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Em Shakti, planeta ocupado pela Índia, ainda era noite quando Adriana chegou. O espaçoporto estava vazio, foi fácil pousar, o que a duquesa fez com suavidade.

-- Já peguei a prática, né? – perguntou a Luny, desligando os motores.

-- Lembre-se que, se entrar num templo, deve tirar os sapatos – o robô informou quando desembarcaram.

-- Não sei se o que foi escrito em "A Volta ao Mundo em 80 Dias" ainda vale hoje. Mas se eu entrar num templo, pergunto.

O movimento nas ruas era muito pouco, mas Adriana tinha certeza que aumentaria consideravelmente assim que o sol nascesse. Luny agora flutuava à frente da dona na altura de seu peito, numa estranha tentativa de aparentar uma postura protetora.

Mesmo sabendo que ele não poderia fazer muito se aparecesse alguém perigoso, Adriana nada disse.

Um prédio de formato estranho chamou a atenção da jovem. Pelas vozes altas que vinham de seu interior, entoando o que parecia ser um hino, ficou claro que era um templo. Curiosa, Adriana subiu seus vários degraus e parou junto à porta. Luny chegou mais perto de sua cabeça e falou, a voz em volume baixo:

-- Segundo a SpaceNet, esse é um cântico em sânscrito antigo chamado Guru Gita.

O sol já despontava no horizonte quando o tal Guru Gita acabou e cerca de duzentas pessoas deixaram o templo. Adriana esperou que todos saíssem para entrar, sendo antes barrada por um sacerdote que não falava esperanto, mas se fez entender apontando para seus sapatos.

Era estranho andar descalça naquele lugar tão diferente. Algumas pessoas de roupas tradicionais, sacerdotes possivelmente, limpavam o chão com grossas escovas, enquanto outros acendiam velas em frente a estátuas de divindades, uma das quais chamou a atenção de Adriana.

Uma mulher de quatro braços sentada em uma flor gigante e usando uma coroa bem alta na cabeça. Duas mãos seguravam flores, uma estava vazia e a outra despejava moedas de ouro numa vasilha.

-- Essa é Shakti, a deusa que nomeia nosso planeta – alguém disse em esperanto, e ao olhar para o lado, Adriana viu um homem vestido de sacerdote, de uns 26 anos, se aproximar com uma vassoura na mão e um sorriso tímido – É turista, não é? Dá para saber pela roupa.

-- Pode-se dizer que sim.

-- Mas eu nunca vi um turista chegar tão cedo.

-- É a diferença de hora entre os planetas. Essa deusa deu nome a este aqui?

-- Sim. Shakti, a deusa primordial, criadora de todo o universo, mãe de toda a criação.

-- Meu planeta também tem o nome de um deus – Adriana comentou. O sacerdote assentiu.

-- Não são poucos os planetas que homenagearam antigos deuses dando seus nomes aos planetas. Mesmo a Terra era uma divindade titânica greco-romana.

-- Sério? – isso Adriana não sabia, achava que se chamava assim por ser o solo de origem da raça humana.

-- Sim. Eu estudei a história da Terra, ou pelo menos tanto quanto pude achar. Não era muita coisa.

-- Não existe muita gente que se interesse por lá – Adriana falou inocentemente. Ele estava prestes a responder quando outro sacerdote se aproximou.

-- Kantu! – exclamou irritado – Pare de importunar os visitantes com suas estórias ridículas e volte a trabalhar.

-- Ele não está me incomodando – a duquesa tentou defendê-lo. Kantu começou a varrer freneticamente e o outro se dirigiu a ela.

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