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  Para sua sorte ou azar — ela ainda não havia se decidido —, assim que acordou, permanecia deitada sobre os cobertores brancos da Sede da União.

  Seu primeiro instinto foi coçar os olhos e bocejar enquanto tateava cegamente a cômoda de madeira ao lado de sua cama à procura do celular. O quarto em que estava não podia exatamente ser chamado de grande; era retangular, tendo como decoração complementar apenas uma fina cortina de seda sobre as janelas. Também detinha de um armário de madeira rangente com um longo espelho na frente e uma cadeira estofada encostada na parede, além da cômoda. A cama, contrária ao armário, era de solteiro, o quê fez Jaci soltar um ruído desapontado ao vê-la pela primeira vez; no dia anterior, perguntou à Tacira se havia alguma possibilidade de dormir no mesmo quarto que as irmãs, e a garota não lhe respondeu, apenas a encarou com uma expressão entediada. Jaci de fato se sentira muito solitária dormindo sozinha naquele quarto novo, mas também não viu como era possível dormir com mais três pessoas naquela cama que ela própria mal cabia.

  Ao ligar o aparelho, uma imagem dela e de Potira sorrindo em uma livraria surgiu na frente dos seus olhos. Logo acima da imagem o horário indicado era 13h09, e ela tirou o edredom de cima de si para ficar de joelhos na cama. Ao afastar as cortinas da janela, pôde ver o lado de fora e constatar que o sol estava baixo demais para já ser de fato uma hora da tarde. O sistema ainda devia estar ligado ao horário de Belém.

  Além disso, não havia sinal algum naquela área — e pelo visto em área nenhuma, segundo o quê Jaci constatou enquanto caminhava pelo quarto e até quando estendeu o celular o mais alto que sua altura permitia pela janela aberta. Ar quente entrou no recinto e ela acabou desistindo de usar tecnologia naquele lugar, jogando o aparelho na cama logo em seguida, após soltar um suspiro exasperado.

  As roupas que vestiu na frente do espelho eram mil vezes melhores do que as que usou para dormir; ainda não eram do tamanho perfeito, entretanto, diferente da camisa cinza que Tacira lhe entregou, não a faziam parecer como se tivesse errado tanto assim o próprio número ao comprá-las. Era uma calça leggin preta que precisou de apenas duas dobras na barra para ficar perfeita e uma camisa bege que também teve suas mangas dobradas. Jaci sorriu ao ler a estampa que dizia QUEBRANDO CORAÇÕES DESDE OS ANOS 90.

  No dia anterior, o nervosismo e a ansiedade impediram-na de observar a Sede; agora, com o coração e a mente mais calma, pôde analisar com atenção o corredor do lado de fora dos quartos. O piso era de carpete de madeira escura, brilhando na luz solar que atravessava as janelas. Haviam raízes de plantas cruzando-se e entrelaçando-se nas paredes repletas por pinturas; homens erguendo suas flechas em direção ao sol, uma criança rodeada por um círculo de água cristalina, várias mulheres sentadas sobre longos panos pintando suas bochechas e braços com uma tinta amarela. Jaci leu as placas douradas na frente das molduras. Arqueiros em adoração ao deus Leão. Criança sendo abençoada pelos Deuses de Água. Nativos de Ephdam pintando-se em ritual tradicional.

  Haviam outras portas no corredor, os quartos que suas irmãs estavam, provavelmente, ainda dormindo. Antes que pudesse direcionar sua mão para a maçaneta de uma daquelas portas, um cheiro de comida preencheu o ar e o estômago de Jaci roncou. Ela sentiu a fome repentina lhe atingir como um soco e lembrou que não comia desde o dia anterior, quando petiscou alguns salgadinhos na festa.

  Deixando o cheiro lhe guiar, caminhou apressadamente pelo corredor, cruzou a grande sala de estar decorada com sofás e pufes e passou pela porta em forma de arco em uma das paredes.

  Encontrou-se dentro de uma cozinha onde o chão era revestido de lajotas claras. O teto era alto e o balcão estava cheio de diversos pratos com pães, queijos e presuntos, biscoitos, croissants, salgados diversos, além de sucos, café e chá. Jaci olhou ao redor e, ao se certificar de que estava sozinha, sentou-se em um dos bancos e agarrou o croissant mais próximo, fechando os olhos ao morder um pedaço.

Elemento Água - Série Witches (I)Onde histórias criam vida. Descubra agora