Capítulo 14

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Eu não fazia a mínima ideia de como seria a casa de Bernardo, mas com certeza o que vi foi algo totalmente fora do que eu poderia imaginar. A casa continha uma escada em caracol que levava ao segundo andar, a casa era clara com um carpete beje e felpudo por todo o chão, logo que se passava pela porta você dava de cara com a sala de estar, que tinha um conjunto de sofás brancos de couro com uma mesinha de centro e uma televisão de tela plana de 55 polegadas e um lustre lindo e enorme pendendo a cima dos sofás. Tenho de me conter para segurar a surpresa e imagino quantas festas Bernardo já deve ter dado naquela casa. Ele caminhava na frente sem dizer uma palavra.

- Senta ai. - Bernardo diz apontando levemente com a cabeça para o sofá. Me encaminho para os sofás e me sento delicadamente com medo de tocar em qualquer coisa e quebrar.

Bernardo desaparece por uma porta e volta trazendo dois copos de água. Ele se senta no sofá da frente e coloca os copos em cima da mesa de centro, logo ele cruza os braços e apoia os pés na mesinha de centro como se aguardasse algo, só então me dou conta de que estava esperando eu começar a dizer algo.

- Quero uma trégua. - Digo.

Bernardo arqueia as sobrancelhas e ri ironicamente.

- Você quer o que? - Pergunta.

- Uma trégua. - Respondo indiferente. - Eu paro de perguntar sobre sua vida pessoal e coisas que você não gostaria de falar e você segura seu temperamento.

- Só pode estar brincando né? 

- Não. É simples, ai não brigamos mais e você pode me ajudar a estudar de novo.

- E por que eu voltaria?

- Por que você disse que ia me ajudar. E se tem honra, nem que seja um pouco, vai me ajudar.

Bernardo volta seu olhar para os próprios pés.

- O problema não é perguntar sobre minha vida pessoal Bia, é se intrometer onde não é chamada. - Ele diz.

- Viu? É sobre isso que estou falando. Eu chego de boas, querendo paz e você já está me julgando. 

- E você quer o que? Que eu diga que está tudo bem quando minha vida está uma droga? - A voz de Bernardo aumenta um pouco e ele parece se dar conta do que falou, pois para imediatamente, e um silêncio constrangedor toma conta do ambiente.

Fico sem saber o que fazer a seguir, desvio o olhar imediatamente e meus olhos pairam sobre o copo de água intocado em cima da mesa. Por isso pego o copo e tomo um gole pequeno apenas para descontrair. Quando olho novamente para Bernardo ele está com a cabeça enterrada nos braços que estão apoiados no joelho. Congelo. Foi um erro ter ido a casa dele.

- Viu? Não deveria ter vindo. - Bernardo diz com a voz rouca e grave.

- Talvez você tenha razão. - Murmuro. - Não podemos ser amigos. - Me levanto e me encaminho para porta. Quando estou quase abrindo-a ele diz:

- Bia, espere.

Olho para trás e vejo Bernardo já de pé, só então vejo como ele parece cansado e derrotado, o que tinha acontecido com o garoto confiante e conquistador que eu havia conhecido no segundo dia de aula? O encaro esperando que ele diga alguma coisa.

- Uma trégua seria bom. - ele finalmente diz. Meus lábios curvaram na beirada, formando um sorriso disfarçado. Dou meia volta e Bernardo parece surpreso. Ergo a mão esperando que ele aperte. Bernardo levanta sua mão devagar e aperta a minha em um sinal de trégua.

- Sim, seria ótimo. - Respondo após o acordo.

Ele cerra os lábios e confirma sutilmente com a cabeça. Bom começo Bia.

Clichê AmericanoWhere stories live. Discover now