Capítulo 52

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Um mês depois de muita função de mudança, compra de apartamento, papelada e muita burocracia, Camila se mudou. Não vendeu seu apartamento em São Paulo, mas o alugou. Seus móveis chegaram primeiro que ela e foi Dinah quem providenciou para que tudo estivesse no lugar quando ela chegasse. Lauren ligou querendo marcar um encontro, como a secretária estava sozinha no Rio, achou que não teria problema.

- Onde é o apartamento? – a morena perguntou logo que sentaram.
- Nossa! Eu também vou bem, obrigada.
- Ah, desculpa Dinah, estou ansiosa.
- É? Imagina ela então. Está às voltas com essa mudança, a mãe dela não poderá vir para ajudar e ainda tem a construção do novo estúdio. Ela nem dorme direito.
- Tadinha.
- Ah que pena né? E você doida pra consolar. – debochou. - Estou deixando tudo pronto para a vinda dela e só depois cuido da minha mudança.
- Então fala: onde vão morar?
- No Leblon, o endereço é esse. – Dinah estendeu um pedaço de papel. – Anote no seu celular e jogue esse papel fora. E eu nunca lhe dei esse endereço, certo?
- Positivo e operante. – Lauren brincou.
- Está tão engraçadinha. Eu tinha outra impressão de você, achava que era uma pessoa mais séria, controlada.
- Sou muito séria no meu trabalho, com a família sou mais extrovertida.
- E quando estava namorando?

Lauren baixou a cabeça, depois olhou para os lados.

- Eu fazia tudo pra ela. Não sei como me deixei levar pelo desejo. Alexa foi um inferno na minha vida, espero que fique bem longe agora.
- Onde ela está?
- Se mudou para o Acre. No dia que aconteceu tudo nos encontramos porque ela queria dar essa notícia.
- Ah sim, aí você quis se despedir. – Dinah fez aspas na última palavra.
- Pode jogar na minha cara, eu não vou revidar.
- Sem querer botar a culpa em alguém, só estou conjecturando as coisas, mas algum motivo você teve pra trair.
- Não sei lhe falar ao certo o que aconteceu. Quando comecei a namorar Camila ela era muito novinha, havia acabado de completar dezoito anos. Tinha uma ingenuidade que me encantava e era muito simples, mas ao mesmo tempo era meio bobinha e às vezes isso cansava. Era muito insegura e indecisa, ao contrário de Alexa.
- E aí você deslumbrou com a maturidade da outra.
- Sei que não justifica nada, mas é por aí. Alexa me instigava e quando via já estava envolvida. Foi uma besteira aquilo, a coisa mais idiota que já fiz no mundo.
- Olha, é como disse outro dia. Não sei por que, mas eu confio em você. Ou tem uma lábia muito boa, ou realmente quer mudar as coisas. Acho que a ama de verdade, caso contrário não estaria correndo atrás dela. E nesse tempo todo já teria outra pessoa. E pode ter certeza de que ela não é mais aquela menininha boba. É muito decidida, sabe o que quer e ninguém tira ela de idéia.
- Camila foi a única mulher que chegou ao meu coração. E está lá até hoje, o lugar dela ninguém toma.
- Diga isso a ela e não a mim. – Dinah sorriu.
- Vou dizer. No dia em que ela chegar me avise que eu vou mandar um presente para o apartamento.
- Ai, ai, ai. Pela Nossa Senhora dos Exageros, o que você vai fazer? Sei de cada presente seu que misericórdia.
- Ela contou é?
- Do piano, do carro, das viagens, do celular, não necessariamente nessa ordem.
- O piano está no mesmo lugar até hoje, do jeito que ela deixou. Tem até umas partituras lá em cima. E o carro eu mandei cobrir com uma capa e está na minha garagem também.
- Jura? Que coisa romântica. – sorriu. – E meio sinistra. – pensou - Bom, Camila vem de carro, porque não confia que ninguém dirija o carro dela. Morre de ciúme dele.

Lauren achou graça pensando em Camila tendo ciúme de um carro.

- Não ria, é sério. Ela tem um modelinho pequeno da Chrysler, é o xodó dela. Ninguém dirige.
- É a cara dela esse carro.
- Pequeno né? – as duas riram. – Então, ela deve chegar bem de tarde porque não vem correndo e vai direto para o apartamento. Falou que estou proibida de fazer festa surpresa ou de boas-vindas nesse dia, porque ela quer descansar.
- Entendido, então não vou exagerar, mas quando ela chegar verá meu presente lá.
- Pode me adiantar o que é?
- Ainda não sei o que vou fazer, mas eu lhe aviso com antecedência, fique tranquila. Ta tudo sob controle.
- Ai senhor. Vamos combinar o seguinte: ela chegará aqui quase a noite e eu terei de ir em outro vôo um pouco antes dela chegar. Você tem que deixar seu presente lá antes deu sair, senão não terá como entrar.
- Não vão se encontrar?
- Não, eu só consegui esse vôo, os outros estavam lotados e eu preciso estar em São Paulo no mesmo dia, estou vendendo tudo meu e aqui vou ajeitando devagar.
- Serão bem-vindas aqui no Rio.
- É, se eu me der mal como assessora de Camila Calleger, viro secretária de promotora pública.

