Capítulo 3

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O meu dia não tinha começado muito bem, para início de tudo o despertador aparentemente estava quebrado e por conta disso perdi a hora e cheguei atrasada. Logo pela manhã tive que encarar o mau humor matinal de Felisberto, ainda por cima perdi boa parte do sono ontem quando dediquei um terço da madrugada procurando alguma coisa para passar pras crianças hoje.

Santo pai.

-Nós somos bons juntos. -Felisberto fala enquanto arruma as cadeiras, empilhando-as uma a uma.

Como assim, somos bons juntos? Quis perguntar, no entanto ele pareceu notar meu espanto e completou logo em seguida:

- Somos bons trabalhando juntos. Depois de tanto tempo de amizade nunca trabalhamos juntos assim em nada, as crianças adoraram.

Amigos.

Nós ainda éramos isso?

-Claro você é tão criativo que prendeu a atenção deles nos primeiros minutos. -Seus olhos vasculharam os meus, famintos.

-Foi você quem conseguiu cativá-las. Você sempre consegue cativar. - Disse voltando a atenção para as cadeiras.

Encaro suas costas por mais de um minuto, refletindo sobre o que acabara de escutar do homem. No passado quem sabe, fui esse tipo de garota, mas atualmente não.

Não consigo evitar quando um sorriso brota em meus lábios, ocasionado pelas lembranças antigas que suas palavras trouxeram. Momentos de nós dois juntos, conversando e compartilhando sonhos.

   Contamos a história de Ester para as crianças e pude ver os olhinhos de cada um deles brilharem quando falamos do Rei Assuero e da Rainha Ester, uma menina que foi obediente e corajosa pra salvar seu povo. Ponto pra mulheres eu falei arrancando palmas e sorrisos das meninas e caras feias dos garotinhos acabei explicando que aquilo não era uma competição que eles deveriam se orgulhar de Ester assim como nós garotas.

Talvez seja o meu lado romântico que adore tanto o livro da menina Ester, imagine se casar com um Rei.

"E amou a Ester mais do que todas as mulheres, e alcançou graça e benevolência mais do que todas as virgens: e pôs a coroa real na sua cabeça, e a fez rainha em lugar de Vasti". - (Ester 2:17)

Eu fico imaginando se eles trocavam juras de amor quando estavam sozinhos. Certo que o Rei não era nenhum um "cara exemplar" e aquela época não era favorável para as mulheres, mas eu acredito que aquela garotinha tinha sabedoria suficiente para lidar com isso. E também ela sabia que sempre podia pedir conselhos á Mardoqueu e ao Senhor.

-Ei, cabeçinha de vento. -Felisberto balançava sua mão na minha frente e me olhava intrigado.

-Agora você vai me chamar assim?-Perguntei-o com tom um tanto grosseiro o que o fez se aproximar.

-No que estava pensando?-Ele ainda mantinha o semblante curioso.

-Em nada. -Dou de ombros.

-Aposto que era uma das suas fantasias românticas entediantes e mirabolantes.

-Me deixa em paz. -Empurrei o seu ombro direito para afastá-lo um pouco de mim.

Parecendo entender que estávamos muito próximos ele se afasta ainda mais e muda de assunto.

-Não gostou do seu novo apelido?

-Não!-Falei jogando meus braços pra cima para um efeito maior.

-Vejamos você não gosta quando eu te chamo de laranjinha e não gostou do novo apelido. Do que quer que eu te chame?

-Que tal o meu nome?-Aquilo soou como uma pergunta, apesar de que a real intenção era afirmar o meu desejo de ser chamada exclusivamente pelo meu nome. Eu até mesmo tinha colocada a mão na cintura para parecer mais confiante.

Não sei exatamente o porquê de ultimamente ele rir de cada palavra que falo, no entanto aquilo já estava me dando nos nervos.

-Pare de rir!- Gritei em sua direção demonstrando todo o meu desapontamento com o seu comportamento, talvez tenha sido o fato de eu bater com o pé esquerdo no chão ou a careta que eu estava fazendo, mas agora ele ria ainda mais alto.

-Você está zombando da minha cara?

Ele afirmou com a cabeça sem parar de rir.

- Te conheço á muito tempo para começar agora a te chamar pelo seu nome. -Ele falava ainda tentando se recuperar da crise de risos com a respiração pesada.

-Seus apelidos me tiram do sério.

-Você realmente os odeia?- Ele cruzou os braços e me encarando esperando uma resposta.

Eu não os odiava tanto assim. Porém ele não precisava saber, por isso apenas dei de ombros.

-Você quer que eu pare?-Ele perguntou com a voz totalmente recuperada.

O fato de ele me chamar por apelidos nos tornava íntimos e eu gostava de ter um amigo desse tipo, depois que minha melhor amiga foi embora eu só tinha Miranda pra conversar e bem ela não concorda muitos com os meus ideais de vida.

-Faça como quiser. Eu já estou indo. -Eu não podia dizer que eu preferia que ele continuasse com aqueles "apelidinhos".

Ele apenas sorriu e eu segui para saída.

-Até mais tarde, Laranjinha. -Ele gritou, quando eu já abria o portão da igreja para ir embora.



Antes do Sim (CONCLUÍDO)Where stories live. Discover now