Capítulo 50

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Depois do almoço foram para o local que Dinah havia falado. Era um parque aquático e assim que Lauren entrou pensou logo em Sofia, provavelmente estaria ali por causa dela. Ligou para Dinah e ela atendeu imediatamente. Dinah indicou o lugar e Lauren foi até lá morrendo de medo, mas com toda a esperança que tinha no coração.

- Oi. - chamou Dinah que estava de costas.

Dinah se virou e deu de cara com uma morena alta, cabelos longos, olhos verdes. Não precisou de muito tempo para saber quem era.

- Ah não! Eu não acredito que caí nessa. Se Camila souber que trouxe você pra cá eu perco meu emprego.
- Oi? - Lauren não entendeu.

Dinah a pegou pela mão e saiu andando com ela pra um canto mais escondido.

- Você é Lauren, não é?
- É... eu...
- Ah, não me enrola! Eu sei quem você é. Por que fez isso? Camila não quer vê-la, deixe-a em paz. Está feliz com a mãe e a sobrinha aqui, não estrague o seu passeio.
- Eu só queria vê-la. Não consigo viver sem Camila.
- E como conseguiu até agora? Nasceu sem ela, não precisa dela pra viver. Ainda mais depois de tudo.
- Quem é você pra vir falar em depois de tudo? Por acaso sabe o que aconteceu?
- Nos mínimos detalhes, inclusive os mais sórdidos. Eu trabalho para Camila, mas conheço a vida dela de cabo a rabo. Sei de tudo que ela passou, sei o quanto sofreu e ainda sofre. Ela é uma das melhores pessoas que já conheci, não mereceu o que passou.
- Se sabe de tudo, então também tem de saber que também sofri muito e que reconheço meu erro. Quero consertá-lo, queria uma chance, todos têm direito a uma. Se vivi até agora foi porque tive a ajuda de minha mãe. Camila foi e ainda é parte de mim e se pudesse voltaria no tempo pra corrigir tudo aquilo. - seus olhos marejaram. - Nunca mais soube o que era felicidade, nem o que é um sorriso sincero. Sonho com ela todos os dias, lembro dela a todo minuto e chamo por seu nome sempre.

Dinah olhava para Lauren com certa pena, sentiu sinceridade em suas palavras, mas não sabia o que podia fazer para ajudá-la.

- Escuta, não force as coisas. Dê tempo ao tempo.
- Mais? Faz cinco anos que não sei o que é viver.
- É... o tempo já correu mesmo.

O jeito de Dinah falar era engraçado e fazia Lauren se sentir mais confiante com a situação; viu que ela poderia ser sua aliada.

- Você veio aqui só para vê-la? - Dinah perguntou.
- Sim. - Lauren baixou a cabeça.
- Como descobriu?
- Ligando, perguntando.
- Quem lhe deu o telefone dela? Nossa se ela descobrir quem fez isso vai mandar matar.
- Foi Drew.
- Ele não tem o telefone dela.
- Liam passou pra ele, que depois me passou.
- Liam é o marido da amiga dela, ou melhor, ex-amiga. Ela esteve com a gente semana passada. Normani o nome dela. Procurou Camila quando precisou, mas no passado a deixou na mão. Muito cara de pau; não fui com a cara deles.

Lauren achou graça da revolta da moça.

- Ri não, viu? Normani largou Camila logo que vocês se separaram por conta da gravidez e ela teve de morar sozinha, depois de favor, até que conseguiu um emprego mais ou menos. Passou um aperto só.
- Não sabia disso.
- Pois é. Olha eu tenho que sair, daqui a pouco ela dá pela minha falta. Não a importune. se quiser vê-la, está no brinquedo com a sobrinha e a mãe dela está no restaurante. A deixei lá e vim me encontrar com você. Fique longe, não force. Vá com calma e use a imaginação.
- Vou tentar. - falou desanimada.
- Quer ouvir uma coisa boa? Eu acho que ela ainda a ama. Sonha com você, chama por seu nome também. Eu já dormi com aquela figura. Ela só não sabe que sei, mas ainda está magoada. Cuide para que essa mágoa passe.
- Já dormiu com ela?!
- Não é isso que está pensando, eu gosto do outro lado da coisa. - riu.

Lauren achou graça, depois deu um sorriso confiante por conta das palavras de Dinah. Despediram-se e foram em direção opostas para não dar na pinta. Quando Lauren se aproximou do restaurante para falar com a mãe levou um susto, ela conversava com Sinu.

- Então Lauren veio passear, espairecer. Anda trabalhando demais. - Clara falou.
- Já Camila está a trabalho, mas aproveita as horas vagas para passear. Ela adora paparicar a sobrinha.

Sinu sabia da história toda, mas nem tocou no assunto. Imaginou em sua ingenuidade que tudo estava esquecido. Conversava com Clara como se fossem comadres. Lauren ainda estava distante quando viu que Camila se aproximou com Sofia. Estava linda, usava um short jeans e uma blusa branca aberta e amarrada na cintura, escondendo a parte de cima do biquíni, sua barriga ficou meio a mostra, imaginou que Camila devia se exercitar. Viu que ela se espantou com a presença de Clara e fechou o cenho.