As duas riram.




O dia da vinda de Camila estava perto e Lauren ainda não tinha pensado no que comprar para ela. Provavelmente já deveria ter tudo, afinal agora era uma pessoa bem sucedida. Foi para a rua procurar o que comprar. Pensava em mil coisas e não se decidiu, então teve uma idéia um tanto diferente.

Camila se preparava para viajar, saiu um pouco tensa, pois nunca pegara a estrada sozinha. Já tinha ido para Jaú, mas sempre acompanhada de Dinah ou da mãe. Encheu o carro de balas, chicletes e chocolate, carregou o pen drive com muitas músicas e foi embora.

- GPS é uma benção. – ligou o aparelho e ficou atenta a ele. Parava na estrada somente para ir ao banheiro e lanchar. Seguiu viagem tranquilamente e chegou ao Rio pouco depois das seis da tarde. Guardou o carro na garagem e subiu carregando a mala. Por um momento desejou ter alguém para recebê-la.

Abriu a porta do apartamento e não acreditou no que viu. Havia uma decoração com velas bem delicadas, algumas luminárias em estilo japonês, um perfume bom e uma música suave tocava ao fundo. Quando olhou melhor viu que em cima do aparador da sala, da mesa de centro e na mesa de jantar haviam barcas com comida japonesa e saquê.

- Nossa! Dinah você merece até um aumento. – falou sozinha.

Deixou a mala num canto e foi lavar as mãos, depois se deliciou com as iguarias.

- Nossa, isso ta muito bom. – estava comendo quando viu um cartão ao lado de uma vela.

"Seja bem-vinda! O Rio de Janeiro ficou mais bonito agora."

Estava assinado por Lauren.

- Ah! Filha da mãe! Como ela conseguiu meu endereço? – Camila estava indignada. Ligou para Dinah furiosa. – Dinah!
- Chegou patroa! Fez boa viagem?
- Como Lauren soube meu endereço?
- Oi?
- Dinah, não me enrole. Cheguei aqui e vi o apartamento todo arrumado, cheiroso, com comida japonesa. Achei até que era coisa sua.
- Ué e eu achei que era excentricidade sua. Eu vi uns homens arrumando as coisas junto com a mudança, mas não disse nada ué. Como ela conseguiu eu não sei, sinceramente.

Camila não teve alternativa a não ser acreditar em Dinah.

- Aproveita o banquete então ué, eu acabei de chegar também. Atrasei pra sair daí, mas já estou em casa arrumando minhas coisas e sem comida pra mim. – fingiu chateação - Semana que vem no máximo eu to chegando.
- Juro que se não tivesse passado a escritura pro meu nome eu sairia daqui. – falou ainda brava.
- Ah que é isso Camila, não é pra tanto. Se não quiser ser incomodada mande barrar a entrada dela na portaria. Esse prédio é seguro e tem esses privilégios.
- É vou fazer isso.

Assim que desligou a campainha tocou, nem se tocou de que não esperava ninguém. Abriu a porta sem ao menos olhar no olho mágico e deu de cara com um buquê de rosas imenso.

- Mas... o que...?

Lauren retirou o buquê da frente do rosto e colocou uma caixa de bombons bem grande também.

- Podemos diversificar, caso não queira rosas. – a morena sorriu.

Camila a olhou franzindo a testa, ia fechar a porta, mas a morena foi mais rápida.

- Ta bom, mas se nada disso funcionar, esse funciona. – pegou outra caixa e tirou de dentro dela um urso branco gigante.
- Você não tem vergonha na cara? – Camila falou enfezada.
- Não tenho mesmo. Nem orgulho quando se trata de você.
- Sai Lauren. – quis fechar a porta.
- Vou sair. – Lauren a segurou. – Calma, não vou agarrá-la a força. Disse que aquela foi a única vez, a próxima será por sua vontade. Aceite os presentes, sei que gosta. E aqui nesta caixa tem uma chave e um coração, lembra? – olhou para ela mostrando outra caixinha. – Essa chave eu só a terei quando você achar que sou digna dela. É brega, eu sei, mas é uma forma de simbolizar sua confiança comigo.
- Vá embora. – Camila estava com a voz quase embargada.
- Vou. Fica com Deus e mais uma vez seja bem-vinda. Aproveita o jantar viu? – sorriu e beijou sua testa.

Camila fechou a porta sentindo que o coração ia sair pela boca. Sentou no sofá e olhou todos os presentes. Abraçou o urso e ficou aninhada a ele um bom tempo. Depois subiu para tomar um banho, voltou e comeu mais um pouco. Resolveu guardar as coisas porque tinha muito.

