Capítulo 11

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Bernardo não chega na primeira aula, o que me faz pensar que ele poderia estar doente, por isso não havia me avisado e isso e deixou mais tranquila de certa forma, porque significava que eu não deveria discutir com ele. Mas quando o sinal bateu e ele entrou pela porta na segunda aula obviamente atrasado, eu fiquei extremamente furiosa. Quis reclamar de imediato, mesmo não sendo sua mãe, ou sendo assim tão próxima dele, porém, ao observa-lo vejo que ele parecia cansado e haviam olheiras profundas em seus olhos. Ignoro isso devido ao meu orgulho, e quando estou prestes a ir em direção ao garoto a professora entra na sala, me impedindo de dizer qualquer coisa,

Bernardo não veio falar comigo, então cheguei a conclusão de que: ele nem se quer pensou em me avisar, ou até mesmo esqueceu que tinha um compromisso marcado. Quando estamos no intervalo do lanche e ele está com seus amigos, como de costume sentado em cima da mesa, me aproximo de mansinho, para tentar não chamar muito a atenção. Limpo a garganta para chama-lo. Quando ele se vira e me vê abre um enorme sorriso, que logo se desfaz quando percebe que estou zangada. Ponho as mãos na cintura e arqueio as sobrancelhas, como se não fosse necessário mais do que isso para uma explicação. Inicialmente ele parece até confuso, mas ao perceber a cagada que ele fez arregala os olhos levemente e passa os dedos pelo cabelo perfeitamente desajeitado.

- Droga, eu esqueci.

Afirmo com a cabeça e não digo nada, esperando mais alguma coisa.

- Ai... Foi mal. – ele diz totalmente sem jeito, o que me deixa ainda mais irritada, como o garotinho badboy do tipo perfeito não estava conseguindo se desculpar e nem explicar? Era fácil não era? Quando vejo que nada além disso vai sair dele, bufo e falo:

- Pode pelo menos me dizer o que aconteceu de tão importante para faltar e não avisar? Achei que tínhamos algo marcado.

Logo me arrependo de ter dito qualquer coisa. Sua expressão muda completamente, suas costas enrijecem, e sinto-o me fuzilar com o olhar. Seus amigos que estavam ouvindo tudo arregalam os olhos, zombam e riam.

- Não. – é a sua resposta. Curta e direta. Minha boca se abre para protestar, provocar ou intimidar, mas nada sai, fico sem falas e minha boca fica seca. Por isso tudo o que consigo fazer é semicerrar os olhos e lançar a ele o meu melhor olhar ameaçador.

- Ótimo. – digo e volto ao meu lugar.

Ótimo Bia o que você fez? Tudo estava saindo perfeitamente bem, até que você decidiu abrir sua boca.

Como que um garoto como Bernardo podia me fazer calar apenas com uma palavra?

Tento esquecer a maneira como Bernardo me tratou na frente de todo mundo, não arrisco olha-lo, pois sei que se eu fizer irei me arrepender. Durante o resto do dia ele também não pede desculpas nem fala comigo e me ignora como se eu não existisse. Pelo jeito nós não fomos feitos para dar certo, nem como colegas de estudo e nem como amigos, por alguma razão, Bernardo e eu não éramos compatíveis de forma alguma.

Chego no refeitório extremamente frustrada, Letícia e Larissa conversavam e riam sobre algum assunto aleatório, quando me sento na mesa e coloco a mochila na cadeira ao lado com força, elas param de conversar e me encaram sérias.

- Está tudo bem? – Larissa pergunta hesitando.

- Estaria. Se não fosse por um menino qualquer ai. – respondo referindo-me à Bernardo. As meninas logo captam a referência e seguram o riso. Eu as silêncio com um olhar severo.

- O que aconteceu dessa vez? – Letícia pergunta.

- Aconteceu que aquele menino é insuportável! E eu não consigo entende-lo!

Dessa vez Larissa não segura o riso.

- Relaxa Bia, ele é um menino, estava esperando o que? Até parece que nunca se apaixonou na vida.

- Mas eu nunca me apaixonei. – respondo.

- Ta brincando né? – Letícia fala arregalando os olhos.

- Não. – elas trocam olhares suspeitos. – O que foi? – pergunto.

- Nada. – Larissa diz desviando o olhar para seu prato. Olho para Letícia em uma tentativa de ajuda, mas ela também já tinha desviado o olhar para seu prato e brincava com os talheres de plástico.

- Ei! Me falem! O que foi? – pergunto quase em tom de súplica.

As duas trocam mais um olhar antes de responder:

- Bom... Talvez deve ser por isso que você não entende ele. – Larissa força um sorriso.

- O que? Só pode estar brincando né? – protesto.

- Calma! Não estamos dizendo que você gosta dele. – Letícia interrompe em meio a risos.

- É claro que eu não gosto dele, eu nem o conheço! – me defendo completando o comentário feito por Letícia.

- Sabemos disso Bia, mas sejamos sinceras, Bernardo Vieira é o sonho de quase todas as meninas da escola.

Vejo Bernardo se aproximar, e de repente como em um passe de mágica um silêncio mortal toma conta da mesa.

- Bia. – ele me chama mais calmo do que antes. Eu o encaro sem expressão nenhuma e não digo nada, apenas espero para escutar o que ele tem para dizer. Ele desvia o olhar e coça a nuca com a mão esquerda. – Desculpa por ter agido como um idiota...

Minhas amigas sorriem inocentemente. Eu olho para elas com os olhos arregalados sem saber o que dizer a seguir. Eu com certeza não tinha experiência alguma com meninos. Após uns segundos, Larissa responde por mim, fazendo-me sentir ainda mais sem-graça pelo momento constrangedor.

- Está tudo bem! Não foi nada não. – ela diz lançando o melhor sorriso fofo que consegue. Bernardo inclina a cabeça para direita aparentemente confuso. Rio nervosa com a situação.

- Está bem então... – e sai.

Eu encaro Larissa nervosa.

- O que foi isso? – pergunto.

- Eu que te pergunto! Teve a chance de ver Bernardo pedindo desculpas para uma garota! Sabe qual a chance disso acontecer? Uma em um milhão! Aliás, de nada! – Larissa responde na defensiva.

- Ta brincando? Isso foi horrível!

- Foi mesmo! Mas com o tempo você aprende. – Letícia diz sem um tom de ironia. Larissa a encara irritada. – O que? É verdade e você sabe.

- Droga! Ele deve achar que sou uma boba! Além disso, ele não pode achar que irei desculpa-lo sempre por qualquer coisa! – digo fazendo bico.

A questão era: se Bernardo Vieira achava que sempre que mancava comigo eu iria desculpa-lo sem mais nem menos ele não poderia estar mais errado.

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