Capítulo 1

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O fim de semana foi longo, sem encontros, sem planos e sem o Júlio. Ele não mandou mensagens, nem telefonou e ele era do tipo de pessoa que ainda telefonava, mesmo existindo o Watsapp. Ela ia precisar quebrar o gelo já que ele era mais orgulhoso que ela, mas não ia pedir desculpas, olhou na agenda e percebeu que as estrelas conspiravam a seu favor, eles teriam uma reunião ás 8:30 e isso significava: MSN de papel...

AJ: Estou pronta para te perdoar!

J: Vai sonhando


- acredito que nossa empresa poderá crescer cada dia mais, com o empenho de toda equipe.

AJ: Você esta sendo ridículo

J: Alguma vez na vida você já prestou atenção em uma reunião?


AJ: Sim! Nas três primeiras reuniões, depois disso descobri que todas são iguais


- Quando era menino, eu tive o sonho de deixar minha marca no mundo...

J: Adoro essa parte

AJ: Você é ridículo


J: E você é uma mulher insensível Anna =( Quer almoçar comigo hoje?

AJ: Vou pensar no seu caso, andar com alguém tão manteiga não é bom para minha reputação de mulher de aço!


É obvio que eles almoçaram juntos, é obvio que ele não é um manteiga e que ela não tem a reputação de mulher de aço, e o mais obvio é que o assunto da conversa do almoço foi o cara da Internet... Ele ligou, disse que foi viajar e que queria sair com ela de novo, ela iria sair com ele, mas nem ela e nem o Júlio "manteiga" acreditavam nessa historia de viajem. Ele também falou dele, disse que o fim de semana foi incrível e que fez varias coisas diferentes e ela sorriu e disse "que bom" mesmo sabendo que não era verdade, ele nunca iria admitir que quando chegou em casa um balde de pipocas, cobertores e um clássico filme francês mudo estava esperando por ele e que no domingo a grande mudança foi que o filme era italiano, mas a Soraya não gostou. E ela não ia admitir que olhou o facebook da Soraya e viu que ela postou todo o seu romântico e perfeito final de semana de meias, filmes e cobertores com seu amado biscoitinho, só pra ter certeza de que ele fez exatamente o que ela disse que faria. Depois do almoço tudo voltou ao normal, ela foi pra sala de treinamento e ele foi pra sala de projetos, e o mundo continuava a girar e não se importar com o fato de que eles voltaram a se falar, por que isso acontecia sempre e não ia parar de acontecer.

Ela lembra do seu primeiro dia de aula na faculdade, do quanto estava empolgada e feliz com seu plano de mudar o mundo e do quanto ficou desesperada depois da primeira semana com tantos trabalhos pra fazer, lembra do quanto ficou apaixonada quando viu aquele cara "realmente diferente" entrar na biblioteca e jogar charme pra moça que tinha um sorriso ridículo e que não saía da ala de livros em francês, foi naquele instante que ele pareceu igual a todos e deixou de ser uma possibilidade, na verdade foi assim que ele se tornou uma realidade e depois de cinco esbarrões (ela jura que não foi proposital) 3 semanas estudando na mesma mesa da biblioteca, 145 xícaras de chá no café da esquina (por que eles são rebeldes demais para ir em um café e pedir café), algumas caronas pra casa e muita ajuda com as aulas de filosofia, o mundo passou a ser um lugar melhor no meio de toda aquela loucura, agora ela tinha alguém em quem confiar e ele tinha alguém que não ria das suas piadas, mas que sempre fazia ele rir sem contar nenhuma, a garota esquisita e estabanada do primeiro ano de psicologia fazia uma excelente dupla com o cara nerd e sério do ultimo ano de Direito. Quando ele terminou a faculdade continuou indo lá só para busca la ou tomar um café, alem de paquerar a moça dos livros em francês. Ela ajudou ele a se preparar para a entrevista de emprego e apesar da euforia externa, ela tinha uma calma natural quando se tratava do nervosismo dele e isso era o que ele precisava quando estava nervoso, quando ela terminou a faculdade acabou sendo chamada para trabalhar no setor de capacitação e treinamento da mesma empresa no mesmo dia em que ele e sua namorada com mania de francês resolveram que depois de dois anos eles deveriam morar juntos para testarem sua dinâmica de casal na mesma casa antes de darem o importante passo para o casamento, o que deixou ela muito irritada, por isso ela comprou um peixinho para provar que também poderia ser responsável, mas o peixinho acabou morrendo de causas naturais desconhecidas (o pai dela diz que foi por fome), o Júlio foi no funeral do peixe e como sempre secou as lagrimas dela, no final eles brigaram por que o plano era que eles iam morar juntos pra testar a dinâmica deles como amigos morando juntos e agora ele mudou os planos e ela teria que continuar morando na casa dos pais já que não poderia bancar o aluguel sozinha e se não fosse o Júlio mudar seus planos ela nunca teria comprado um peixinho e se apegado tanto a ele... e era sempre assim, depois de um tempo o Júlio a convenceu que o melhor seria ela continuar a morar com os pais e juntar dinheiro pra comprar o próprio apartamento e depois de um ano economizando com o apoio do Júlio que também começou a levar marmita pro trabalho e dava carona pra ela não ter que usar o carro, alem de ajudar a organizar os seus gastos e todas aquelas coisas que temos que fazer para organizar a nossa vida financeira, depois de um ano de aperto e de restrições sem compras pela Internet... Ela finalmente conseguiu dar entrada no seu cantinho e ainda esta trabalhando nele, mas é o lugar dela, só dela, com as coisas dela e com o jeito dela e ela não poderia ter ficado mais satisfeita em ter conquistado seu lugar, no fim o Júlio não morava lá, mas passava a maior parte do seu tempo no sofá dela jogando vídeo game.

-Por quê você não compra um vídeo game pra você e joga na sua casa?

- Eu te dei um vídeo game justamente pra poder jogar aqui!

- Por que você não joga na sua casa?

- A Soraya diz que esse tipo de jogo atrapalha a nossa rotina de casal e nos rouba preciosos tempos de conversa.

- Jogar na minha casa também diminui o tempo de dialogo de vocês.

- Sim, mas ela não sabe disso.

- Que bom, assim ela pensa que quem esta roubando alguma coisa sou eu! Obrigada por fortalecer a minha amizade com a sua namorada.

- Não se pode fortalecer o que não existe.

- É verdade, continue deixando ela pensar que você prefere estar comigo.

- Você é maluca, e acabou de perder de novo... alem de maluca é péssima em jogos de corrida.

- Eu deixei você ganhar.

- Uma péssima perdedora... vou embora pra você poder chorar essa derrota, amanha almoçamos?

- Claro! Eu levo o almoço.

- E eu o suco!

Ela tinha mesmo deixado ele ganhar, ganhar sempre o deixava de bom humor e isso significava que amanha ele iria pagar o sorvete.

Um romance clichêWhere stories live. Discover now