para longe.

Eu precisava gritar, explodir, acabar com aquela dor terrível que invadia o meu interior. Então eu fui para um penhasco, o mesmo penhasco que meu irmão e eu íamos quando éramos pequenos.
Para chegar nele eu passei por uma floresta e um lindo riacho que cortava todo o lugar. Estacionei a moto próxima à uma árvore enorme e fui caminhando até a ponta do penhasco.

O vento que ali passeava entre as folhas era cortante, meus cabelos bailavam na mesma melodia sinfonica da natureza ironicamente perfeita. Aquilo ali era o fim para mim.

Me coloquei na ponta da enorme (e terrivelmente alta) pedra. Senti ali todo o tipo de sentimento :Medo, decepção, raiva e vontade. Sim, vontade.

A vontade de me jogar parecia me empurrar lentamente para baixo, à exatamente 300 metros da água. Pura queda livre.

Tomei o máximo de fôlego e logo a figura do meu pai surgiu em minha mente. Ele estava sorrindo, com um semblante de felicidade e aprovação. - Eu estou indo, pai! - Disse alto, enquanto as lágrimas escorriam em meu rosto.

Abri os braços e dei um passo impulsionando o meu corpo para frente. Eu já estava convicta de que eu iria morrer ali. Tomei coragem e suspirei fundo. Aquele era o último ar que meus pulmões iriam sentir antes de se entupirem de água.

Outro passo, junto à morte. Meu coração acelerou e a coragem que havia em mim se esvaiu, agora eu só estava sentido medo e arrependimento. Mas era tarde demais.

Ou era o que eu havia pensado, antes de sentir dois braços se entrelaçando no meu abdômen e me puxando para trás, me fazendo cair no chão :

- Você ficou louca?

- Olivia? - Perguntei, assustada. Já não sabia se era por ter quase morrido ou se era por estar vendo ela. - O que faz aqui?

- Parece que eu acabei de salvar a sua vida, né? - Respondeu ela, ofegante.
No mesmo momento eu a abraçei e chorei rios e mares de tristeza. Olivia não perguntava ou questionava meus motivos para quase ter me matado.
Ela me aconchegou em seus braços e me ouviu desabafar por horas, naquela mesma posição.

Only Wolf 3 - RecomeçoWhere stories live. Discover now