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O jornal das seis de Caramuru começou e a famosa apresentadora Lúcia Lopez começou a falar a notícia principal:

-- Já faz quase um ano que o Projeto Terra começou. A duquesa de Caramuru, Adriana Rabelo, líder do movimento...

A transmissão foi interrompida quando alguém apertou o botão de desligar. Todos os olhares da sala se voltaram para o responsável.

-- Ei, por que fez isso? – Samir reclamou. Adriana largou-se no sofá e olhou para o amigo de olhos semicerrados.

-- Não quero ouvir outra reportagem sobre a gente. E por que se importa, Samir? Você nem fala espanhol ou português.

-- Não, mas a repórter que apresenta esse jornal é bem bonita, não é? – Nyela riu, espiando por cima das cartas de baralho que tinha nas mãos. Samir corou levemente e murmurou algo sobre Lúcia Lopez ter seu charme.

Eles desfrutavam de uma rara noite livre juntos, jogando cartas, comendo pipoca e conversando besteiras. Além dos três, estavam presentes Hope, Kantu, que viera numa espécie de peregrinação religiosa, e uma garota de dezessete anos chamada Alisha.

A última a entrar no grupo, Alisha chegara à Terra dois meses depois dos primeiros refugiados se instalarem. Para Adriana, ela informou:

-- Sou Alisha Nassar, princesa herdeira de Maat. Estou aqui representando o governo de meu planeta em apoio à sua causa.

O que Adriana sabia sobre Maat vinha de livros sobre lendas egípcias e contos como Aladim e As Mil e Uma Noites, e Alisha esclareceu que, enquanto ShakaZulu fora ocupado pelo sul da África, os habitantes de Maat vinham do norte do continente.

Haru não viera ainda, informou que no momento trabalhava para convencer o governo de Umikizu a enviar diplomatas, e iria na primeira oportunidade.

A vida tomara um rumo totalmente inesperado, os dias passavam em meio a reuniões com políticos, gravações de entrevistas, e propagandas que eram rapidamente jogadas na página da campanha na SpaceNet. Com certeza Adriana não imaginara isso quando saiu de Caramuru, se sentia mais parecida com a tia e os primos do que nunca, mas não era ruim, estava fazendo algo por um bem maior.

Quase toda semana chegavam naves de vários planetas diferentes à Terra, trazendo refugiados. Por enquanto somente território do Brasil era ocupado, outros continentes também receberiam pessoas quando a colonização estivesse mais organizada e regulamentada.

Claro que a resistência ainda era muito forte, tanto política quanto popular, mas nada que impedisse a continuidade do projeto, ameaças e protestos povoavam a SpaceNet, mas eram ignorados. Adriana nem ligava mais.

O que realmente vinha incomodando-a era a saudade de casa. A comunicação com Caramuru não era muito boa por causa da distância, mas quando conseguia, conversava por horas com o pai, que não cansava de declarar o quanto seu trabalho o deixava orgulhoso. Juan começava a convencer a mãe que sair do planeta não era um perigo constante, então em breve sairia para fazer companhia à amiga.

Edu parecia mais animado, chegava até a sorrir quando Adriana descrevia o mar, tão parecido com o do planeta natal. Ela também queria que ele visse que ela ainda usava a pulseira de conchas, e a exibia inocentemente apoiando o queixo nas mãos ou levando uma mecha de cabelo atrás da orelha. O rapaz ficava feliz ao ver que a jovem ainda tinha o presente, mas nunca se esquecia de dizer o quanto sentia saudade.

Adriana foi jogar com os amigos para esquecer isso.

*

Na manhã seguinte Adriana ajudou uma família de Shakti a erguer uma cabana que seria seu lar temporário. A IWC fornecia gratuitamente material de construção aos imigrantes, e Hope permanecia ali teoricamente para garantir que tudo chegasse a seu destino.

ImigrantesWhere stories live. Discover now