Capítulo 3

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 Suportei o resto do dia contando cada segundo para ver se acabava mais rápido. Quando o sinal tocou, quase já estava me ajoelhando e dando graças a deus. Mando mensagem para minha mãe pedindo para ela me buscar. Novamente sou a última a sair da sala, e percebo uma coisa que eu não tinha reparado ainda: tinha uma carteira vazia no fundo da sala, do lado oposto do qual eu estava sentada. Pelo visto alguém tinha faltado.

Eu estava sentada em um banco quando minha mãe chegou. Entro no carro e jogo a mochila no chão do banco passageiro. Eu não digo nada e minha mãe também não dá a partida no carro.

- E ai? Não vai me falar nada? – Ela pergunta ansiosa. – Como foi?

- Sinceramente?

- Não pode mentir se quiser. – Minha mãe ironiza. – Claro Beatriz! A verdade!

Dou um suspiro pesado, apenas para mostrar o quanto eu não queria falar.

- Uma droga! Fui envergonhada, ninguém veio falar comigo e todos cochichavam ou me mediam por onde eu passava. – Desabafo.

Minha mãe revira os olhos, o que era muito raro já que ela odiava e achava esse ato uma falta de educação.

- Disse que ia tentar!

- Mas eu tentei mãe!

- Talvez amanhã seja melhor. – Ela diz dando partida no carro. Cruzo os braços após colocar o cinto de segurança e olho para a entrada daquele colégio pensando em como eu o odiava eternamente e em como eu faria de tudo para voltar minha vida como ela era..

Assim que chego em casa mando uma mensagem para Gabi, minha melhor e única amiga.

Bia: Gabi? Ta ai?

Gabi: Oiii!!! Eai amiga? Como foi?

Bia: Aff nem me fale! Uma droga! Acredita q ningem veio falar comigo?

Gabi: Ixii serio? E nenhum gatinho?

Bia: Ai Gabriela! Para de pensar em menino pelo menos uma vez!

Gabi: kkkk to brincando, lgc q eu tava louca pra saber se vc tava bem tbm...

Bia: uhum...

Gabi: Espero que vc não me troque por uma qualquer ai, pq se não vou ficar beeem brava

Bia: rlx amiga

- Bia! Vem aqui por favor. – Escuto minha mãe me chamar da cozinha.

- Já vai mãe! Um segundo. – Respondo.

Bia: Gabi, preciso ir minha mae ta me chamando

Gabi: ahhhh ta bom amiga, manda um beijo pra ela, amn a gente se fala

Bia: mando sim, beijosss

Gabi: beijinhosss

Eu não me lembro exatamente como nem quando conheci a Gabi, só me lembro que nos conhecemos na escola e foi a muito tempo atrás. Desde que começamos a conversar não paramos mais, e somos amigas a mais de 10 anos. Ela é uma garota baixinha, que anda de salto alto 90% das vezes que saímos. Acontece que quando andamos juntas as coisas ficam mais fáceis para mim, por que eu sempre fui mais tímida e ela a extrovertida, apesar de ela ser extrovertida, não andava com muita gente, mas com certeza com mais do que eu, aliás enquanto eu era convidada para cinco festas, ela era convidada para dez. Mas acabei me acostumando com isso com o passar do tempo, pois ela também sempre foi mais bonita do que eu, estava sempre rodeada de garotos e muitas meninas queriam ser como ela. Gabi tinha os cabelos curtos, na altura dos ombros, e eram ondulados, eram castanhos com mechas loiras e faziam par perfeito com os olhos acinzentados. Seu estilo de roupa era totalmente diferente do meu, e até mesmo seu jeito de falar. Mas ela era minha melhor amiga e me entendia como ninguém.

Desço as escadas e vejo que mamãe está fazendo a comida. Sento no balcão.

- Dá para você descer daí? – Minha mãe diz sem olhar para mim. – Essa casa é nova e quero que dure e continue nova por bastante tempo.

Reviro os olhos e pulo para fora do balcão.

