Capítulo 33

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As aulas voltariam em quatro dias e eu estava começando a ficar impaciente. Eu até que gostava de ir para escola em Porto Alegre, eu sempre vivi lá então já estava bem acostumada e tinha Gabi, claro. Assim que me mudei, ir para escola aqui foi um pesadelo, meus primeiros dias já foram péssimos e eu achei que de ali em diante não podia melhorar. Eu estava enganada. Depois que fiz amizade com Larissa e Letícia as coisas começaram a ficar bem mais suportáveis, e depois tinha Bernardo, apesar de nossa amizade parecer as ondas que vão e voltam. Porém, depois dessas férias maravilhosas, não quero voltar para escola, estava tão bom como estava... Em Porto Alegre minhas férias eram monótonas, e indo para escola, pelo menos alguma coisa diferente poderia acontecer.

Meus pais convidaram Bernardo para vir almoçar aqui, achei gentil da parte deles, mas eu não estava afim de passar vergonha. Tentei convencer Bernardo a dar uma desculpa e falar que estaria ocupado, mas não funcionou. Então, eu estava terminando de me trocar quando a campanhia tocou. Eu não costumava usar vestidos, mas no final, depois de revirar meu guarda-roupa, encontrei esse de alcinha azul florido, antigamente isso me daria enjoo, mas acho que já mudei demais para recusar até a morte usar esse tipo de vestido.

Assim que desço as escadas e Bernardo me ve, ele sorri. Com o tempo comecei a interpretar os tipos diferentes de sorrisos que ele tem. Tem o falso, estilo Bernardo, sarcástico, e o simples, que expressa uma felicidade genuína, e era esse que ele estava usando agora. Ele beija o topo de minha cabeça e sinto meu coração aquecer. É incrível como simples gestos podem me fazer derreter.

Já na mesa comendo, minha mãe começa a puxar assunto na intenção de conhece-lo melhor. Não gostei da ideia, claro, mas eu não acho que seria capaz de mudar a vontade dela.

- E então Bernardo, sei que você ajudou Bia a passar em química.

- Ah sim, consegui ensina-la porque no fim ela foi muito bem. – Ele responde na maneira mais amigável possível.

- Passaram bastante tempo estudando depois das aulas né, foi assim que... – Ela dá uma pausa para encontrar as palavras certas. – se conheceram? – Ela diz por fim.

- Foi quase isso, foi meio difícil me aproximar de Bia, ela pode ser muito resistente quando quer. – Ele fala soltando uma risadinha.

- Você parece ser muito inteligente então, seus pais devem estar orgulhosos.- Meu pai diz. Sinto Bernardo enrijecer, e vejo seus punhos cerrados em baixo da mesa, aproximo a minha mão e a aperto de leve.

- Eu não tenho pai. – Ele fala um tanto ríspido demais. Ele parece se envergonhar por ter agido assim, porque acrescenta. – Desculpe, é um assunto meio delicado.

Meus pais trocam um olhar furtivo comigo e eu aceno a cabeça pedindo para que mudem de assunto, não sei se Bernardo percebeu, mas se percebeu, ele finge que não.

- Mas ele é muito inteligente sim. – Me intrometo. – As vezes fico até irritada, vocês sabem, ele é mais do que eu. – Digo na intenção de amenizar o clima.

- De qualquer forma, obrigada por ajudá-la. – Minha mãe sorri calorosamente ao dizer.

- Foi um prazer. – Ele responde.

Tento passar o resto do jantar controlando os assuntos um pouco para que ninguém saia ferido. Me senti um pouco mal por Bernardo, esse era o meu medo quando ele concordou em vir. Mas no final, acho que ele conseguiu lidar bem. Ajudamos minha mãe arrumar as coisas e subimos um pouco para meu quarto.

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