Capítulo 8

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   Eu não estava conseguindo me concentrar em nada ao longo do dia. Tudo me parecia maçante demais e minha mente me lembrava que eu tinha feito uma besteira mais cedo, uma grande besteira.

-Eu vou dizer pra ele que mudei de idéia. - Meus dedos arrancavam alguns fiapos de linhas soltas da almofada do sofá da sala.

-O que disse querida?

-Nada. Só estava pensando em voz alta.

-Você precisa conversar?

-Não mamãe. Está tudo bem. -Forçei meu melhor sorriso, mas era mamãe e nada passava despercebido.

-Não é o que parece. -Ela falava me olhando de uma forma intimidadora.

Ela seria capaz de ler meus pensamentos?Até que ponto vai a conexão de uma mãe e seus filhos?

-Estou bem.- Ela ainda me fitava de uma forma intrigada, porém dessa vez respeitou o meu espaço.

-Nós precisamos ir ao supermercado. -Fala se pondo de pé e pegando sua bolsa que estava no balcão que separava a sala da cozinha.

-Precisamos?

-Você não espera que eu vá sozinha.

-E o papai?

-Está ocupado.

-Tudo bem.

-Filha, você não tinha opções.

Mamãe não gostava de dirigir, mas eu adorava e apesar de estar seguindo para o supermercado e ter que enfrentar filas congestionadas ainda me sentia bem dirigindo.

-Encomendei pra você alguns batons.

-Sério?- Não posso negar que me surpreendi com a fala de mamãe, até onde sei ela não era uma grande fã de maquiagem e desprezava a minhas escolhas de batons.

-Claro. Apenas cores revigorantes!

Essa não era uma boa frase.

-Como assim?

- Ah Lucinda, lhe comprei batons de verdades. Cores bonitas e que combinam com você.

-Laranja combina comigo.

-Laranja é horrível. Não favorece ninguém.

-Me favorece bastante.

-Tem uns rosas, dois mais claro e um pink que vai te deixar linda.

-Não sou uma garota de rosa.- Minha voz parecia cansada e eu estava da mesma conversa de sempre.

-Isso é besteira! Garotos gostam de mulheres que gostam de rosa.

De onde ela tirou isso? É tão absurdo e sem nexo. Só mamãe mesmo.

Eu adorava dirigir, contudo o enorme supermercado me parecia tão mais atraente. Não sou nenhuma louca que só usa batom laranja e pronto, é que o laranja é simplesmente apaixonante e a explicação perfeita para a minha existência.

Minha essência tem cor laranja!

Depois de mais alguns minutos escutando mamãe e suas queixas com minhas preferências, isso não ficou apenas no batom, logo depois veio minhas roupas, meu cabelo que parecia está sem vida e precisava urgente de uma hidratação, entre outras coisas.

-Você devia ser mais como Miranda. -Ela repetia.

-A própria deseja o contrário. -Pensei enquanto descia do carro e caminhava para dentro do supermercado. Um carro me chamou atenção e não foi pela cor verde limão e sim por estar estacionado na vaga de deficiente. Um homem saiu de lá, não era um jovem e possível inconsequente e rebelde, era apenas um homem de quarenta anos com alguns fios grisalhos que até lhe traziam um certo charme.

-O que está fazendo?- O homem me perguntou com um provável mau humor.

-Registrando um milagre.

-O quê? -Ele parecia confuso.

-Meu bom homem, você estacionou na vaga de deficiente e me parece normal, isso só pode ser milagre.

-Bem eu não tenho deficiência alguma só estava com pressa.-  Dando de ombros diz, como se não fosse algo realmente alarmante.

-Todos estão.-Falei séria.

-Você pode parar de gravar!-Ele tentava afastar meu celular com sua mão, mas me mantive firme sem medo.

-Você poderia retirar seu carro da vaga?- Questionei-o de volta o que começou deixá-lo um pouco irritado.

-Eu vou ser rápido.

-Minha bateria ainda está com 90% de carga e tenho muita memória sobrando.

-O que você quer dizer? -Perguntou confuso.

-Que vou continuar te filmando.

-Você não vai desistir, não é?

-Não posso desistir de lutar pelo certo.

-Tudo bem. Eu vou tirar o carro.-Ele falou meio contrariado batendo seus pés firmes no chão e com uma cara de poucos amigos se afastando em direção ao seu carro.

-Eu sei que vai!

Depois que ele retirou o carro e estacionou em uma vaga normal, desliguei o celular e fui para as compras mais satisfeitas. Ainda podia me perder da mamãe por algumas horas.

Antes do Sim (CONCLUÍDO)Where stories live. Discover now