"Lauren sempre exagerada!"

Antes de deitar pegou a caixa com as jóias em formato de chave e coração e ficou olhando, lembrando daquela que ganhara há cinco anos. Ainda a tinha, mas muito bem guardada. Pegou o urso novamente e o abraçou para dormir, ele tinha o cheirinho de Lauren. No dia seguinte ligou para sua mãe e avisou que já estava devidamente instalada. Sinuhe não havia gostado da idéia de Camila se mudar, além de ficar mais longe da família, ficaria mais perto de Lauren. Porém sabia que quando sua menina botava uma coisa na cabeça, ninguém poderia tirar.




Depois de ajeitar suas coisas no fim de semana e descansar um pouco, Camila se preparou para a batalha com a obra no estúdio. Sabia que uma construção não era fácil. Justin tinha um andar de um prédio na zona sul e era lá que construiriam o estúdio, que era na verdade onde ficava o antigo. Derrubariam as paredes e começariam a montagem dele do zero. Por ser na cobertura não tiveram problemas em mexer na estrutura. Camila foi até lá para conhecer o local e conversar com o arquiteto e o construtor. Acertaram tudo para começar na outra semana, enquanto isso aproveitava para ajudar Dinah com a mudança e a adaptar Sarah ao Rio de Janeiro.

- Patroa, adorei o apartamento. – Dinah falou admirando o local.
- Vou achar ele enorme depois que você se mudar. Espero que não saia tão cedo.
- Ah, daqui uns tempos vai querer que eu saia, pra ter mais privacidade. Sei que você gosta.
- Privacidade pra que?
- Sei lá, vai que arruma alguém.
- Imagina! Sem chance isso. – Camila olhou desconfiada para Dinah e aproveitou a oportunidade. – Dinah, você tem certeza que não viu Lauren se enfiar aqui e preparar aquela... aquele... aquilo tudo que ela fez? – gesticulou com as mãos.
- Juro que não. Eu vi uns homens entrando e colocando umas coisas na mesa, pareciam de um restaurante, achei que tinha contratado sei lá. Não lhe liguei porque estava a caminho e achei que ia incomodá-la.
- Ela teve a cara de pau de ainda vir aqui e me importunar.
- Estranho! Sua boca fala uma coisa e sua cara diz outra. Você está quase rindo.
- Não estou! Ta imaginando coisa.
- Você gostou, confessa. Foi diferente, foi surpreendente. Sei que gosta disso.
- Por que não consigo mentir pra você? – Camila resmungou.
- Porque eu tenho sexto sentido, intuição e a conheço.
- Não vou ceder às investidas dela, não quero! Ela me magoou e isso eu não vou perdoar. Já fui traída uma vez e Lauren sabia disso, sabia também que tinha sofrido com a traição e ainda assim não teve respeito por mim.
- Seu ex a traiu e fez isso por imaturidade e vingança.
- Ah e Lauren fez por quê? Por amor e caridade?! – ironizou.
- São pessoas diferentes. Você não gostava mais dele. E ela? Você a ama? Responda-me com sinceridade e sem se envergonhar.

Camila baixou a cabeça como se quisesse esconder.

- Amo, com todas as minhas forças. Achava que tinha esquecido, mas ao vê-la de novo sei que não deixei de amar.
- Então minha amiga relaxa e deixa o resto com ela.
- Não! Vou concentrar minha cabeça no trabalho, é o que sempre fiz e é melhor assim.
- A decisão é sua. – Dinah levantou as duas mãos num gesto como se largasse de lado.




Depois de começada a obra no estúdio Camila só ficava por conta de conferir material de construção e vistoriar a obra. Justin a deixou totalmente por conta disso e segurava sozinho o estúdio de São Paulo. Se falavam sempre por telefone.

- Temos que pensar quem daqui vamos mandar praí. – falou o sócio ao telefone.
- Está pensando em transferir o pessoal? Eu pensei em contratar gente daqui mesmo.
- Os melhores já estão contratados Camila. Andei conversando com Diogo, é o único livre; ainda assim, ele toca com a Maria Betânia hoje e me disse que assim que voltar de uma turnê pode trabalhar conosco.
- Eu estudei na federal aqui, posso ver se têm algum aluno. Diogo ficaria na ponta supervisionando. Talvez na UNIRIO tenha mais gente interessada.
- Então deixo a seu critério, é mais enjoada que eu. – Justin riu.
- Não sou enjoada, sou exigente.
- Claro, o que é a mesma coisa. – riu de novo.

Após acertar algumas mudanças na obra, ela resolveu ir até a faculdade. Aproveitaria pra fazer uma visita aos antigos professores.




Lauren estava saindo do fórum com Tyler e resolveu almoçar na rua.

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