Capítulo 22

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- Filha, você sabe que eu te amo. - Ouço minha mãe dizer, tiro os olhos do meu livro para encara-la. - Eu me preocupo muito com você, mas não acho normal uma adolescente de 17 anos ficar presa em casa o dia todo lendo. Porque você não sai para fazer alguma coisa? Sei la o que os adolescentes de hoje em dia fazem. 

Marco a página em que eu havia parado com o dedo e apoio o livro em minha perna.

- Mãe, sabe quantos adolescentes sofrem acidentes de carro por estarem bêbados?

Minha mãe me encara fixamente inconformada com a irrelevância da pergunta.

- Muitos mãe. Sabe o gasto que isso dá? Se somarmos hospital, danos do carro e os danos com a dignidade dos pais? Muito mesmo. Devia dar graças a deus pelo fato de eu ser ao menos normal de mais, e não precisar beber uma garrafa de whisky para parecer legal.

Vejo ela revirar os olhos enquanto sorri e põe as mãos na cintura.

- Certo, se você diz... Ainda acho que de vez em quando você e mais responsável do que eu.

Após uns minutos recebo uma mensagem de Bernardo que estava me convidando para ver um filme.

- Mãe? 

- Sim? 

- Vou sair com o Bernardo tudo bem?

- De novo? - Ela me lança um olhar malicioso. - É a quarta vez em duas semanas que você sai com ele. Estão namorando?

- É... Eu acho que está rolando alguma coisa entre nós sim. - Digo medindo bem minhas palavras antes de simplesmente pronuncia-las.

- Eu sabia! Ele parece ser um bom garoto, é bem educado e é lindo também. - Ela diz se exaltando.

- Mãe! - chamo sua atenção.

- Que? - ela diz como se estivesse ofendida. - Posso ser velha mas sei reconhecer um rostinho bonito. - Enfim, só volte antes de... - Ela semicerra os olhos como se mudasse repentinamente de ideia. - Quer saber, volte a hora que achar melhor...

***

Assistir um filme não foi uma ideia ruim, para ser sincera já me conformei com o fato de que eu estava tendo um caso com Bernardo. Pela primeira vez eu dei espaço para um amor em minha vida, e sabe, eu estava gostando disso tudo. Com o passar do tempo vi que Bernardo não era quem eu pensava e que eu havia o julgado errado.

- Tem planos para o começo das férias? - Bernardo pergunta enquanto engulo o milk shake.

- Não. - rio.

- Ótimo, vamos para praia? Na casa do Victor? 

- Victor? Acho que ele não gosta muito de mim.

- Bobagem.

- Falando nisso nunca me contou sobre sua ligação com ele.

- Ah. - Ele coça a cabeça sem graça. - Ele é meu primo.

- Sério? - Paro de beber o milk shake e me viro para encara-lo.

- Acredita? As vezes duvido também.

Sinto meu celular vibrar na bolsa e o procuro desesperadamente. No identificador de chamada estava marcando mamãe.

- Alô? Mãe?
- Oi filha. Acho que você precisa vir pra casa.
- Mas você disse pra eu voltar quando eu quisesse.
- Eu sei, mas é importante, acho que vai querer ver isso.

Desconfio um pouco, não era muito típico de minha mãe fazer isso, mas eu concordo, além disso ela ainda era minha mãe.

- Tá, tudo bem.
- Ah, e a propósito, traz o Bernardo.
- Por que?
- Você vai descobrir.

Peço desculpas a Bernardo por termos de voltar tão de repente, mas ele entende e me leva de volta para casa. Vejo as luzes da sala acesas pela janela e abro rapidamente a porta. Assim que abro escuto as risadas da minha mãe, e quando olho para o sofá me deparo com uma menina baixinha e japonesa que eu conhecia muito bem.

- Gabi? - Digo abrindo um sorriso enorme. Ela se levanta e sai correndo para me dar um abraço.

