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Não podia ter hora mais inoportuna, mas não havia nada a fazer, a bolsa se rompera. Alisha trouxe correndo uma maca da enfermaria de sua nave, porque Adriana não aguentaria andar até lá.

-- Luny, isso é culpa sua! – a imperatriz gritou sentindo uma onda de dor.

-- Por que, senhora? – o robô perguntou flutuando nervosamente junto à mestre.

-- Você ficou falando que ia nascer daqui a pouco e aí ele nasce! Por que não ficou quieto?!

-- É só a dor falando – Nyela molhou um pano e passou na testa suada de Adriana, então se dirigiu a todos – Quem não puder ajudar, espere lá fora. Não adianta nada ficar olhando.

Apenas duas pessoas ficaram. Nyela já ajudara no parto de uma tia e Alisha fez um curso de enfermagem, então podiam ajudar.

-- Sabe, Adriana, eu fiquei surpresa quando você contou que estava grávida, porque pelo que você tinha falado, achei que eu teria filhos antes de você – a princesa comentou tentando distraí-la.

-- Reze para não ter, Alisha, eu me sinto um vulcão de dor entrando em erupção! – Adriana exclamou.

Nyela trouxe um kit de primeiros socorros e o deixou aberto junto à maca, pôs algumas toalhas ao lado e debaixo de Adriana e observou o estado da amiga por alguns minutos antes de pedir que empurrasse.

Adriana acharia uma sensação estranha ter tantas pessoas olhando para ela naquela posição se não estivesse sentindo tanta dor. Num momento mais agoniante a imperatriz exclamou:

-- Isso dói pra carajo!

-- Olha a boca suja, Adriana. Você quer que a primeira palavra que seu filho vai ouvir seja um palavrão? – Alisha a repreendeu.

Adriana se controlou para não soltar mais obscenidades. Não, iria mais além, sequer gritaria, não importava o quando doesse.

Foram os minutos mais longos para Adriana, nos quais ela afundou as unhas nas palmas das mãos, feriu o lábio ao mordê-lo e suou mais do que em toda a vida. As palavras de incentivo de Nyela e Alisha passavam quase despercebidas.

-- Continue, Adriana, estou vendo a cabeça dele! – a senadora exclamou.

Quando a imperatriz escutou o choro, estava ofegante, suor cobria cada centímetro de sua pele e lágrimas escorriam em cascata por seu rosto, e a maior parte da dor passara.

-- Adriana – Alisha trouxe o bebê enrolado numa toalha – É uma menina.

Com esforço a mais nova mãe se sentou e recebeu a filha, que do nada parou de chorar e se aninhou em seu colo, tateando com suas mãos diminutas. Adriana ergueu a visão para encarar Haru, Eduardo, Samir, Hope e Kantu espiando na porta.

-- Escutamos o bebê chorar – Samir disse em tom de desculpa – E está chovendo lá fora.

-- Tudo bem, podem vir – os cinco se aproximaram – apresento a nova princesa de Caramuru.

A recém-nascida abriu os olhos e espiou ao redor. Eduardo comentou:

-- Ela tem os olhos do seu pai, Adriana.

Era verdade, suas íris tinham o mesmo tom castanho âmbar de Antônio. Kantu perguntou:

-- Qual vai ser o nome?

Adriana pensou por um momento antes de responder:

-- Flora. A primeira flor a nascer na Terra em quinhentos anos.

-- É também a primeira princesa a nascer no compartimento de carga de uma nave – gracejou Samir. Hope disse:

-- Até que o nome combina. Muitas famílias vieram para cá, mas não nasceu criança nenhuma. Flora é a primeira terráquea em séculos.

A menina começou a chorar de novo. Os homens se afastaram ou desviaram o olhar quando Adriana abriu os botões do vestido para amamenta-la. Alisha olhou lá fora e avisou que parara de chover, e que nem fora grande coisa, só um chuvisco.

Minutos depois Flora se deu por satisfeita e Adriana anunciou:

-- Está certo. Vamos.

-- Vamos para onde? – Samir levantou as sobrancelhas.

-- Achar o Jaguar, é claro – a imperatriz ficou de pé e pediu – Alisha, pode tomar conta de Flora até eu voltar?

-- Mas você não pode ir, acabou de dar à luz – Haru argumentou. Adriana olhou para ele após deixar a bebê com a amiga.

-- Estou bem para andar, não vou ficar aqui esperando, sem saber. Além disso, é um Jaguar, então é pessoal.

A última parte eles não entenderam muito bem, mas a "voz de imperatriz" que Adriana usara não deixava dúvida de que nada a impediria de ir. Apesar de ainda sentir as pernas tremendo, tirou uma injeção de analgésico da mala de primeiros socorros e aplicou em si mesma por garantia.

-- Que resistência ela tem – Haru comentou para Eduardo – Quando minha esposa deu à luz, ficou sem andar por dois dias.

-- Vou pegar umas coisas na minha nave – Hope saiu e voltou minutos depois com armas nas mãos – Não sabemos se o cara está armado, pode ser perigoso.

Ela distribuiu-as entre os amigos, mas Kantu e Samir recusaram, preferindo ajudar Alisha com Flora.

-- Atirarei no meu pé antes de acertar um alvo certo – o político de Canaã se justificou.

-- Fiquem aqui então – Eduardo examinou sua pistola – Mas se notarem algum perigo, vão embora.

-- Não deixaremos vocês aqui... – Kantu começou, mas Nyela o interrompeu:

-- Ele tem razão, tem um bebê aqui. No primeiro sinal de risco, partam. Podemos ir embora em outra nave.

A imperatriz deu um beijo na cabeça de Flora e pegou a arma que Hope estendia para ela.

Adriana, Eduardo, Haru, Nyela e Hope saíram da Concriz.


ImigrantesWhere stories live. Discover now