qυατrσ.

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A cabeça de Jaci rodava como se ela tivesse acabado de sair de uma montanha-russa.

— Você está querendo dizer — sua voz saiu fraca. — que nós somos... bruxas? Bruxas como... as histórias? Bruxas que fazem poções, usam varinhas mágicas, viajam em vassouras flutuantes...

Tacira soltou uma risada.

— Não, não esse tipo de bruxa — sentou-se ao lado do garoto que Jaci ainda não havia descoberto o nome. — Tudo o que vocês ouviram a vida inteira sobre bruxas está errado. Não temos narizes compridos, verrugas pelo rosto ou pele verde. E nem usamos chapéus pontudos — ela olhou com desdém para a tiara que as garotas usavam. Jaci tirou a sua discretamente, escondendo-a no colo. — Esse estereótipo foi criado por pessoas que sempre tiveram medo de nós e nunca entenderam o real significado da nossa magia. Nós somos bruxos de Ephdam, esse lugar feito para abrigar os seres mágicos criados pelos Deuses. Eles nos deram poderes sagrados para protegermos os elementos e evitarmos uma catástrofe global, não para cozinharmos criancinhas no caldeirão, como os falsos líderes do mundo humano afirmam.

— Poderes sagrados? — Anahí repetiu em um sussurro, o rosto pálido e sardento iluminado. — Que tipo de poderes sagrados?

Os dedos de Tacira movimentaram-se com tanta rapidez que Jaci mal pôde ver nitidamente. Uma luz prateada emergiu de suas mãos e Jaci ouviu um ruído vindo de uma das estantes; um frasco transparente estava destampado e o seu conteúdo escapava e sobrevoava pela sala. Era terra, Jaci percebeu com atraso. Gramas de terra passavam por cima de sua cabeça sem cair ou tremular, e Tacira balançava suavemente os dedos, um brilho divertido estampado nos olhos azuis, enquanto a risada de Anahí ecoava por todo o ambiente.

Com um gesto rápido Tacira fez a terra voltar para o frasco, tão repentinamente quanto havia surgido. 

O coração de Jaci parecia querer quebrar as costelas que o rodeavam.

— Vocês... vocês acabaram de ver a mesma coisa que eu vi, não é? — os olhos castanhos de Potira estavam arregalados. — Ela acabou de fazer terra sobrevoar a nossa cabeça ou estou enlouquecendo? 

— Nós... — Kaolin balançou a cabeça. — Nós conseguimos fazer isso? Quero dizer, magia? — a última palavra saiu dos seus lábios em forma de dúvida e espanto.

— Bem, se são bruxas de verdade, conseguem — o garoto estava com o braço esquerdo ao redor dos ombros de Tacira. Muito bem, Jaci pensou, um tanto decepcionada. Pelo menos eles formam um casal bonito. Mas tinha certeza que, apesar de tentar, ela não conseguia esconder a expressão de desilusão em seu rosto.

— Mas se somos bruxas desde o nascimento, já deveríamos ter sentido algum tipo de magia... não é? — Jaci franziu a testa. — Quer dizer, não me lembro de ter me teletransportado ou movido terra alguma vez.

— O que Raoni quer dizer — começou Tacira, finalmente revelando o nome do garoto. Raoni. Jaci nunca havia escutado outro igual. — é que vocês de fato têm poderes; corre pelo seu sangue desde o dia em que abriram os olhos e enxergaram o mundo pela primeira vez. Mas são acionados apenas após a Cerimônia de Marcação, que é o dia em que vocês recebem essas belezuras aqui — ela afastou a manga do ombro e revelou uma tatuagem de plantas rodeadas por um círculo escuro, parecida com a de Mair e Yara. — Normalmente, os bruxos recebem as suas Marcações aos dez anos de idade, mas como vocês foram criadas no mundo humano...

— Por que você nunca contou nada disso para a gente? — o tom de Kaolin continha mais mágoa do que raiva em si. A pergunta foi dirigida a Mair, que encolheu-se um pouco na cadeira ao ouvir a filha. — Todas essas histórias, magia, poderes, tudo escondido durante toda a nossa vida. Os nossos pais...

Elemento Água - Série Witches (I)Where stories live. Discover now