capítulo 36/ parte 1

113 9 3
                                    

   A noite nunca foi tão fria, talvez isso se deva ao fato de está sentada no banco de meu park favorito às onze da noite de uma quinta feira ou por simplesmente ter sido hoje o dia que encarei o meu maior receio, confrontar minha irmã sobre um suposto aborto. A resposta que eu recebi me fez ficar vazia. Todos esses anos eu quase sufoquei por um segredo que nem sequer era realmente segredo. Eu odiei todos esses anos a minha covardia por não ter saído de debaixo da cama e ter expulsado aquele troglodita e o mandado para o espaço. Eu carregava a morte do meu sobrinho nas minhas costas e acreditava que eu não merecia amar.

-Lucinda? -Alguém me chama não tão distante de onde estou e é impossível controlar o sorriso quando o som da sua voz me traz tanto conforto.

- O que está fazendo aqui? -Pergunto.

-Eu escolhi esse lugar para pensar em algumas coisas e você? - Sua mania de erguer a sobrancelha nunca me passou despercebido, mas ultimamente é irresistível não me atrair por esse detalhe.

-Esse é o meu lugar favorito. Você que é o intruso aqui. -Digo e consigo lhe arrancar um singelo sorriso.

- Não fale assim lindinha, dessa forma vou pensar que minha presença não é bem vinda. -Ele brinca e eu resolvo continuar.

- Caro Felisberto, não ache que eu não aprecio a sua companhia , tenha a convicta certeza disso.

-Não se faça de difícil dessa forma. Eu sei que estava ansiosa pra me ver e logo nesse momento deve está dando pulinhos de felicidades aí dentro de sua cabeça.

- Se eu fosse você não seria assim tão pretensioso. - Dou de ombros e encaro o céu nebulosa coberto por grandes nuvens.

-É inevitável não te provocar quando você me fita dessa forma.

- E qual seria a forma que estou lhe fitando? -Minha pergunta é mais curiosa do quê provocadora.

- Me  olha praticamente implorando para que lhe tire da escuridão confusa dos seus pensamentos.

É inevitável não gargalhar. É inevitável não sorrir. É incrível que ele consiga me traduzir de uma maneira tão fácil.

- Você consegue ver tudo isso enquanto eu te fito. Eu pareço ser do tipo que tem pensamentos ruins?

-Todos somos linda, não vejo nenhum motivo pra você ser diferente. Aqui todos nós somos humanos e nós dois não somos inimigos e você pode confiar em mim.

-Você também pode confiar em mim.

-Eu confio. Foi difícil, mas agora eu confio.

-Por que agora?

-Percebi que nós dois estamos quebrados e embora ainda não saiba o que deixou você assim, quero te ajudar.

- Não somos objetos para ter conserto, não existe uma cola para consertar o coração.

- A gente se conhece faz um tempo e só agora eu percebi que não devia ter te deixado quando você mais precisava de mim. O que aconteceu com você?

-Não tinha como você saber, ninguém percebeu.

-Eu não me importo com o fato de os outros não terem percebido que algo estava  errado com você, naquela época você era minha melhor amiga e eu deveria ter percebido.

-Eu Também me afastei de você e nunca percebi o seu problema com sua mãe, na verdade eu nunca perguntei sobre ela.Eu sinto muito, Beto.

-Não sinta, quando eu estava com você era os momentos mais felizes da minha vida. -Suas palavras doces me fizeram chorar, na verdade elas eram a minha desculpa perfeita pra chorar.

-Eu tive medo.

-Todos nós temos de alguma coisa. - Sei que ele está tentando me reconfortar e o vai vem de sua mão nas minhas costas junto com seus beijos carinhosos em meu cabelo só aumentam a quantidade de lágrimas que escorre pelo meu rosto.

-Eu fui uma covarde. Eu deveria tê-la ajudado antes e evitado tudo aquilo.

-Calma meu amor, estou aqui agora e vou cuidar de você. Não precisa chorar.

-Se eu tivesse enfrentado meu medo e falado pros meus pais quem ele era, talvez ela tivesse o bebê.

-Eu não tô entendendo o que você tá dizendo, mas por favor para de chorar você tá me quebrando inteiro.

-Eu sou uma pessoa horrível.

-Não. Nunca mais ouse falar isso! Ouviu bem? A minha garota é incrível e você não pode repetir esse tipo de coisa.

-Eu não mereço você. -O gosto salgado das minhas lágrimas é decifrado pelos meus lábios e encarar Beto torna tudo mais amargo.

-Eu que não mereço você . Olha pra mim Lucinda, vamos linda encare os meus olhos enquanto me declaro pra você.

-Eu tive medo e alguém morreu por causa disso.

-Eu oposto que você fez o possível para salvar esse bebê.

-Eu fiquei com medo dele machucar toda minha família e não fiz nada.

-Olhe pra mim e diga o que aconteceu. - Ele pede e seus olhos me encaram sem nenhum pré julgamento, apenas existe preocupação neles.

Parada bem no meio do meu park favorito encarando os olhos mais lindos do mundo em meio a tantas lágrimas, eu decido contar para Felisberto tudo o que aconteceu durante o período do namoro de Lucinda com o monstro. Nesse momento eu resolvo contar o que houve nos bastidores quando ninguém estava vendo, vou dá para Beto as cenas perdidas daqueles dias perturbadores. Confesso mais uma vez que sinto medo.










Antes do Sim (CONCLUÍDO)Where stories live. Discover now