- Surpresa! - Ela sorri abrindo os braços. Mas seu sorriso desaparece dando lugar a uma cara de brava assim que ela repara na presença de Bernardo. 

- Ah, Gabi, esse é Bernardo, meu... - Tento explicar, mas travo pois não sei o que dizer.

- É, eu sei quem ele é. - Ela diz com um tom de desprezo que me faz recuar. - Bia, será que podemos conversar? A sós? - Ela diz dando ênfase no sós e apontando com a cabeça para o corredor. A observo enrolar as pontas do cabelo liso com as pontas do dedo com uma expressão indecifrável. Concordo lentamente com a cabeça e caminhamos em silêncio para o corredor. Olho para Bernardo de relance com a esperança de reconforta-lo.

- Primeiro. - Ela diz levantando o indicador. - Eu estava morrendo de saudades! - Ela me abraça forte quase me sufocando. - Segundo: Bia, não acredito que não me contou sobre ele. - Ela diz se referindo a Bernardo. - Sério, sua mãe contou e fiquei extremamente decepcionada, achei que fosse minha amiga.

- Eu sou! - Me defendo. - Não contei porque pensei que você estaria ocupada com os estudos e tudo mais...

- Ai me poupe Bia! Sou sua amiga! Eu iria querer saber estudando ou não.

- Eu sei, mas queria que você viesse para cá de todo jeito, então pensei em não te incomodar... me desculpa.

- Tudo bem, mas me promete que nunca mais vai esconder nada de mim. - Sorrio e seguro suas mãos.

- Eu prometo.

- Ótimo, agora terceiro: eu combinei com sua mãe de vir e fazer uma surpresa, por isso vou ficar aqui durante as férias, e por último: caramba! O Bernardo é um gato amiga! - Rio.

- Senti sua falta Gabi. - Digo. - Aliás você continua igualzinha.

- Queria poder dizer o mesmo de você, mas para quem odiava meninos e agora está namorando...

- Ele não é o meu namorado!

- Ok que seja, o importante é que você está feliz.

Voltamos para sala e Gabi se desculpa por ter sido grossa com Bernardo.

- Desculpa Bernardo, eu estava irritada com a Bia porque ela não contou para sua melhor amiga que estava quase namorando.

Cutuco o braço de Gabi com o cotovelo e ela se contrai. Ela revira os olhos desprezando minha atitude.

- Meu nome é Gabriela, mas odeio que me chamem assim, então me chame de Gabi mesmo. Sou a melhor amiga da Bia e estou morrendo de saudades dela, então se me der licença, acho que ela vai te dispensar essa noite, ela tem muito o que me contar.

Ele ri e aperta a mão da minha amiga que estava estendida para um cumprimento.

- Eu sou Bernardo, e parece que você já me conhece, então... Tudo bem, já está ficando tarde mesmo. - Bernardo responde.

- Te levo até a porta. - Digo.

Bernardo se despede de minha mãe. E nos encaminhamos para saída.

- Me desculpa pela Gabi, eu realmente não esperava por isso. - Digo ficando frente a frente para encara-lo. 

- Não se preocupe, imagino que tenha sido uma surpresa para você, vocês devem ter muito o que conversar então a gente se fala amanhã. 

- Tudo bem. Até... - Me viro para entrar em casa, mas Bernardo me chama.

- Bia espere. - Assim que me volto para ele, ele se aproxima de uma maneira intimidadora e me encara, com o polegar levanta meu queixo com o objetivo de fazer eu olhar firmemente em seus olhos, então me beija, de uma maneira doce e marcante, como seu sorriso: marcante. Ele se afasta devagar.

- Não podia ir embora sem fazer isso. Desculpa. - Eu sorrio em resposta e deixo ele ir embora, aliás agora teria que enfrentar uma melhor amiga bem brava.

Clichê AmericanoWhere stories live. Discover now