Capítulo 7

54 2 0
                                    

É claro que ele nunca esqueceu nenhum papel na sala dela, aquilo foi proposital, se sentia um covarde por não conseguir dizer que tinha um medo terrível de ter que escolher com quem ficar, por que ele sabia que escolheria a amiga, então precisava fazer com que ela escolhesse, idéia ridícula que ele se arrepende profundamente de ter tido, foi criancice, foi babaquice escrever uma carta pra Soraya ficar feliz e deixar que a Anna lesse só pra que se afastasse por conta própria e não ficasse magoada quando ele se afastasse dela, provavelmente ele não iria muito longe, mesmo assim doeu quando ela mandou um recado dizendo que ia almoçar com o senhor romântico e não com ele, mas tudo bem... a fome já tinha passado mesmo e ele precisava de um pote de sorvete só pra ele, era o que ela fazia quando o mundo dela ia acabar e era o que ele ia fazer. De repente se deu conta da quantidade de mentiras que escreveu na carta e do quanto precisava da amiga e nunca disse isso pra ela, é estranho o fato de que sempre temos mais á falar do que realmente falamos, só lembramos de dizer quando o tempo já passou, quando não se pode mais dizer ou quando não sente mais o que diz. Ele sentia agora, mas não dizia.

Coisas que o Júlio nunca disse, mas gostaria de ter dito:

- Você fica muito esquisita quando ri muito.

- Aquela blusa laranja é muito feia.

- Olhar o horóscopo todo dia não vai mudar sua vida.

- Eu sempre tenho vontade de cantar O Anna Julia quando te chamo pelos dois nomes.

- Aquele sapato vermelho da chulé.

- Eu fiquei com sua amiga da faculdade.

- Seu cabelo nunca esta arrumado.

- Você lê livros demais.

- Você é péssima na aula de defesa pessoal.

- Aquele dia na praça o cara não estava te olhando por que te achou bonita... você estava com milho de pipoca no dente.

- Adoro sua risada esquisita.

- Você fica bonita naquela blusa verde.

- Você faz as coisas acontecerem quando quer.

- Você parece uma menina de all star azul.

- Eu queria ter ficado com você na faculdade, mas gosto mais de ser seu amigo agora.

- Gosto quando o vento joga o cabelo no seu rosto.

- Eu não avisei sobre o milho no dente de propósito.

- Era pra você que eu ia piscar na biblioteca.

Todas essas coisas perderam a chance de serem ditas, e as vezes ele até pensou que poderia falar, mas não é esse tipo de coisa que um amigo diz para o outro, se ele falasse isso pra um amigo as coisas ficariam esquisitas, falar isso pra Anna seria a mesma coisa, ela não ia entender e ficaria estranha, iludida ou apavorada... ela sempre se apavora com demonstrações de afeto. Também tinha coisas que gostaria de dizer pra Soraya e não tem a menor idéia do por que nunca disse:

- Eu nunca entendo os filmes.

- Eu gosto de comer picanha no churrasco.

- Gostaria de jogar vídeo game no sofá da minha casa.

- Você se veste tão bem que tenho medo de te amassar quando te abraço.

- Você fica linda de óculos.

- Podemos ter um cachorro?

- No lugar de Yoga podemos pedir uma pizza?

- Eu sei que você força risadas para as minhas piadas.

- Obrigado por passar as minhas cuecas.

- Eu janto antes de vir pra casa por que não gosto de tofu.

- Eu não pisquei pra você na biblioteca.

- Eu não me apaixonei por você a primeira vista.

- Eu me apaixonei por você.

- Acho que não estou mais apaixonado.

Ele realmente gostava dela, mas a intensidade acabou e agora ele estava tentando salvar tudo o que eles construíram por que ainda tinha esperanças de voltar a olhar pra ela do mesmo jeito que olhava quando começaram a morar juntos, quando ela separou as caixas por local, tamanho e utilidade. Ele realmente amou e ainda amava, mas agora o amor mudou e talvez fosse isso que o deixasse confuso em relação ao que sentia pela amiga. Ele sabia que a Anna não iria se entregar á um relacionamento, ela não gostava de relacionamentos e nem de pessoas comuns como ele, ela já saiu com palhaços, mágicos, skatistas, músicos, dubles... nunca foi muito longe, mas ela era assim, se cansaria e iria embora... a Soraya sempre estaria ao seu lado e sempre lutaria por ele. Segurança, estabilidade e parceria isso é o que ele deseja e neste momento ele sentiu que precisava tomar uma cerveja em um bar com o pessoal do trabalho, ele estava pensando demais...

Um romance clichêWaar verhalen tot leven komen. Ontdek het nu