Capítulo 46

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A surpresa que tive ao chegar no seminário de Josefine e constatar que seu cabelo era realmente azul não foi tão espetacular assim, eu já sabia que estava atrasada, mas pensava que ia chegar e sentar sem ao menos ser percebida e tudo ficaria bem. Ao contrário, o seu cabelo azul descontraído só mostram por fora a personalidade forte da mulher, e receber a maior direta dela assim que encostei o meu pé na sala foi constrangedor.

O cabelo azul foi ofuscado pela vermelhidão do meu rosto, foi terrível. Nada estava ganhando mais atenção do que eu.

Apesar de ter nascido na igreja a maioria dos sermões que escutei ao longo de meus vinte dois anos, nunca causaram algum impacto. Eu não prestava atenção, sempre ouvindo e nunca sentindo.

A partir do momento que Josefine resolveu abrir a boca para falar, logo após agradecer pelo meu atraso é claro. Eu não resolvi ouvir ou sentir nada, tudo aconteceu de forma natural e cada vez que ela falava uma palavra eu sentia o meu rosto esquentar como se tivesse acabado de levar um tapa.

A carapuça estava servindo perfeitamente bem.

Me remexia na cadeira estofada, buscava uma posição confortável. Desisti assim que percebi toda a atenção que estava ganhando.

Me fiz de estátua.

Os olhos da mulher de cabelos azuis encontravam os meus algumas vezes, logo tratava de desviar dos dela. Aquilo era desconfortável.

Todo o sermão se tratava de comodismo e confesso que eu tava bastante envolvida e nenhum pouco confortável. No segundo em que Josefine se despediu de nós os meus pés correram o mais rápido para a saída. Eu preciso daquela cachoeira agora.

-Onde está a Carolina? -Perguntei para Rosa, a cozinheira. A  garota sempre estava rondando a cozinha em busca de algo para beliscar.

Ela era das minhas.

-Ela estava aqui faz pouco. Deve ter ido atrás de encrenca aquela lá.

-Falando de mim, Rosinha? -Carolina entra na cozinha com uma regata e um short nada grande solto no corpo.

-A única que vive metida em confusão aqui é você, não é? -Rosa fala mexendo na panela de arroz.

A garota dá de ombros. -Ninguém nesse lugar entende meu espírito aventureiro.-Diz.

-Você não toma jeito mesmo, logo irá se tornar uma moça e vive como um moleque.

-Eu vivo de forma livre. Afinal, vivo em um País que garantem o meu direito de ser.

-Eu desisto de você. -A cozinheira que já tem uns fios de cabelos brancos escapando pela toca e alguns quilinhos sobrando diz.

O olhar que ambas tem uma para outra apesar de toda implicância é amor, algo semelhante ao amor materno.

-Pare de falar essas coisas mulher e me dê um bolo de chocolate com muita calda.

-Eu também quero. -Digo me animando com a possibilidade de superar o trauma da manhã com chocolate.

-Vocês duas são magras, mas comem que nem ovelhas desgarradas. -Rosa diz e nos entrega um grande e delicioso pedaço de bolo.

-Obrigada, Rosinha. -A menina beija o rosto da mais velha e depois segue para o meu lado.

-Coma rápido para gente aproveitar o quanto antes aquele paraíso. -Ela sussurra no meu ouvido e volta para o bolo, tira um grande pedaço e faz um barulho com a boca como se acabasse de comer algo incrível.

Olho para o meu bolo e faço o mesmo processo que a garota.

                              ***

  Acompanho o cabelo indomável de Carolina balançar e se prender em alguns galhos, estamos andando à uns quinze minutos e nada.

-Você sabe realmente onde está indo?- É a quinta vez que pergunto e sempre escuto um ande mais rápido como resposta.

-Carolina, estou falando sério. Eu não vim pra cá para ficar perdida no meio do mato.

-Para que venho até aqui então? - Seu jeito encrenqueiro, está presente em cada palavra ou atitude da garota.

-Estou falando sério.-Digo.

-Eu também. O que veio buscar aqui Lucinda?

-Respostas. -Respondo de forma seca e direta.

-Não me diga. Que tipo de respostas?

-Você é curiosa. - Falo baixo.

-Eu gosto de entender as pessoas. Não gosto quando não consigo decifrar o que se passa na mente delas.

Primeiro, ela ouviu o que eu disse e segundo eu não entendo como ela pode ser tão irritante e madura ao mesmo tempo.

-Você me surpreende. -Digo.

-Chegamos. -Ela para e me encara. A imagem que vejo é tão linda que até parece miragem.

-Uau.

-A última a chegar vai casar com um homem banguela e grosseiro. -Essa é a última coisa que ela diz antes de arrancar as roupas do corpo e se jogar na água.

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Gente, tava aqui escrevendo e me veio uma enorme vontade de escrever sobre a Corolina. Será meio que um spin-off, mas eu já tô armando tudo é acho que vai rolar. O que vocês acham?

Antes do Sim (CONCLUÍDO)Where stories live. Discover now