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Jaci checou a caixa de mensagens do celular mais uma vez, só para certificar de que nada havia mudado desde a última vez em que olhara, dois minutos antes. O relógio digital indicava 22:09, exatamente uma hora e nove minutos depois da hora que Mair estipulou como limite para elas estarem em casa, e o fato de que nenhuma das quatro meninas ainda havia recebido um áudio extremamente decepcionado do pai mandando elas voltarem ''naquele exato momento'' a preocupava.

Ela soltou o ar pela boca, guardando o celular dentro do body. Mair não era exatamente briguento ou mandão; era, na verdade, o contrário disso, mas Jaci não conseguia evitar o pressentimento ruim que a envolvia. 

De qualquer jeito, elas já estavam voltando para casa, subindo a rua deserta em passos lentos e preguiçosos. Potira foi quem alertou Kaolin, dizendo que já estava muito tarde e que o pai poderia ficar preocupado, e Anahí e Jaci tiveram que praticamente arrastar a irmã de cabelos crespos para fora da casa onde havia sido a festa. O evento ocorria todo ano no apartamento de um garoto que Kaolin dizia conhecer da época do colégio, mas Jaci duvidava da veracidade dessa informação, assim como duvidava bastante de qualquer coisa que a irmã comentasse com animação. 

— Então, a música não estava a pior coisa do mundo — comentou Anahí, revendo alguns vídeos que ela havia gravado da festa no seu celular. — Quer dizer...

— Quem chama uma banda para tocar em uma festa? — Kaolin jogou os braços para o alto, e então os deixou cair ao lado do corpo.

— Literalmente quase todas as pessoas do mundo? — Potira sugeriu, erguendo as sobrancelhas.

— ... chamar de pior coisa do mundo é estar sendo gentil — continuou Kaolin, ignorando o comentário da irmã. — Pelo menos as pessoas eram amigáveis. E o garoto que estava servindo as bebidas era bonito. Ele não parava de olhar para Anahí.

Os olhos verdes de Anahí arregalaram-se através das lentes de grau.

— Para mim? — seu rosto, coberto de sardas, ficou vermelho como um pimentão. — Vocês só podem estar viajando.

Jaci tentou se lembrar do rosto dele e recordou-se dos olhos escuros, tão escuros que ela pensou ter visto o reflexo dos próprios cabelos loiros neles, e o cabelo raspado, além da pele negra. Ele realmente era bonito, mas ela não havia prestado muita atenção; estava ocupada demais observando um outro garoto, de cabelos cacheados e bagunçados da mesma cor que mel, que passou a noite inteira admirando a banda de longe. 

— Não sei porque você fica surpresa — Jaci deu de ombros, checando o celular de novo. Nada. — É quase uma obrigação dele te olhar. Você é linda.

— Não tão linda quanto Kaolin — murmurou a menina ruiva.

— Ora, não se trata de quem é mais bonita — Jaci olhou para a irmã pelo canto do olho. — Isso não é...

  Uma competição, ia completar, mas se calou ao parar de andar abruptamente, olhando para cima. Elas já haviam chegado na frente da casa de dois andares e as luzes da sala estavam acesas, indicando que Mair permanecia acordado.

— Estranho — comentou Potira, checando o horário no relógio de pulso.

— O Mair sempre dorme tão cedo — Kaolin completou, em um tom duvidoso, e levantou o pé, enfiando a mão dentro da bota de couro para caçar a chave que estava lá dentro. Calmamente, ela destrancou a porta de entrada e olhou para trás, para as irmãs. — Sigam-me em silêncio.

Elas cruzaram a porta e começaram a subir as escadas, os barulhos dos sapatos ruindo suavemente pelo corredor. O primeiro andar da casa era, na verdade, uma garagem onde Mair guardava um fusca antigo que nunca usara, e o segundo andar era onde eles de fato moravam. Ao chegar no início da escadaria, Kaolin ergueu as mãos para indicar que as irmãs parassem, e abriu uma fresta da porta, inclinando o rosto para enxergar o que estava acontecendo do lado de dentro.

Elemento Água - Série Witches (I)Opowieści tętniące życiem. Odkryj je teraz