Capítulo 36/ parte 2

120 10 0
                                    

     De longe poderíamos até parecer esse tipo de casal que aprecia a companhia um do outro em uma noite silenciosa e convidativa no belo local. Contudo, nós não somos um casal apaixonado apreciando a companhia um do outro, somos dois jovens machucados pelas decisões errôneas das pessoas que amamos. Somos o jovem casal quebrado com dificuldades para falar sobre o passado e com deficiência no quesito confiança.Para falar a verdade nem sequer somos um casal de verdade.

- E você não confrontou sua irmã depois de ouvir que ela ia fazer um aborto? Mesmo que ela não tenha feito um realmente, mas você não sabia naquela época. - Sei que nem seu tom ou sua pergunta são de julgamento, no entanto isso não impede que eu fuja do seu olhar mesmo quando sua mão segura o meu queixo e tenta me trazer de volta.

Por medo. Essa é a crua e única verdade, mas como devo admitir para o cara com quem venho compartilhando sentimentos secretos que sou uma verdadeira medrosa.

Como?

-Meu amor, nesse momento eu estou aqui disposto a ouvir tudo o que você tem pra me dizer e te ajudar. Confia em mim, por favor.

-Por que me chama de meu amor?

-Eu não sei, essas palavras apenas começaram a saltar da minha boca e eu não vejo problemas em falá-las. Te incomoda?

-Eu apenas estranhei. - Digo e volto a fitar seus belos olhos.Suas palavras não me incomodaram desde a primeira vez que ele as disse no começo da noite, na verdade me fez sorrir.

-Ótimo, nesse momento eu não acho que posso parar de te chamar assim.

-Eu tive medo. -Ele franze as sobrancelhas e volta ao normal em segundos ao perceber do que estou falando.

- Do quê? Ou de quem?

Sinto que suas perguntas não foram esporádicas, sei encarando-o nesse momento que talvez ele seja o único que faria essa pergunta e o único capaz de entender.

-Dele.

-Dele. - Ele sibila e continua mantendo seus olhos focados em mim dando um leve balançar de cabeça em confirmação para que eu continue.

-Um dia antes de presenciar a briga deles eu estava sozinha em casa e ele bateu na porta eu senti medo naquela hora. -Deposito minha mão esquerda no meu abdômen e percebo o quanto minha respiração está acelerado e tento voltar ao normal.

-Estou aqui linda, apenas tome seu tempo. -Sua voz calma e sua mão encaixada na minha dando leves apertos como para passar incentivo, me deixam mais calma.

-Eu fiquei com medo dele chamar a atenção dos vizinhos e acabassem chamado a polícia, agora eu sei que teria sido melhor se isso tivesse acontecido. Naquele dia eu decidi abrir a porta e falar pra ele ir embora já que Miranda não estava em casa, mas nada do que eu dissesse faria alguma diferença naquele momento. Ele estava fora de si. No momento em que eu abri a porta o arrependimento veio logo em seguida e assim que ele entrou a porta foi fechada em seguida e logo o meu braço foi capturado e apertado com força, eu tive muito medo nessa hora.

-Ele te machucou? -Beto pergunta é não consigo decifrar a expressão no seu rosto.

-O machucado físico não teria deixado tantas marcas. -Meu encolher nesse momento foi inevitável ao lembrar de tudo, no entanto ter os braços de Beto me circulando em um abraço me faz relaxar.

-Continua amor.

Ele pede e eu o faço.

- A expressão dele era de total fúria e seus olhos me deixavam a ponto de chorar e implorar para que ele fosse embora de uma vez, mas nada era pior do que o seu sorriso branco de louco. Eu implorei para que ele fosse embora e tudo que recebia em trocas eram apertos mais fortes em meu braço e meus gemidos de dor o faziam sorrir ainda mais. De uma hora pra outra ele me jogou no sofá e começou a circular pela sala mexendo no cabelo feito um lunático descontrolado até voltar a me encarar e ofender toda minha família, principalmente minha irmã e definitivamente eu não conhecia a maioria daqueles palavrões só que eu me lembro tão bem dele repetindo a palavra vadia várias vezes, eles tinham brigado de novo e tinha sido algo muito grande.