- Desde quando você é tão chata? – Minha mãe diz, finalmente parando de fazer o que estava fazendo para me encarar.

- Desde quando vocês me obrigaram a me mudar e mudar de escola. – Digo com indiferença na voz.

- Meu deus Bia! Mais uma reclamação e vou mudar de ideia sobre você voltar mês que vem. – Ela explode.

- Ah não! – Protesto. – Já não estragou minha vida o suficiente?

Minha mãe muda de expressão repentinamente e parece realmente magoada com o que eu falei. Ela suspira, fecha os olhos e os abre novamente como se tivesse decido ter paciência com uma adolescente problemática.

- Beatriz, escute, acha que está sendo fácil pra mim e seu pai também? Estamos tentado nos acostumar da mesma forma que você, e para gente é ainda pior, por que temos que escuta-la todo dia sobre como você está infeliz. Fizemos isso, por que sabemos que futuramente será melhor para todo mundo, e não decidimos isso de um dia para o outro. – Ela dá uma pausa para ter certeza de que eu estava prestando atenção. – Só peço para ter um pouco de compreensão filha.

Não a respondo de imediato, apenas encaro o chão e mordo o canto inferior do lábio. Eu não tinha outra escolha, e apesar de que não querer admitir, eu sabia que minha mãe estava certa. Eu concordo sutilmente com a cabeça. Ela sorri com um pouco de pena no olhar.

- Obrigada. – Ela sussurra, pega minha mão e a beija antes de se virar novamente para pia. – Me ajuda com o jantar? – Ela pergunta mudando de assunto.

***

Escuto o barulho de chaves, e sei que papai chegou, apesar de trabalhar muito, minha relação com ele sempre foi mais tranquila. Isso por que minha mãe sempre pegou mais no meu pé, então meu pai fazia o papel do pai legal. Claro que minha mãe sempre foi muito boa comigo, e eu sempre gostei muito dela, e apesar de sua rigidez a agradeço muito por ter me criado dessa forma.

- Nossa que cheiro bom! Sorte minha ter duas mulheres como vocês em casa. – Meu pai diz alegre deixando suas coisas na mesa, dando um beijo na minha mãe e depois na minha testa. – E ai filha? Como foi a escola?

- Ah... – Faço uma careta. – Foi normal, acho.

- Normal? – Ele arqueia a sobrancelha. – Então tá bom né. – Diz dando de ombros.

O bom do meu pai é que quando ele percebe que não estou afim de detalhar, ele não questiona, e isso ajuda muito as vezes.

- E o trabalho? – Mamãe entra na conversa.

- Ah. – Ele suspira. – Cansativo, mas legal, tive que arrumar e colocar as coisas na minha nova sala e tive que assinar um monte papelada, o que foi chato pra caramba. E você?

- Fiz umas comprinhas pra casa, a decoração dela está meio ultrapassada, então comprei umas coisas para deixa-la mais bonita.

- Mãe? Pai? Vou subir para fazer umas coisas ta?

- Claro filha. – Papai responde. – Quando terminar, desça para jantar.

Subo os degraus de dois em dois, o meu quarto ainda estava meio vazio, porque a maior parte das minhas coisas ainda estavam nas caixas, acho que eu estava tão chateada com a mudança, que não quis arrumar e por tudo no lugar. Decido que está na hora de tirar e colocar as coisas nos seus devidos lugares, aliás aquela é minha nova casa né?

Uma coisa no qual nunca fui muito boa, é acordar no horário, e esse dia não foi uma exceção. Acordo com os berros da minha mãe.

- Bia! Vai se atrasar para escola logo no segundo dia? Levanta!

Demoro uns segundos para entender o que estava acontecendo, e quando entendo me levanto correndo. Novamente pego a primeira roupa que encontro no armário, pego minhas coisas e desço as escadas correndo.

- Droga. – Resmungo.

Pego uma maçã na fruteira.

- Vamos? – Minha mãe pergunta pegando sua bolsa e a chave do carro.

- Vamos. – Lá vamos nós, mais um dia.



Clichê AmericanoWhere stories live. Discover now