Capítulo 35

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Acordo ainda desnorteada, repasso a discussão da noite anterior em minha mente. A quem eu quero enganar? Parte de mim tinha quase certeza de que era só uma questão de tempo para que Bernardo explodisse. Essa mesma parte de mim queria persistir, não sair de lá, não o deixar me afastar, mas a outra parte queria apenas gritar com ele. E a outra parte ganhou, eu gritei, e virei as costas. Mas eu estava certa e ele errado, eu não iria me desculpar por isso, não iria mandar mensagem, nem iria atrás dele. Ele fez isso com nós, eu não.

É sábado e a essa altura já não estou me importando com muita coisa, ainda estou irritada. Passo o dia na cama, não tenho nada para fazer, e nem quero fazer nada. Bernardo é orgulhoso, e sei que vai precisar de muito dele para me pedir desculpas, ou então ele não vai pedir e vamos cada um seguir seu caminho como se nada tivesse acontecido. Apesar disso quebrar meu coração, porque para mim, isso não foi nada. Talvez para ele tenha sido mais uma na lista, mas para mim tudo isso foi importante.

Pego a minha almofada azul que está em cima da cama e jogo na porta. Odeio meninos. Talvez isso seja um tanto bipolar da minha parte, mas estou brava demais para dar a mínima.

As vezes eu escrevo algumas coisas, mas por hobbie do que qualquer outra coisa. Isso é algo que ninguém sabe sobre mim, nem mesmo meus pais, escrevo poemas, contos, qualquer coisa que tiver na minha mente e tenho um blog para escrever sobre o que eu quiser. Tem um pseudônimo, claro, tem bastante visitantes porque se trata mais das minhas crises bobas de adolescente e sinto que muitas pessoas se identificam. Coloco música, aumento o volume, acho que minha mãe pediu para eu abaixar o som, mas não tenho certeza, não importa, eu não abaixo. Pego meu computador e começo a escrever:

Alguém consegue me responder porque o amor pode ser tão... incômodo?

As vezes nós achamos que estamos amando, mas quem garante? quem garante que isso não passa de uma desculpa para suprir a necessidade humana de não se sentir sozinho?

quem garante que isso não é apenas uma troca de favores?

quero que o amor se f*oda

então aí vai:

querido sentimento que chamamos de amor,

você é desnecessário.

na maior parte das vezes, você causa problemas,

não vejo o proquê de você existir,

com o meu mais sincero sentimento:

vai se foder.

Estava prestes a escrever mais alguma coisa quando a porta abre do nada. Solto um grito ao pular da cadeira:

- Mas que merda? – Pergunto retoricamente.

Bernardo está na porta. Fecho o notebook com força.

- O que você está fazendo aqui? Não sabe bater na porta? – Eu digo abaixando o volume da música.

- Eu bati. Você não ouviu, acho que por causa do Nirvana. – Ele diz apontando com a cabeça. Ótimo agora eu estou ainda mais irritada. Cruzo os braços.

- O que você quer?

- Vim pedir desculpas, não é óbvio? – Ele responde e eu reviro os olhos.

- Mas é claro que você veio.

- É sério Bia, me desculpa. – Ele sorri com a boca fechada tentando dar força para seu pedido.

- Você é péssimo em pedir desculpas. – Falo.

Clichê AmericanoWhere stories live. Discover now