τrєʑє.

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— Eu não acredito que estou perdendo o meu encontro.

  Tacira revirou os olhos para o comentário de Endi e jogou a cabeça para trás, descansando no encosto do sofá. A Sede estava muito mais silenciosa do que de costume, com os corredores escuros e as portas dos dormitórios dos jovens, trancadas. Desde a primeira noite de insônia naquele lugar, Jaci percebeu que os moradores da Sede da União, ao contrário dos adolescentes que conhecia em Belém, iam para cama muito cedo, e até aquele momento ela não havia encontrado nenhum casal rebelde ou qualquer grupo de amigos escondido pelos cômodos de madrugada, rindo e conversando baixinho; ao invés disso, naquela noite, estavam ela, as irmãs, Endi, Tacira e Raoni na sala de estar da Sede, todos espalhados pelos sofás.

  Jaci ergueu os olhos da própria mochila aberta em seu colo e direcionou-os para Endi.

— Você tinha um encontro? — perguntou, franzindo o cenho. — São uma hora da manhã e você tinha que estar em um encontro?

— Bem — um sorrisinho malicioso fez os cantos da boca do garoto se erguerem, os olhos escuros vidrados em Jaci – enquanto Raoni tinha uma beleza detalhista e poética que necessitava de vários minutos para ser admirada, a de Endi era alarmante, chamativa e viciante. Os olhos escuros, muito escuros, a pele assemelhada a uma pedra Ônix, com os músculos acentuados e curvados em lugares estratégicos, o maxilar definido e pontudo que angulava o rosto. Tudo nele era muito urgente, imediatamente notado. —, nessa hora, o encontro já teria acabado, obviamente. Eu e a garota já estaríamos em um outro patamar...

— Tudo bem, tudo bem — Jaci disse, em um tom de voz mais alto que o dele, balançando a cabeça freneticamente – havia prendido algumas mechas com uma presilha dourada, então nenhum punhado de fios bateu no seu rosto durante o ato. — Na próxima vez, lembre-me de não perguntar nada.

  — Tacira — chamou Kaolin, que estava sentada ao lado de Jaci, cutucando as unhas. — Eu sei que já perguntei, mas preciso ouvir você repetir; por quê estamos indo essa noite, se o poema dizia que o nosso prazo vai até amanhã?

  Tacira afastou uma mecha rebelde do cabelo com um simples movimento – assim como Kaolin, ela parecia exausta; todos estavam, na verdade. Assim que terminaram de assimilar o bilhete com aquele poema horrível, para dizer o mínimo, o resto da tarde foi um turbilhão de preparativos apressados e planos criados de última hora, pois tudo que tinham planejado fazer em uma semana foi resumido em menos de um dia. Tacira distribuiu uniformes escuros e camuflados para todos, Raoni concluiu apressadamente o treinamento básico com Jaci, Kaolin, Potira e Anahí, e Endi ficou encarregado de abastecer as mochilas com todos os mantimentos necessários — alimentos, água, pó de fada, poções, armas, uniformes e botas extras, kits de emergência, sacos de dormir, lanternas, entre outros. Jaci sentia o corpo inteiro palpitar de medo e ansiedade, como se estivesse indo em direção à guerra.

  E talvez estivesse mesmo.

— Os vampiros e metamorfos são imprevisíveis; nada os impede de mudar o prazo para seu bel prazer — explicou Tacira. — E é por isso que não podemos esperar até amanhã. Nós precisamos ir para Belém o mais rápido possível.

  Endi balançou a cabeça em confirmação.

— Nunca sabemos quando aqueles sanguessugas mandarão outro bilhete dizendo primeiro de abril, idiotas. O prazo era até ontem e vocês nem desconfiaram. Divirtam-se morrendo.

— Endi — Raoni arregalou os olhos para o amigo. —, você não está ajudando nem um pouco.

— O quê estamos esperando, afinal? — perguntou Anahí, tentando equilibrar uma história em quadrinhos no joelho. Potira estava ao seu lado, a cabeça apoiada no ombro da irmã.

Elemento Água - Série Witches (I)Onde histórias criam vida. Descubra agora