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Ela não estava mais em casa. Seus pés tocavam algo macio, e quando agarrou o chão, percebeu que era grama. Sentiu o sol escaldante por toda a sua pele, e foi naquele momento, só naquele momento, que notou o fato de ainda estar de fantasia, o tule pinicando a parte exposta da sua perna. Merda.

Então tomou coragem para abrir os olhos. Definitivamente não estava mais em casa. O lugar era amplo e o céu era azul, limpo, sem nuvens. Jaci estava sentada na grama rodeada por casinhas que pareciam ter saído de um conto de fadas, com telhados perfeitos e cortinas brancas cobrindo as janelas; ao longe ela enxergava a floresta, longas árvores erguendo-se acima do horizonte, além das casas e das barracas de comida que pareciam formar uma feira perto da vila.

Levantou-se, limpando os resquícios de grama das roupas. As irmãs também estavam se levantando do chão — pelo jeito, todas pareciam ter caído durante o teletransporte.

Jaci parou de se mexer, congelando no lugar que estava. Teletransporte. Seu peito inflou com ar e ela sentiu o pânico crescer dentro de si, correndo como veneno pelas veias. Ela havia se teletransportado. O pó mágico, ou qualquer que fosse seu nome, havia feito ela passar de um lugar para outro completamente novo em questão de minutos; instantes, se for mais precisa. Ela havia acabado de presenciar magia.

— Onde estamos? — andou em direção aos outros, passando a mão nos cabelos que se arrepiaram durante a viagem. — Com certeza não é Belém...

— Parece Grizzly Hills de World of Warcraft — comentou Anahí, com o tom que usava toda vez que mencionava uma característica de algum dos seus jogos favoritos. Normalmente as irmãs ignoravam seus comentários geeks, mas Jaci estava prestes a perguntar o quê era Grizzly ou World of não-sei-o-quê no momento em que Yara se pronunciou.

— Bem-vindas a Ephdam — sorriu, e os olhos dourados pareciam ouro na luz do sol. — Meninas, não tenho muito tempo, portanto, acompanhem-me.

Mair seguia ao lado dela, olhando ao redor com um ar um tanto nostálgico, como se já houvesse visitado aquele lugar antes. Eles passaram pelas barracas agrupadas que de fato formavam uma feira; porém, ao contrário de frutas e vegetais, as pessoas anunciavam ervas daninhas, antídotos em formato de poções, e Jaci podia jurar que enxergou uma placa que dizia VENDE-SE ASAS DE FADA PARA DEGUSTAÇÃO, apesar da vendedora escondê-la rapidamente ao ver que a garota observava. Todos os feirantes e moradores da vila olharam com respeito para Yara e com curiosidade para Mair e as garotas, como se eles fossem ossos de dinossauros mortos em exposição no museu. 

Eles seguiram para além da feira, passando por outras vilas, até se aproximarem de um gigantesco prédio que tinha mais largura do que altura. O lugar parecia antigo, com a pintura degastada e descascada, e os dois enormes pilares na frente estavam riscados de cima a baixo com nomes de pessoas, Jaci percebeu ao aproximar-se. Kayke Santos. Dakota Macêdo. Bartira Gonçalves. Além disso, haviam números datados ao lado dos nomes. Verão de 88! 10-12-2001. 31-06-96. Ano novo de 2012!

— É uma república? — ela perguntou, virando-se para Yara.

— Chama-se Sede da União, mas sim, acho que república seria o nome que os humanos usariam para descrevê-la — a mulher de cabelos vermelhos começou a seguir a escadaria que os levava até grandes portões de aço, frios ao toque. — Permitam-me entrar em sua Casa sagrada — murmurou, com os dedos apoiados sobre a superfície, e então os portões se abriram. O resto do grupo observava a cena com um certo espanto. — Normalmente é possível entrar apenas tocando e dizendo abra, mas já que estou na companhia de pessoas desconhecidas, preciso saudar os deuses — as quatro irmãs piscaram, perplexas. Yara sorriu. — Vamos?

Elemento Água - Série Witches (I)Onde histórias criam vida. Descubra agora