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  Jaci terminou de abotoar o colarinho da camisa vermelha enquanto atravessava a porta em forma de arco do salão. Já era muito cedo e ela havia dormido muito tarde, além de ter falhado em esconder as olheiras com a base de Kaolin — achara o objeto embaixo da cama e, ao deduzir que a irmã devia ter esquecido na noite anterior, derramou um pouco do conteúdo sobre a palma da mão e passou pelo rosto. Ficou horrível. O tom de Kaolin era muito mais escuro que o dela e Jaci definitivamente não sabia medir a quantidade certa para passar sobre a pele. Resultado: seu rosto inteiro ficou branco, e suas olheiras, mais escuras ainda, então simplesmente lavou o rosto no banheiro que ficava perto do corredor dos quartos de hóspede e aceitou ficar parecida com um dos zumbis que faziam parte dos jogos que Anahí tanto gostava.

  Ela estava indo em direção à cozinha, esperançosa de achar uma variedade de alimentos para o café da manhã (ainda não havia aprendido a pedir a comida por magia, e fez uma nota mental de perguntar aquilo a Raoni quando tivesse a oportunidade), quando enxergou uma movimentação dentro do salão onde ocorrera a cerimônia.

  Ao entrar no lugar, relances de imagens surgiram na sua mente — uivos, vidro estilhaçado, os olhos de Anahí brilhando no escuro, o coração palpitando forte dentro do peito. Yara, agora, estava novamente em pé no altar, dessa vez com uma camiseta e uma calça e os cabelos presos em um rabo de cavalo, e Jaci sentiu uma tontura repentina, apoiando-se em uma cadeira próxima para não desabar no chão.

— Jaci? — Endi surgiu no seu campo de visão, as mãos dele sobre os braços dela, guiando-a até que ficasse sentada na cadeira. — Está tudo bem? O que aconteceu?

— Eu... — balançou a cabeça e a tontura desapareceu tão subitamente quanto havia surgido. — Foi apenas um mal estar. O que está acontecendo? Por que todos estão aqui?

  O lugar estava ficando mais cheio, jovens e crianças bruxas esfregando os olhos sonolentos e cruzando os braços sobre os pijamas, cochichando baixinho uns com os outros.

— Yara convocou uma reunião de última hora com todos os moradores da Sede — explicou Endi, agarrando um dos copos vazios que ainda estavam sobre a mesa mais próxima e, com uma faísca verde brilhando ao redor dos dedos, encheu o objeto de vidro com água. O Elemento Água marcado no seu ombro, idêntico ao de Jaci,  brilhou. — Beba. Vai fazer você se sentir melhor — entregou o copo para Jaci, que bebeu tudo em instantes. — Onde estão as suas irmãs?

— Eu não sei — ela balançou a cabeça, olhando ao redor com curiosidade. — Eu entrei no quarto delas mais cedo e estavam todos vazios. Imaginei que estivessem aqui, mas duvido...

— Bom dia a todos — a voz de Yara ecoou pelo salão, roubando a atenção de Jaci; e, pelo visto, de todos os jovens, pois pararam de conversar imediatamente e ergueram os olhos para a Magistrada. — Bem, primeiramente, eu gostaria de pedir desculpas pelo horário dessa reunião, mas é um assunto que precisa ser tratado impreterivelmente. Então, eu gostaria a atenção total de todos vocês, por favor.

  Jaci levantou-se da cadeira, deixando o copo de lado, e ergueu a cabeça para tentar encontrar as irmãs pela multidão. Pensou ter enxergado o cabelo castanho de Potira, mas, ao observar a garota se virar, percebeu que não era a irmã.

— A Ordem decreta que, a partir desse exato momento, as portas de entrada da Sede da União serão bloqueadas para qualquer tipo de tráfego; ou seja, está proibida a entrada e saída de qualquer pessoa não autorizada, por tempo indeterminado — um coro de protestos inconformados ecoaram pelo salão, além de vaias e jovens batendo os pés com força no chão. Yara não movimentou nem um músculo, mas sua expressão gradualmente tornou-se rígida. — Eu espero que fique claro que qualquer jovem que for encontrado fora da Sede da União será levado imediatamente para a Sede da Ordem — sua voz sobrepôs os gritos. — Sem exceções.

Elemento Água - Série Witches (I)Where stories live. Discover now