Capítulo 3

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  Era engraçado ver o jeito como ela se aproximava das pessoas, era uma garota normal, sem olhos acinzentados que estão tão na moda nos livros de hoje (só no livro, por que eu nunca vi olhos acinzentados), com aquele cabelo que se recusava a ficar no lugar, olhos simplesmente castanhos, e ar de garota normal (ela não era feia, recebia suas cantadas na frente da obra sempre que passava e repetia seu mantra mental " que minha calça não esteja furada") não era sexy e muito menos provocante, era gentil e empolgada, falava pra ele dos livros e mesmo sem ouvir a conversa deles Júlio sabia que ela tinha listado todos eles por ordem do quanto ela gostou da leitura e indicaria o que estava no meio da lista, tinha ciúmes dos primeiros, ele conhecia aquela falta de estratégia que ela tinha, mesmo quando fazia planos nada parecia sair como o planejado e isso era algo tão diferente da vida que ele levava. Talvez ele também estivesse a procura de algo diferente e sentia uma pontada de inveja de toda falta de previsão que ela tinha, como no dia em que ela finalmente conseguiu sair com o cara da turma do terceiro ano de fisioterapia, ela passou a semana planejando roupas, sapatos, maquiagens e tudo mais, fez ele ajudar a escolher tudo e até fez uma dieta maluca de comer só alface e beber água até o dia do encontro que funcionou, mas não do jeito como ela esperava, pois no terceiro dia de dieta acabou com problemas de regulação (é assim que ela chama o piriri). Com tudo planejado era só desejar boa sorte no grande dia. Ele não entendeu nada quando ela ligou dizendo que ele foi embora antes mesmo de ela abrir a porta, com uma loira bonitona e que provavelmente tinha fugido pra Las Vegas com ela, pediu pra ele ir á sua casa e levar o maior numero de doces possíveis por que ela já tinha pedido pizza (foi assim que ela recuperou o peso normal). Então pra ela era assim, nada saia como o planejado e depois de enlouquecer um pouquinho com isso ela voltava a sua loucura natural.

Ele conhecia ela e sabia o quanto ela o conhecia e isso o estava assustando, na noite do vídeo game quando chegou em casa tinha uma carta em cima do seu travesseiro, ele detestava essas cartas por que se sentia um idiota com aquilo, preferia que ela dissesse como se sentia ou até mesmo gritasse com ele, mas não queria que ela pensasse que ele não estava se esforçando por ela e ficasse decepcionada, só que dessa vez foi diferente, a carta era diferente...

Meu Júlio,

Que pretensão minha te chamar de meu quando á muito já tens dona, eu sempre soube disso e tentava não me importar pois sabia o quanto essa amizade é importante pra você, mas me pego a avaliar o quanto eu sou importante. É muito difícil me inserir no pequeno espaço que existe entre vocês, é como se não sobrasse em ti confiança nas outras pessoas alem dela. Sei que nunca me esforcei para criar laços com sua amiga, achava que o fato de estar com você e cuidar de você seria o suficiente e que não precisava me intrometer entre vocês, afinal eram só amigos. Sinto falta de te-lo ao meu lado como ela o tem, sinto falta de falar com você o quanto você fala com ela e do quanto conta de ti á ela e não para pessoa com quem tem planos de dividir a vida, você já divide sua vida com ela e gostaria de saber o quanto sobra disso pra mim. Se lembra do dia em que piscou pra mim na biblioteca? Hoje me pego a pensar se não piscou para a garota errada.

Sua namorada...


Ele estava preocupado com essa situação e sabia que ela tinha razão, não sabia o quanto estava magoando a pessoa que morava com ele e o quanto ela se sentia excluída. Era egoísmo de sua parte faze-la esperar pelo tempo que sobra enquanto passa tanto tempo ao lado de outra pessoa, isso precisava mudar e foi por essa razão que decidiram ler esse livro, ia ser algo que iriam fazer juntos e falar sobre isso, ela aceitou que ele não podia se desligar totalmente da amiga, mas teria que passar menos tempo o que poderia ser bom para todos, ambos eram muito dependentes um do outro e precisavam aprender a ficar um pouco separados, não contou isso pra ela e sabia que teriam que conversar sobre isso antes que ela percebesse que ele estava se afastando, sabia que ela ficaria triste e faria um certo drama, no final tudo daria certo e ele não ia precisar escolher entre a certa e a errada.

- Já esta chegando a sua vez, deixa eu passar na sua frente?

- Pegue a fila espertinha.

- Sério??

- Não, pode passar.

- E como foi com o cara dos livros? Ajudou ele a escolher um livro pra namorada?

- Não, ele não tem namorada, estava comprando um livro pra ele!

- Jura? Então você conheceu o senhor romance, ele acaba de ser descartado.

- Na verdade isso o torna diferente...

- Quando vai ser o encontro?

- Hoje.

- Nossa que rápido, você quer tomar um sorvete depois que pagarmos?

- Não vai dar, o nosso encontro é depois que pagarmos os livros, ele perguntou se eu quero tomar um café na cafeteria da frente.

- Há, legal... você não toma café.

- Eu posso começar a tomar.

- É, podemos mudar as coisas.

- Só não podemos mudar o que temos.

- É isso não...

- Você esta esquisito, aconteceu alguma coisa.

- Não.

- Se você quiser eu posso avisar que tenho outro compromisso...

- Não faça isso, homens que lêem romances e assumem isso são raros.

- É verdade, eu mesma nunca conheci um.

- Alem disso, segunda vamos nos encontrar no trabalho.

- Você vai fazer alguma coisa amanha?

- Vou ao parque com a Soraya, aulas de Yoga.

- Tentando coisas novas, vocês estão bem?

- Sim, só queremos diversificar um pouco.

- Ok, segunda almoçamos?

- Minha vez de levar o almoço.

Ela pagou seus livros e voltou pra fila pra conversar com o senhor romântico, ele pagou seu livro e desistiu de levar os jogos, se ele ia tentar teria que fazer isso de verdade. Ele sabia que as coisas iriam mudar e que isso ia ser bom pra todo mundo, só não sabia quando ia acreditar nisso.

@{sy 



Um romance clichêOnde histórias criam vida. Descubra agora