Mas e o meu café?

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Ana viajou para Toronto, seguindo sua vontade de fazer intercâmbio na maior cidade do Canadá. Ficaria por um mês. Todos os dias pegava o metrô entre as estações Dundas - perto de onde ficava - e Union - onde desembarcava - para seguir até a escola onde tinha aulas.

Essa rotina se repetia todos os dias do curso que chegaria ao fim em dois dias. Depois, voltaria para o Brasil. Todas as aulas, as amizades que havia feito, os lugares que visitou, nunca esqueceria.

Distraída, foi derrubada por um garoto apressado. Seu café se espalhou pelo chão e toda a animação da manhã ficou comprometida.

- Me desculpe - ele disse com um sorriso, ajudando-a a levantar.

- Sem problema - Ana respondeu, disfarçando seu descontentamento com a perda do seu café.

- Posso comprar outro pra você? Expresso duplo? - ela ficou surpresa com adivinhação do garoto, mas saiu andando sem graça murmurando "Tudo bem, não precisa!". 

Passava das 9h e a aula já estava começando. Apressou-se e chegou a tempo. Pediu desculpas ao professor, que deixou-a entrar depois de um "Atrasada de novo?" seguido do riso.

Uma hora depois, terminou a parte de gramática e no intervalo poderia comprar um novo café - sem que nenhum apressado pudesse derrubá-lo novamente. Quando saiu no corredor, ali estava o garoto de Union Station sorrindo.

- Você me seguiu até aqui? - Ana perguntou incrédula.

- Acho que sim - deu de ombros - qual o seu nome?

- Ana, e o seu?

- Shawn. Prazer, Ana - estendeu a mão e a cumprimentou - Então, é daqui?

- Sou brasileira, estou estudando aqui. Vou embora em dois dias.

- Legal - o sorriso de Shawn se transformou em uma expressão vazia - quer tomar um café comigo? Dessa vez sem derrubar?

- Claro!

Ana e Shawn foram até o café mais próximo e pediram expressos duplos. O aroma daquela cafeteria emanava lembranças felizes à garota que lembrava de sua avó.

Shawn contou sobre a vida no Canadá, suas vontades, seus sonhos. E Ana compartilhou com o novo amigo suas recordações mais felizes do Brasil.

- Um dia quero conhecer seu país! Deve ser bem legal - entusiasmado, Shawn derrubou mais açúcar do que deveria em seu café - Ops, desastrado.

- É lindo, tem muitas coisas legais. Sou do Rio de Janeiro.

Ana perdeu uma parte da segunda aula do dia, que era de conversação em inglês. Na verdade, não perdeu, já que Shawn não sabia falar nada de português e ela se divertiu apresentando algumas palavras ao garoto. Na despedida, Shawn a abraçou.

- Obrigado por aceitar esse pedido de desculpas. Só quis checar se não havia se machucado ou algo do tipo. O café estava... doce - ele riu - mas foi ótimo te conhecer.

- Digo o mesmo, legal conhecer um canadense assim, de surpresa - riram juntos.

- Vou te passar meu número, caso queira sair para conhecer algum lugar que não viu - ele disse, envergonhado.

- Tudo bem, qual é? - Ana perguntou, com os contatos abertos no celular. Depois, digitou seu número no celular de Shawn.

Despediram-se e a garota retornou para a última aula. Felipe, um colega de sala, disparou a piadinha.

- Ana pegou um canadense! - disse, rindo.

- Não enche, Felipe! Eu só esbarrei com ele na Union hoje - virou os olhos e se sentou.

- Esbarrou na Union e já saíram para um encontro? Hummm sei não - ele a cutucou.

- Tu é chato mesmo hein? Credo, saiu do Rio, veio com a gente e fica me perturbando. Vou te dar uma chinelada na cabeça daqui a pouco!

- Tudo bem agressiva.

Ana saiu da aula e voltou para Dundas, de onde seguiu para a residência onde estava. "Hora de almoçar", pensou, mas preferiu subir para o quarto primeiro. Leu algumas páginas de um dos livros que levou para a viagem e foi comer.

À tarde foi ao shopping. Passeou pelo Eaton Centre e comprou as últimas roupas que precisava. Só parou quando não aguentava mais andar e sentou em um banco para descansar. O celular tocou.

- Oi!.

- Oi Ana, como foi o dia?

- Cansativo, andei bastante. E o seu?

- Fiquei na Nathan Phillips Square tocando violão. Lembrou de algum lugar que quer conhecer? - Shawn perguntou, animado.

- Não fui à CN Tower ainda.

- Como você veio ao Canadá, ficou em Toronto quase um mês e não foi lá? É o lugar mais visitado da cidade! Vou te levar. E depois podemos comer alguma coisa. O que acha?

- Claro, legal! Que hora podemos ir?

- Às sete na entrada? Bom pra você?

- Claro! Estarei lá!

- Até mais tarde!

Ana sabia que em um mesmo dia era humanamente impossível esbarrar com um desconhecido, sair para tomar café com ele e à noite sair. Ele não era estranho, era apenas um garoto muito simpático. "São meus últimos dias aqui. E quero conhecer a CN Tower depois do que ele me disse. Bom, então vamos lá", pensou.

Voltou à residência para deixar suas compras, tomou banho e se arrumou. Não sabia qual roupa utilizar, ficou indecisa entre quatro camisetas mas no fim conseguiu escolher. O relógio apitou marcando 18h30. Daria tempo de chegar à entrada da torre e sobrariam alguns minutos.

Ao chegar, Ana esperou que Shawn aparecesse por vários minutos. Passados 40 minutos, começou a achar que ele não iria aparecer e que era tudo uma brincadeira. Até passou pela cabeça que Felipe poderia ter combinado com Shawn uma pegadinha grande dessas.

Então ele apareceu. Camiseta branca, jaqueta e calça preta. O topete bem modelado e um tênis preto. Ana olhou de cima a baixo e ficou admirada com a produção de Shawn - e envergonhada também. Brasileira, de camiseta, calça jeans e uma sapatilha. "Nada demais" no idioma de suas amigas do Rio.

- Uau, você está linda! - Shawn disse, abraçando-a.

- E você se vestiu todo assim só para me levar lá em cima? - Ana apontou para o alto, onde a CN Tower se estendia a 553 metros de altura.

- Sim. Eu não sabia o que vestir... - ele riu, envergonhado.

- Ficou ótimo! - Ana ficou sem graça com o comentário, mas Shawn logo sorriu.

- Então vamos?

- Sim! - disse, animada.

(...)

Blinding Lights | Shawn MendesWhere stories live. Discover now