2

84 11 29
                                    

Diante da presença ilustre de sua tia, a autoridade máxima do planeta, Adriana congelou. Se lembrou do que sua mãe ensinara sobre como agir em situações formais da família e dirigiu-se primeiro à imperatriz. Fez uma reverência, beijou sua mão e disse:

-- Não fui informada da chegada de sua majestad.

-- Eu pedi que não fosse, para que sua tia a visse como sempre se veste – Antônio respondeu. Pablo acenou amigavelmente para a jovem e cumprimentou:

-- Hola, Adriana, como vai? Ainda mergulhando?

-- Sim, quase todo dia.

Maria os interrompeu antes que a conversa se prolongasse.

-- Adriana, seu pai me chamou porque está preocupado com você, e com razão. Já tem mais de vinte anos e nem sequer mencionou se pretende começar a trabalhar.

A jovem quase se jogou na cadeira e pôs-se a revirar a comida do prato, ocasionalmente provando. Sua expectativa sobre o discurso do pai afinal se mostrara otimista, não contava com a aparição da imperatriz para lhe dar apoio.

-- Sei que você não gosta de ouvir isso, querida, – Antônio dizia – mas não vai poder nadar pelo resto da vida, e eu também não estarei aqui para sempre. Gostaria de saber que mi hija estará bem sem mim.

-- Pai – Adriana resmungou – Eu já sei o que vou fazer. Quero pilotar uma nave.

-- Oh, que interessante! – exclamou Pablo. Antônio revirou os olhos para o amigo antes de se dirigir à filha novamente.

-- Você por acaso sabe pilotar?

-- Ela conduz submarinos com maestria – Pablo disse com um sorriso. Ele era dono de uma empresa de passeios ao fundo do mar, tendo uma frota de pequenos submarinos à sua disposição, e às vezes deixava Adriana pegar um para explorar áreas mais profundas.

-- Dar voltas debaixo d'água não é o mesmo que voar no espaço – Antônio bateu a mão aberta na mesa – E mesmo que você fosse a melhor piloto da galáxia, esse tipo de trabalho não é seguro nem apropriado para uma duquesa.

-- Antônio está certo, Adriana – Maria inclinou-se para frente – Como membro da nobreza, você merece um cargo digno. Se quer uma nave, podemos lhe dar o Ministério do Comércio, para que gerencie as naves que partem e chegam a Caramuru.

-- Ah... – Adriana recostou-se na cadeira – Vocês querem que eu pense em trabalho, mas quando eu faço, reclamam que não é bom o suficiente.

Antônio massageou o topo do nariz, controlando a irritação que crescia dentro dele. Maria começou a falar:

-- Adriana, você sabe o quanto nossa família se sacrificou para chegar onde está hoje.

O discurso que estava previsto para Antônio foi feito por Maria, porém, ela foi mais além do que qualquer um poderia imaginar. Começou pela época em que todos os humanos deixaram a Terra depois do planeta se tornar incapaz de sustentar tantas pessoas. Cada povo seguiu para um lado, e um continente chamado América Latina foi na mesma direção: um planeta três vezes maior que a Terra, mas 85% coberto por oceanos que recebeu o nome de Caramuru, um antigo deus dos mares.

Após anos de sofrimento e adaptação, algumas poucas pessoas se ergueram em meio ao caos e trouxeram ordem, transformando Caramuru em um dos planetas mais prósperos da região. As famílias dessas pessoas comandaram o globo depois disso, e de todas, a família Rabelo perdurava até os dias atuais, como os governantes de Caramuru. E todos os seus descendentes deviam honrar esse legado.

ImigrantesOnde histórias criam vida. Descubra agora