Eu amo sua irmã.

Eu odeio sua irmã.

Ela é minha vida.

Ela acabou com minha vida.

Você é linda menina.

-Essas eram as frases que ele não parava de repetir enquanto chutava todos os móveis da sala e a última realmente me assustou muito. Quando ele disse a última frase o olhar dele tinha mudado e meu corpo se encolheu no sofá e tudo foi tão involuntário que eu mesmo não percebi que estava toda encolhida quando ele se aproximou e passou a mão pelo meu cabelo e braços.

-Ele te ...

-Não. -Ele não me estuprou, mas tenho certeza que isso passou pela cabeça dele quando ele começou a beijar meu rosto e passar a mão pelo meu corpo só que foi a frase dele que me fez ter certeza disso.

-O que ele disse?

-Que iria se vingar da minha irmã, ia fazer ela pagar violando o que ela mais amava.

-Eu quero bater nesse cara mesmo sendo contra a violência só por ele ousar encostar o dedo em você. -Eu sinto seu corpo enrijecer enquanto me abraça, sinto suas mãos apertarem em volta do meu corpo.

-Me beija.- Eu peço desesperada para substituir as nossas sensações nesse momento e ele faz. -Nosso beijo diferente do primeiro não começa de forma doce e delicada, existe algo desesperado e apressado desde o início e Beto parece reinvindicar algo a todo momento sugando meus lábios e os mordendo sem nenhum receio ou preocupação. Eu gosto disso, preciso mais e mais disso.

-Amor, termina de contar antes que eu saia na caça desse cara por toda essa cidade.-Sua respiração pesada no meu pescoço me traz calafrios e resolvo atender seu pedido por necessidade de falar.

-Acho que o Senhor me ajudou naquele momento, nunca implorei tanto algo como eu pedi para que aquele homem saísse de cima de mim e fosse embora. Eu fui atendida, pois ele de repente parou e me olhou saindo em seguida de cima de mim. Ele parecia indeciso sobre o que fazer em seguida e me encarou longamente em seguida e acho que meu por favor o fez decidir de vez e se afastar totalmente. Bem, antes de fechar a porta e ir embora ele me olhou e disse para que eu não conta-se  aquilo pra ninguém e caso eu desobedecesse ele iria saber e não ia recuar da próxima vez. Ele também disse que se minha irmã o contrariasse de novo ele ia fazer não só ela como toda a família pagar caro.

-Sinto muito, esse cara não estava bem e você não merecia enfrentar tudo isso.

-Eu ainda me sinto culpada pela morte do meu sobrinho.

-Olha pra mim, meu amor. Se existe um culpado nessa história não é você. Os abortos involuntários acontecem por motivos aleatórios e não tinha nada que você pudesse fazer.

-Eu devia ter falado pra alguém naquela época.

-Eu concordo com você nisso, nunca deveria ter sofrido calada por tanto tempo.

-Eu sou tão fraca.- Sua gargalhada me surpreende e ele me puxa ainda mais pra si.

-Está de brincadeira? Você é a mulher mais forte que eu conheço e apesar de tudo. -Ouviu bem? Apesar de tudo você continuou do lado da sua irmã sem julgamento apenas dando amor. Você é incrível e estou completamente encantado por você laranjinha.

-Esse apelido. -Reclamo.

-Você prefere amor? -Ele pergunta e me sinto levemente ruborizada.

-Linda, apesar do nosso namoro ser falso e ter começado por um objetivo totalmente diferente eu quero te dizer que você me trouxe a confiança.Hoje eu confio em você e acredito que possa começar a confiar em outras pessoas e agora você sempre poderá contar comigo.

-Obrigada, Felisberto.

-Obrigada, Lucinda.







Antes do Sim (CONCLUÍDO)Nơi câu chuyện tồn tại. Hãy khám phá bây giờ