Capítulo 29

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E por quatro dias ela leu, leu o livro que tinha na mala, leu os livros que achou pela casa que a mãe tinha comprado á poucos dias, leu no tablet (mesmo odiando fazer isso), mas foi só quando achou aquele livro que estava no cantinho da estante que ela percebeu o que estava fazendo.

- Mãe você nunca me falou desse livro.

- Eu ainda não li.

- Você já leu outro livro dessa autora?

- Já sim, por isso comprei esse.

- Da pra entender, todos os livros dela são assim?

- Bom, esse seria o meu terceiro livro dela e até agora não me decepcionou.

- Sabe quanto livros ela já publicou?

- Ela já publicou vários, mas acho que só alguns foram traduzidos.

- Eu adorei o livro dela, acho que leria até a lista que ela escreve antes de ir ao super mercado.

- Citando a culpa é das estrelas Hazel Grace?

- Você lembra o quanto aquele livro mexeu com a Hazel, o quanto aquilo fazia parte dela? Acho que isso aconteceu comigo.

- Você quer viajar para dizer isso á autora como no livro das estrelas?

- Não, mas quero fazer as coisas diferentes, quero que o livro tenha orgulho de mim, isso soa maluquice?

- Muita maluquice, mas prefiro uma filha maluca do que uma zumbi de pijamas pela casa.

- Vou escrever um email pra Jojo Moyes agradecendo, será que ela responde?

- Melhor ir devagar, primeiro faça o livro ter orgulho de você.

- Tem razão, vou resolver minha vida.

- Assim que se fala.

- O Marcos é um babaca e eu nem amava ele, eu estava acomodada em achar que ele me amava e que era bom de mais pra mim, que eu deveria ter sorte por um cara como aquele ter olhado pra uma garota como eu, chega de ter pena de mim, vou mudar esse jogo! Me empresta as chaves do carro?

- O discurso foi lindo filha, mas você foi presa por dirigir bêbada e neste momento não me parece muito confiável para pegar meu carro ou qualquer outro. Vá de ônibus e faça o livro ter orgulho do seu esforço!

Algumas pessoas demoram meses para se recuperar do fim de um relacionamento, passam semanas de pijama tentando decidir o rumo de suas vidas, se desesperam com o esforço de não pegar o celular e ligar para aquela pessoa que esta escrevendo a historia da vida delas e dizer " Ei eu pedi uma comédia romântica e não um drama com final bem trágico!" ou " vou demitir você, me chame a Jane Austen!", e tenho que assumir que a Jane Austen pode escrever até a minha se ela quiser. Porém algumas pessoas só precisam de um empurrãozinho pra cair do sofá e levantar pra vida, respiram fundo e seguem em frente antes mesmo de alguém perceberem que estão sofrendo, podem até mesmo sofrer em silencio, mas levantam a cabeça e não se deixam abater, o caso aqui é que a Anna não se encaixa em nenhum desses e nem em qualquer outro caso de pessoas que estão sofrendo pelo fim de um relacionamento, neste momento ela esta naquela pequena porcentagem mundial que está aliviada com o fim de uma tentativa de relacionamento e naquela grande porcentagem que sofre por que se arrepende das escolhas que fez.

- Oi Dona Carol!

- Quantas caixas menina, esta de mudança?

- Sim!

- Mas você acabou de mudar pra cá, vai morar na casa do namorado?

- Vou voltar pra minha casa Dona Carol.

- Você perguntou pra ele?

- Perguntei.

- E o que ele disse?

- Que eu era a garota dele.

- Pode ser que ele não seja como o meu Alfredo Roberto e esteja sendo romântico...

- Mas eu não sou a unica garota dele Dona Carol.

- Você chutou a bunda dele?

- Só metaforicamente.

- Devia ter feito dos dois jeitos.

- Na verdade eu bebi metade de uma garrafa de um vinho caro que comprei pra ele enquanto dirigia e acabei presa.

- pelo menos você quebrou o vidro do carro dele quando saiu?

- Não.

- rabiscou o muro da casa dele?

- Não.

- Jogou alguma coisa nele?

- Não.

- Puxou os cabelos de alguma amante?

- Não.

- Só foi presa por beber e dirigir mesmo?

- Sim.

- Esperava mais de uma garota apaixonada como você.

- O problema foi esse, na verdade a solução, eu não estava apaixonada por ele, eu só queria um final feliz, eu nem gosto de vinho só bebi pra ver se esquecia que nem amava o cara que me traiu e me fez ficar longe de quem eu realmente amo.

- O Júlio?

- Não, o Gato! E meus pais...

- Boa sorte com a volta pra casa.

- Obrigada Dona Carol.

Ainda bem que ela quase não tirou nada das caixas, foi mais fácil de fazer a mudança de volta, o problema agora era onde ela ia deixar todas aquelas caixas...

Um romance clichêOnde histórias criam vida. Descubra agora