- Mãe! É... Clara?! - não entendeu direito. - Eu... é... Como nos... o que faz aqui? - perguntou surpresa e a cumprimentando.
- Vim passear um pouco. A Bahia é meu lugar predileto, tem as praias mais lindas do Brasil.
- De fato.
- Está bonita menina, como consegue ficar mais linda com o tempo? - Clara sorriu e deixou Camila encabulada. - Gostei de revê-la. Sua mãe me contou que veio a trabalho, te vi numa revista e fiquei muito feliz de saber que está progredindo no trabalho.
- Obrigada. Você veio sozinha?
- Não, ela veio comigo.

Camila ouviu uma voz rouca atrás de si. Sentiu seu corpo estremecer e o coração acelerar. Virou-se e estreitou os olhos quando viu Lauren.

- Oi Camila. - os olhos se encontraram.

Dinah que chegava com um suco nas mãos e viu a cena a metros de distância.

- Putz! Danou-se!
- Mãe, vamos embora! - Camila chamou.
- Não precisa sair, já estou de saída. - Lauren falou seriamente. - Vamos mamãe.

Clara pediu licença, mas antes de sair falou a Camila.

- Fiquei mesmo feliz em revê-las. - abraçou a mais nova.

As duas saíram e mais uma vez Lauren olhou para Camila de uma forma tão intensa que ela baixou o olhar.
Camila passou o resto da tarde totalmente descontrolada. Chegou a derrubar um copo de água de coco em cima da mesa.

- Ai meu Deus! Cuidado Sofia, senão vai molhar sua roupa.
- Tia eu já estou molhada da piscina. - a menina falou olhando cismada para a tia.
- Ah é.

Dinah riu da cena.

- Camila, há quanto tempo não vê aquela moça?
- Que moça mãe?
- Sabe que estou falando de Lauren.
- Desde a minha formatura.
- Deveria então evitar encontrar com ela. Se fica assim toda vez que acontece...
- Como toda vez mãe? Disse que não a vejo faz muito tempo e não tem nada de errado comigo. Não tem como eu evitar encontrar com Lauren nos lugares públicos.
- Muita coincidência encontrá-la aqui na Bahia. - Sinu falou desconfiada.
- É assim mesmo. - Dinah entrou no assunto. - Olha, nunca vi um rosto tão... marcante. - jogou pra ver o que Camila iria falar.
- Pra quem viu de longe você reparou bem. - Sinu logo cortou. - Se não gosta de vê-la Camila, deveria evitar então.
Apesar de aceitar a opção da filha Sinuhe não queria que ela se envolvesse com alguém, preferia que ficasse só. Saiu com Sofia para buscar um sorvete e essa foi a oportunidade de Dinah jogar a sementinha da esperança, como ela mesma dizia.
- Ela é mais bonita do que eu imaginava.

Camila olhou para Dinah e voltou o rosto para o movimento do lugar. Dinah então continuou.

- Ainda gosta dela não é? Não precisa responder, está na cara que gosta. Nunca a vi alterada assim, normalmente é controlada e dona de uma segurança invejável. É normal Camila, afinal vocês duas tiveram um relacionamento durante um bom tempo e ele marcou todas as duas, não deve ter sido só você.
- Por que ela tinha que aparecer de novo? - Camila virou o rosto e Dinah pode ver seus olhos cheios de lágrimas. - Ela não tinha esse direito.
- Ei, essas coisas acontecem, são coincidências da vida. Deus coloca as situações e as pessoas no lugar certo. Nada é em vão.

As palavras de Dinah fizeram Camila se lembrar do seu passado.

"- Se estamos aqui, é porque merecemos uma a outra. Acredito que se duas pessoas ficam juntas é porque precisam conviver para aprender alguma coisa. Não nos encontramos por acaso."

- Eu mesma já achei isso um dia, hoje não tenho certeza. Levo uma vida muito regrada e sou feliz assim.
- Será mesmo? Você é disciplinada, decidida, tem dinheiro, mas é mesmo feliz? Nem aprofunda seus relacionamentos por conta da sua mãe e sua família.
- Pois é, tem minha família, o que eles pensariam de um relacionamento nesse molde.
- Sua mãe a respeita, mas não aceita. Como a maioria das mães ela até tenta não contrariar aceitando-a gay, mas sozinha. Toda mãe tem o instinto de preferir o filho viado sozinho, a filha sapatão sozinha, do que vê-los acompanhados e felizes. Não é fácil aceitar essas coisas também.
- Clara aceita Lauren numa boa.
- Ela é uma raridade, você sabe disso.
- Sei. - voltou a olhar o movimento. - Nos dávamos bem. Ela me dava conselhos e muitas vezes foi minha segunda mãe. - olhou para Dinah de volta.
- Tem saudade daquele tempo?

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