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*AVISO DE GATILHO:
Esse capítulo contém uma cena de CRISE DE ANSIEDADE, que pode causar desconforto e mal-estar em algumas pessoas. Caso você se sinta desconfortável, favor, pular a primeira parte desse capítulo. Boa leitura!

Raoni ainda conseguia sentir os fortes batimentos cardíacos ecoando por todo o seu corpo.

  Tentando controlar a respiração, ele escorregou as costas pela parede e sentou no chão frio, apoiando-se contra a porta trancada do banheiro. Respira. O aperto no peito era dilacerante e o suor intenso escorria pela testa, encharcava os cílios, incomodava os olhos. De novo não. Por favor. De novo não.

  O banheiro estava em desfoco — a pia, o vaso sanitário, o tapete de algodão feito pelas fadas, tudo era um borrão. Esforçou-se para se manter consciente, lembrando das palavras de Tacira durante as crises anteriores.

  Olhe ao redor, ouviu a voz dela no fundo da mente, baixinha como um mantra. Olhe ao redor, Raoni. O quê você vê?

— Espelho — disse em voz alta, cravando as unhas na palma das mãos. — Espelho. Banheira. Tapete. Escova. Estou no banheiro... — sua voz falhou, a respiração entrecortante, a pressão sufocante no peito. — Estou no banheiro. Sozinho.

  E tudo vai ficar bem, era a memória da voz de Endi, a lembrança do amigo apertando o corpo contra o dele enquanto Tacira, sentada na sua frente, ajudava-o no exercício de respiração.

  O exercício de respiração. Como não se lembrara do exercício de respiração? A voz de Tacira veio mais forte dessa vez, apesar de continuar dentro da mente; inspire pelo nariz, Raoni. Inspire pelo nariz. Isso. Agora expire pela boca.

  Todas as sensações ruins desapareceram lentamente, a pressão no peito diminuindo e diminuindo até sumir. Raoni jogou a cabeça para trás, suspirando de alívio. Mais uma crise. No fundo da sua mente, enxergou a imagem de Tacira e Endi sorrindo orgulhosamente para ele. Eu venci mais uma crise.

  Sentia-se exaurido, física e psicologicamente; o ataque no salão, o roubo dos elementos, os gritos de Manari dirigidos à Tacira, a briga com Jaci. Jaci. Ele agora se recordava de ter dito apenas fique calada na próxima vez, a expressão de tristeza e choque no rosto dela, o desespero na voz quando tentou tocá-lo, quando tentou pedir desculpas.

  E ele se afastou. Afastou-se, foi embora em passos duros, deixando-a para trás. Tudo por conta da tensão que antecipava as crises de ansiedade, por conta da raiva acumulada, por conta do segredo; mas Jaci não entenderia caso Raoni tentasse explicar, entenderia? Ele sabia que ela tentaria ser compreensiva, mas será que continuaria o tratando do mesmo jeito se soubesse da sua doença? Se soubesse das noites de insônia, dos formigamentos pelo corpo, dos receios, dos pensamentos excessivos e medos recorrentes?

  Era muito diferente com Tacira e Endi, então. Os três cresceram lado a lado; não houve um mundo onde não estivessem juntos — e nem deveria haver, pois seria como um baque no Universo, uma quebra de protocolo. Os dois melhores amigos sempre estiveram lá, presenciando todas as crises de ansiedade de Raoni, segurando sua mão, pedindo para que ele respirasse fundo, contando histórias aleatórias e lembranças da infância para distraí-lo da tensão e do desespero; Tacira e Endi sempre souberam como lidar com ele em todas as situações e casos possíveis.

  Mas Jaci era apenas uma garota e, apesar de ser muito diferente das outras que Raoni já havia conhecido, ele não sabia se ela se importava o suficiente para aceitá-lo do jeito que ele era. O suficiente para perdoá-lo.

Elemento Água - Série Witches (I)Where stories live. Discover now