Capítulo 28

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- Como você conseguiu ser presa bebendo uma garrafa de vinho enquanto dirigia sua maluca?

- Bebendo vinho enquanto dirigia!

- Sempre soube que você faria coisas idiotas, mas nunca uma coisa tão idiota.

- Parece um padrão que venho seguindo ultimamente.

- Qual o seu problema? Eu paguei sua fiança, te tirei da cadeia ás 2 da manha, estou com vomito de cachorro na camiseta e arranhões no braço do seu gato e ainda vou ser obrigado a ouvir o seu sarcasmo por mais três horas?

- Vamos combinar assim, você não me chama de idiota e eu prometo nem respirar sonoramente até a casa dos meus pais.

- Me parece uma ideia genial!

- Ótimo.

- Perfeito!

- E sobre a fiança, eu vou te pagar.

- Essa não é minha maior preocupação no momento, mas vou aguardar o cheque.

- Ótimo!

- Perfeito!

- Posso beber o restante do vinho agora?

- Você já me parece bêbada o suficiente.

- Você não é meu pai!

- Eu sei que não, pois se eu fosse ele já tinha te dado uma surra dessas que fazem o conselho tutelar bater na porta das pessoas.

- Júlio, por favor?

- Por favor o quê?

- Pare de falar comigo, pare de gritar comigo, me deixa quieta!

- Pra você beber mais vinho e nem me dizer por que esta agindo desse jeito?

- Eu não chamei você, eu chamei meu pai e não foi por que eu não queria te incomodar e mostrar que eu sou auto suficiente, foi por que eu queria ser dependente, queria me sentir com 10 anos e estar segura depois de uma confusão na escola, queria não pensar nas minhas escolhas e não sei por que ele te mandou aqui, mas neste momento eu não quero estar perto de você e nem de outra pessoa que não seja meu pai ou a minha mãe.

A viajem se seguiu em um silencio cortante, ele não contou que o pai dela pediu que ele fosse por que ele estava perto e chegaria mais rápido que ele, ela não contou que o Marcos tinha traído ela e que isso a deixava aliviada pelo fato de prevenir que ela continuasse com aquilo até que fosse tarde demais para recomeçar, mas que estava perdida por não saber por onde começar, não tinha dinheiro, não tinha trabalho (não ia voltar para aquela empresa), não tinha casa e nem coragem de dizer ao Júlio que tinha perdido a fé nos romances.

- Chegamos!

- Obrigada.

- Você não vai me contar o que aconteceu?

- Não.

- Quer ficar com o gato?

- Sim.

Ninguém pergunta o que o gato quer?

- Ele está muito apegado com o Bóris, mas acho que aguenta.

- Pode ser.

Ela pegou o gato que não parecia nem um pouco infeliz em dizer adeus para o cachorro e bateu aporta do carro, pegou as malas no porta malas e fez uma anotação mental de buscar o carro dela na delegacia quando o feriado acabasse, entrou em casa e olhou pra cara de preocupação da mãe e para os olhos desconfiados do pai. Não deu pra resistir por mais tempo, ela chorou e abraçou o gato com mais força do que ele poderia esperar, esperneou no colo dela até que ela soltou e correu para os braços da mãe, era bom ter cinco anos!

- Eu avisei que ele não prestava!

- Pai você não sabe o quanto eu fico feliz em ouvir isso.

- Você sabe o que vai fazer agora?

- Não.

- Pode resolver depois!

- Pai eu não tenho mais casa.

- Claro que tem, essa é sua casa!

- Obrigada pai.

- Só não tem mais quarto aqui, eu transformei seu quarto na minha oficina.

- Eu durmo no sofá, vai ser por pouco tempo.

- Fique o tempo quiser, só não fique para sempre.

- Isso nem passou pela minha cabeça.

Mas pela dele passou sim, Afinal ela só tinha cinco anos.

- Onde está o Júlio?

- Ele já foi, eu não queria muito conversar com ele, por quê você não foi me buscar?

- Ele não te contou?

- Me contou o quê?

- Ele já estava indo pra lá!

- Pra que?

- Pra ver você, o gato estava com saudade e ele queria que você conhecesse o cachorro, mas cá entre nós, ele estava morrendo de saudade da irmãzinha dele.

- Eu não sou irmã dele.

- E nem muito amiga pelo que estou vendo.

- No momento eu não sou boa o suficiente pra ninguém.

- Isso vai passar.

Calada observando tudo a mãe dela só conseguia o quanto ela parecia com o pai e o quanto ambos fingiam não enxergar que aquela historia de irmãzinha era ridícula.

ansbz{

Um romance clichêOnde histórias criam vida. Descubra agora