"Ele acredita que o casamento é uma história falida. Ela sonha em se casar."
Os livros de romances sempre fizeram parte da vida de Lucinda. Enquanto, para Felisberto o romantismo sempre fora motivo de recuar. Quando são obrigados a perceberem a pr...
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Felisberto narrando:
Me despedir de Lucinda me causou uma sensação diferente da que imaginava. A vontade de estar junto daquela mulher aumenta gradativamente a cada dia e isso tem me deixado desnorteado nas últimas semanas e deixá-la na sua sala ontem foi uma tarefa bastante difícil. Minha vontade era levá-la comigo. Porém, ainda não posso fazer isso. Tenho que ser cauteloso.
A proposta inicial do nosso falso namoro era simplesmente fazê-la ver que toda a idealização criada por ela sobre casamento, era de fato uma idealização. Algo fugiu do controle quando eu olhei em seus olhos e vi algo estranho, tinha dor neles. Aquilo fez o meu coração se compadecer e a curiosidade se dissipar por todo o meu corpo, meu cérebro não parava de questionar durante as últimas noites o que poderia ter causado a dor no olhar da garota perfeita.
Garota perfeita.
Desde que a conheci era sim que eu a via, uma garota perfeita. Educada. Cautelosa. Gentil. Mediadora. Altruísta. Linda. Permanentemente, todas essas características a descreviam com o total de cem por cento de acertos e apesar do sorriso doce e os olhos brilhantes tinha algo que destoava de todo o conjunto perfeito.
O batom.
De longe eu poderia jurar que a escolha da cor laranja para usar como batom era uma péssima idéia, afinal com o quê essa cor poderia combinar? O fato era que ele combinava com ela, se nesse mundo existe alguém que combine com um batom laranja, esse alguém é Lucinda e como é indescritível a combinação dos dois,desnubrante, eu diria. No fundo, eu sabia que a escolha do batom era uma forma que ela encontrou de dizer que não era perfeita.
Minha relação com as mulheres e o amor começou a se rasgar no momento em que a mulher que me trouxe ao mundo partiu e me deixou pra trás com o papai. Para o ápice de todo drama da minha vida eu fui traído pela primeira mulher que resolvi me casar, éramos jovens e estávamos apaixonados e mesmo com todos os meus amigos e meu pai não caindo de amores por ela eu acreditei que minha felicidade estava nela, sonhei em construir uma família e ter uma mulher do meu lado e como eu planejei fazê-la feliz, não queria contar com a idéia dela me abandonar como a minha mãe fez. No entanto, quando eu cheguei aquela noite em sua casa eu descobri que estava sendo traído por todo o tempo que recebia promessas de amor, falsas promessas. Mulheres falsas e amores passageiros.
Eu odiei o amor. Odiei as mulheres e pela primeira vez eu odiei minha mãe.
Eu vi a mulher que escolhi pra ser a mãe de meus filhos nua na cama com outro, quando nós tínhamos combinado de que só faríamos sexo após o casamento. Mentirosa. O pior de tudo foi encarar a realidade e perceber que o culpado de tudo era eu. Eu sonhei, idealizei e acreditei.
Nasceu naquele o dia o homem frio de coração gelado que minha garota perfeita tanto falava, era engraçado ouvi-la dizer aquilo e tive que me segurar várias vezes para não rir da sua expressão. Eu me questionava o que uma garota daquelas poderia saber sobre mágoas e rua de toda situação sozinho depois de deixá-la em casa, mas isso mudou quando ela me contou sobre o que passou mais jovem e como admirei minha garota por confiar em mim. Ela guardava segredos e entendia de mágoas e ainda sorria e eu me fechava e afastava qualquer um, menos ela. Eu não conseguia afastar ela e com o tempo eu descobri que eu não queria na verdade mantê-la longe de mim. Eu precisava dela e no fundo eu sabia que ela também precisava de mim.