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Ele fitou Adriana de boca aberta, sem acreditar que aquela pessoa de olhos tão envelhecidos era sua velha amiga. Seu rosto denotava que passara por muitas experiências desagradáveis, mas sentada na maca, vestida naquele camisolão branco e com um braço na tipoia, ela parecia mais um pássaro caído com a asa machucada.

-- O que está fazendo aqui? – Adriana indagou surpresa.

-- O seu incidente passou na TV, sabia? Caramuru inteiro viu você levar dois tiros – ela parou na cabeceira da cama.

-- Ah – devia ter sido a equipe de documentaristas. Adriana nem se lembrara deles.

-- O seu pai quase morreu de susto. Quando soube que eu queria vir para cá, me emprestou uma nave.

-- Veio até tão longe só para ver se eu estava bem? Não foram tiros fatais, só precisei de pontos.

-- Não foi só para te ver que eu vim. Queria pedir que você voltasse para casa.

Adriana se sobressaltou.

-- O quê?

-- Seu pai e eu também ficamos muito assustados, vendo você ser baleada e quase morrer, mesmo quando escutamos um discurso seu de que generais só fazem as estratégias.

-- Aquilo foi um impulso meu, não costuma acontecer – ela tentou acalmá-lo, sem resultado.

-- Mas aconteceu. Eu estou com medo, Adriana, queria que você voltasse para casa.

Adriana o encarou feio e ficou de pé.

-- Não, Edu. Estou cansada da sua covardia. Por que não pode me apoiar?

-- Desculpe se não quero te apoiar a morrer.

-- Estou falando de tudo isso – ela abriu o braço bom, indicando todo o espaço ao redor – Estou lutando por uma causa, algo maior que você ou eu. É pelo bem de todos os planetas que temos que cuidar da Terra.

Eduardo apenas a encarava, e respondeu em voz baixa:

-- A causa não vai significar nada se você levar um tiro no peito.

-- Se eu morrer, a luta vai continuar em meu nome, mas se eu largar tudo, que exemplo darei às pessoas? Já está além do nosso controle, não posso simplesmente ir para casa e voltar à mergulhar na praia. Nem se eu quisesse.

-- Pode ao menos considerar o que falei? Estou pedindo como amigo.

Parecia que ele não escutara nada que ela dissera. Isso irritou Adriana mais ainda.

-- Juan também é meu amigo, e ele está aqui comigo, me apoiando e me ajudando a alcançar nosso objetivo – fez uma pausa para respirar e prosseguiu – Edu, nós somos próximos como hermanos, crescemos juntos, mas você nunca saiu do seu cantinho, não tinha coragem para ir além do que você conhecia. Mas o Juan faz isso, e nesse ponto ele é melhor que você.

Essas palavras atingiram Eduardo com força. Ele sempre julgara Juan um filhinho de papai, e agora sua melhor amiga dizia que ele, Eduardo, era um covarde e não melhor que o riquinho.

Talvez Adriana estivesse melhor ali, com Juan. Resignado, perguntou com um fiapo de voz:

-- O que devo dizer ao senhor Antônio?

-- Que eu estou bem e que não precisas se preocupar comigo, logo essa guerra terminará. E quando terminar, voltarei para Caramuru para fazer uma visita, quem sabe também receber uma medalha da imperatriz.

ImigrantesWhere stories live. Discover now