"Ele acredita que o casamento é uma história falida. Ela sonha em se casar."
Os livros de romances sempre fizeram parte da vida de Lucinda. Enquanto, para Felisberto o romantismo sempre fora motivo de recuar. Quando são obrigados a perceberem a pr...
- O que eu te peço Senhor é o teu melhor para mim, nem ao menos o tal precisa vir em um cavalo branco. Só acelera o processo da entrega, por favor. Eu tô esperando já faz um bom tempo e até agora nada.
Miranda, minha irmã mais velha me olha com certa desaprovação. Eu já estava acostumada com seus olhares, mas ela perdeu o direito de me criticar um tempo atrás, casada e grávida do seu primeiro filho, o tão esperado, Luís Miguel.
-Você tem que sair dessa neurose de se casar, existem outras coisas que você deve fazer antes disso.
E o discurso ia começar em...
1...
2...
-Eu já tenho vinte e dois anos! -Exclamei erguendo-me da cama e seguindo na direção da porta, buscando fugir daquela conversa que eu sabia bem onde ia acabar.
Menos de três segundos.
Fui eu, dessa vez.
-Isso mesmo. Vinte e dois anos e ainda nada de faculdade. -Ela mantinha o cenho franzido, pondo a mão esquerda espalmada na enorme barriga.
-Faculdade não me interessa, não iria fazer nenhuma diferença em minha vida afinal. Eu apoio e incentivo qualquer um que tenha esse sonho de se formar, mas eu não tenho. -Falei com a mão já posta sobre a maçaneta da porta, pronta pra girá-la e fugir de toda aquela cena repetitiva.
Minha irmã segurou em meus ombros virando-me e nos deixando uma de frente pra outra, ela me olhava com uma expressão preocupada o que fez com que a culpa surgisse por deixá-la assim, sem reais motivos, no seu estado atual.
-Me casei aos vinte e sete anos e foi porque Augusto estava ansioso demais e tínhamos tudo ao nosso favor. -Mirando falou, olhando-me em meus olhos e transmitindo toda sua verdade.
Augusto, meu cunhado e marido de minha irmã mais velha sempre foi dado ao romantismo. Quando teve a oportunidade de se casar com Miranda, sua dama tão almejada, não perdeu tempo e fisgou o peixe para todo o resto de sua vida.
-Casamento não é tudo. Você não deveria se preocupar tanto com isso. -Ela mirava a porta atrás de mim quando pronunciava cada palavra.
Aquele conselho era até engraçado, vindo de alguém casada e supostamente feliz, pelo menos era isso que eles transmitiam quando estavam juntos, felicidade. Talvez eu estivesse errada e aquele casamento não estivesse indo tão bem o quanto aparentava.
-Você sabe o quanto sonho com isso, desde os treze anos!- Falei enfatizando o número treze, pois tudo começou naquela época e é tudo o que eu sempre quis e ninguém poderá me fazer mudar de idéia.
Miranda retirou as mãos de meus ombros, expirou fundo e voltou a me fitar. O seu olhar carregava o peso de gente mais velha e mais experiente, sendo apenas sete anos mais velha que eu, conseguia me impor á imagem de alguém infinitamente mais sábia e segura de suas palavras.
Então, lá estava eu esperando pacientemente o que ela ainda tinha pra me falar.
-Minha doce irmã, o tempo passa e a gente precisa amadurecer e entender que nossas escolhas podem ter consequências irreparáveis. –A última palavra foi dita com mais precisão.
-O que quer dizer?-Perguntei, mesmo já imaginado todas as possíveis respostas.
-Você sabe quantos erros cometi na adolescência e como sofri com eles. Quando olho pra você e te vejo inebriada de pensamentos românticos, eu tenho medo.
Medo. Essa era a palavra chave pra explicar quase tudo na minha vida.
Medo.
Medo.
Medo.
Diminuí o espaço que havia entre nós e estendi meus braços ao redor de seu tronco. Suas palavras bateram em cheio fazendo um frio se implantar em meu estômago e lágrimas suspenderem em meus olhos.
-Eu não sou você. -Falei quase em um sussurro, mas pelo fato de nossa aproximação causada pelo abraço, ela pôde escutar.
-Espero que não. -Ela pronunciou por fim, enquanto acariciava minhas costas.
***
M.O.M.E.N.T.O DE AGRADECER
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